Em defesa de um "novo homem"

Em defesa de um "novo homem"

Por Sérgio Rizzo

O xamanismo e as experiências alucinógenas com o uso de ayahuasca podem ser associadas a temas de sustentabilidade, como a busca por matrizes limpas de energia e o desenvolvimento de um novo modelo de organização urbana, menos dispendioso e mais saudável?

Parece difícil, mas o documentário 2012: Ano de Mudança demonstra que há um diálogo possível – tão possível que já se espalha hoje pelo mundo – entre a percepção mística a respeito dos dilemas vividos pela humanidade no século 21 e a abordagem mais racional, preocupada com a urgência em formular soluções de caráter global para evitar que a dilapidação dos recursos naturais torne o planeta insustentável.

Recém-lançado em DVD no Brasil, o filme é dirigido pelo brasileiro João Amorim, filho do diplomata Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores no governo Lula e atual ministro da Defesa, e irmão do também cineasta Vicente Amorim, diretor dos longas-metragens O Caminho das Nuvens (2003), Um Homem Bom (2008) e Corações Sujos (2012). Originalmente, o projeto envolvia uma série de 13 episódios em torno de entrevistas conduzidas pelo jornalista norte-americano Daniel Pinchbeck, autor dos livros Quebrando a Cabeça (2003) e 2012 – O Ano da Profecia Maia (2010). Composto por mais de 100 depoimentos, esse amplo material foi editado por Amorim para circular em forma de documentário, com cerca de 30 entrevistados.

Especializado em animação, Amorim recorre a essa linguagem para abrir o filme, com uma síntese visual de como a civilização maia encarava a passagem do tempo. De acordo com uma profecia (muito difundida e distorcida) nascida dessa compreensão, 2012 representaria o fim de uma geração do homem porque encerraria um calendário maia de 5 mil anos. Em seguida a um período de crise e de colapso do antigo modelo de sociedade, não viria propriamente a destruição, e sim uma transformação: nasceria um “novo homem”, mais ou menos como sugere o final do clássico 2001, uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, a partir de um conceito que pode ser encontrado também na obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.

Animações ilustram diversos outros episódios de 2012: Ano de Mudança, a partir de ideias apresentadas pelos entrevistados de Pinchbeck – um elenco eclético que vai do engenheiro e economista belga Bernard Lietaer (autor do livro O Futuro do Dinheiro) ao músico inglês Sting, passando pelo cineasta norte-americano David Lynch e pelo compositor brasileiro Gilberto Gil. Embora as reflexões e as experiências que relatam sejam muito distintas, o pensamento converge, como se todos formassem um imenso coletivo espalhado por diversos países, para a necessidade de evolução da consciência sobre a vida no planeta.

Naturalmente, aumentaria dessa forma a percepção de que a atual sociedade de consumo está próxima do esgotamento, e de que muito precisa ser feito para evitar o colapso.

Os convidados de 2012 talvez não pareçam falar a mesma língua, mas expressam, de modos distintos, as mesmas preocupações, e também a crença de que as mudanças, mais do que necessárias, serão inevitáveis.

Mais informações: www.2012timeforchange.com

Sérgio Rizzo é jornalista, crítico de cinema e professor

www.sergiorizzo.com.br

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