Diane Tavenner

Diane Tavenner

Por Marília Arantes

“O que aconteceu com a escola pública norte-americana?” Diante do questionamento de um grupo de pais de estudantes do Vale do Silício, na Califórnia (EUA), a educadora Diane Tavenner entendeu que estava na hora de engajar-se no esforço de desenvolver um modelo inovador e replicável para o ensino secundário. Em 2003, nascia, portanto, as Summit Public Schools, hoje um grupo de charters schools (escolas públicas com administração privada) cuja missão é garantir que cada aluno da comunidade não só seja selecionado por uma universidade como também obtenha sucesso nos quatro anos de estudo. O resultado deu tão certo que, hoje, a experiência está entre as 10 mais transformadoras, segundo a revista Newsweek, ocupando a 36a posição entre as 23 mil escolas dos Estados Unidos. Nomeada uma das “Action Heroes” do Centro de Reforma da Educação americana, Diane conversou com Ideia Sustentável durante o Transformar, evento de educação ocorrido em abril, em São Paulo.

Ideia Sustentável – Como se trabalha a questão da sustentabilidade nas Summit Schools? Considera-se a transversalidade do tema ao preparar os alunos para o futuro?

Diane Tavenner – O tema da sustentabilidade está no coração daquilo que nos esforçamos para fazer. Para se pensar e resolver grandes problemas, é preciso fazer perguntas melhores. Queremos que nossos alunos possam aprender ao realizarem coisas. Os currículos escolares tradicionais são velhos e muito ultrapassados. Por exemplo, os de Biologia, Química e Física. Em nossa escola, ensinamos, por exemplo, “Ciências do Meio Ambiente”, porque essa nomenclatura traz todos os recortes científicos. Nossos alunos também realizam grandes projetos sobre as relações entre essas ciências, a política e o governo. Acredito que esse novo modelo de educação é capaz de desenvolver o tipo de cidadãos para o mundo. E, por estarem mais bem preparados, tornarão melhores as nossas sociedades.

IS – Então será preciso que a educação compreenda uma visão mais integral?

DT – Sim, porque os alunos já estão trazendo essas questões. Por exemplo, uma de nossas escolas tem uma horta. Ela foi criada a partir da curiosidade de um aluno sobre como cultivar alimentos e tudo o que envolve a produção de sua própria comida. Nós abraçamos a dúvida que ele trouxe. Portanto, essas respostas – atitudes em relação ao meio ambiente – vêm naturalmente do processo de aprendizado e do que ensinamos no dia a dia.

IS – Você mencionou, na sua palestra, que o modelo industrial de educação ainda em vigência serve mais para formar prisioneiros do que cidadãos para a vida. Como conseguir a grande ruptura dessa antiga “linha de produção” educacional?

DT – O modelo vigente é um modelo industrial, baseado nas fábricas. Nos Estados Unidos, moldamos a indústria automobilística – tivemos a Ford com sua linha de produção. No entanto, vivemos no Vale do Silício e, lá, estamos redefinindo a manufatura. A forma de produção já não é mais a mesma. Porém, a educação continua da mesma forma. Posso dar um exemplo simples: o iPhone. Você pode comprá-lo online, ele chegará em três dias e você poderá escolher a capinha, a cor, muitos detalhes que irão customizá-lo de forma que fique mais parecido com você. Esse é um novo processo de manufatura. E acredito que a educação deva seguir a mesma ideia. Portanto, precisamos fazer uma grande reforma, agora! Embora não se consiga personalizar o ensino para todos, de uma vez só, é possível fazer isso para alguns e ir ganhando uma escala tal que os custos fiquem razoáveis. Nesse sentido, seria interessante olhar para as indústrias de séculos atrás, que tiveram de se reinventar, para tentar entender como elas se transformaram. Na minha opinião, a tecnologia é o grande divisor de águas. Ela vai mudar o jogo porque torna possível ou facilita coisas que antes eram impossíveis. Existe todo um avanço da “ciência smart” por trás do que está sendo lançado de efetivamente criativo. A tecnologia é uma boa ferramenta para apontarmos o que cada pessoa está precisando e trabalhar as soluções.

IS – Qual o maior desafio para se melhorar a capacidade de ensino dos professores?

DT – Honestamente, vencer o medo. As pessoas têm medo de realizar coisas que nunca fizeram. Quando isso acontece, faz-se somente aquilo que já se sabe – não se toma riscos ou tenta-se algo novo. No meu país, atualmente, existe uma pressão muito grande sobre os professores. Fala-se muito que eles não estão fazendo um bom trabalho e por isso as coisas não estão funcionando bem. Então, o nosso desafio é fazer algo de forma diferente: dar chance para a paz e para que os professores possam trabalhar sem medo.

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