Anant Agarwal

Anant Agarwal

Por Marília Arantes

No final do ano passado, a Universidade de Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos, lançaram o edX, uma plataforma de ensino online para oferecer cursos livres e gratuitos a milhares de pessoas simultaneamente em todo o mundo. A primeira iniciativa atraiu nada menos do que 155 mil estudantes de 162 países.

Ao autor do primeiro curso, o professor indiano Anant Agarwal, coube também a tarefa da presidência do edX, cuja principal característica é manter o mesmo rigor e qualidade dos programas presenciais das universidades envolvidas – atualmente, mais de 10, entre as quais UC Berkeley, Georgetown, Wellesley e Texas System.

A relação entre educação virtual e sustentabilidade foi tema da conversa de Agarwal com Ideia Sustentável.

Ideia Sustentável – Como a tecnologia pode ajudar a disseminar a questão da sustentabilidade nos currículos de cursos universitários?

Anant Agarwal – Acredito que a educação online seja realmente revolucionária, no sentido de misturar todo o sistema de uma forma mais eficiente. Anteriormente, cada universidade tinha que fazer de tudo para prover conteúdo aos alunos. Daqui para a frente, se uma escola tiver cursos excelentes em uma área, poderá torná-los acessíveis às outras. E, se não tiver, poderá adquirir cursos, pesquisas e especialidades das demais universidades. É como o comércio internacional, no qual pode-se preencher lacunas pela troca, pelo compartilhamento de conhecimento online. Isso tornará todos mais eficientes no sistema de ensino e no mercado de trabalho. Por exemplo, em muitas regiões da Índia, as pessoas adquiriram telefones celulares antes mesmo da implementação de sistemas de telefonia fixa. Em breve, alguns países poderão “pular” a etapa de construir prédios de universidades e irem diretamente para o ensino online.

IS – Então o senhor acredita que soluções sustentáveis surgirão ao longo desse processo de transformação, tornando o ensino cada vez mais virtual?

AA – Sim. Com a tecnologia online, as soluções sustentáveis aparecerão conforme formos direcionando essas questões. Acredito que, assim, poderemos manter a qualidade do ensino e diminuir bruscamente os custos. Assim, cada campus poderá decidir onde – e em que áreas – ele pretende estar. A tecnologia é uma ótima ferramenta para caminharmos rumo a modelos mais sustentáveis. Eu realmente acredito que devemos parar de construir prédios e ter de nos locomover sempre para assistir aulas nas universidades.

IS – Na sua opinião, cada campus deverá buscar seu próprio progresso por meio da tecnologia?

AA – Sim. Para mim, é responsabilidade de cada instituição cuidar de aprimorar a qualidade de seu ensino. Essa é uma evolução, uma onda imensa que está chegando. Os campi que não souberem aproveitá-la estarão perdendo uma grande oportunidade. Esse processo será similar ao que aconteceu com os jornais: os que tiveram a capacidade de se expandir para a internet mais rapidamente, adaptaram-se melhor. As escolas também precisam mudar a forma de fazer as coisas. Assim, as mais aptas em utilizar a tecnologia ampliarão seu alcance para um número maior de pessoas.

IS – O senhor poderia citar experiências positivas do edX?

AA – O processo está começando, estamos apenas na ponta do iceberg. Em junho, o projeto do MIT se tornará open source: todos poderão utilizar o software. Mas o conteúdo ainda pertence à universidade. Contudo, a Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda, será a primeira a disponibilizar o compartilhamento de conteúdos também. As maiores universidades do mundo já estão estudando como programar esse sistema de ensino online.

IS – Muitos enxergam semelhanças entre o Brasil e a Índia. Qual é a situação educacional da Índia atualmente? Em sua opinião, o que nós brasileiros podemos aprender com o modelo indiano?

AA – O sistema educacional na Índia não está nada bom. Tenta-se melhorar a educação, buscando mais alunos em quantidade, mas também em qualidade. Ainda assim, é muito difícil completar as classes nas universidades. Trata-se de um enorme desafio. Embora a Índia seja competitiva do ponto de vista educacional, e seja difícil ingressar na universidade, nem todos estão aptos para isso. O problema envolve muitas questões: dinheiro, política e mentalidade. Existem boas instituições, mas metade de suas posições não está preenchida. Neste caso, o aprendizado online poderá representar uma solução, assim como no Brasil.

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