Por Georg Kell

Na medida em que a Rio+20 se aproxima, o desenvolvimento sustentável torna-se um desafio cada vez mais evidente na agenda do dia. A superação das muitas barreiras sistêmicas existentes – de falhas de governança a obsessões de curto prazo  – exigirá um esforço concentrado de todos. E o potencial dos negócios, se adequadamente canalizado, pode produzir muitas das soluções necessárias para a condução de uma mudança positiva e transformadora.

A boa notícia é que milhares de empresas já incorporam as questões ambientais e sociais em suas agendas. Somente o Pacto Global da ONU soma 7 mil signatários corporativos, em 135 países, os quais têm tomado  medidas para preservar e recuperar o meio ambiente, respeitar e apoiar os direitos humanos, garantir condições de trabalho decentes e uma boa governança corporativa.

As empresas estão se movendo para onde há espaços inovadores e de novas oportunidades.  Por exemplo, mais de 400 corporações integram o programa Caring for Climate, plataforma de ação global que fornece uma estrutura para líderes empresariais avançarem em soluções práticas, articularem estratégias climáticas e ajudarem na implantação de políticas públicas.

Outros participantes concentram-se em temas como escassez de água, por meio do CEO Water Mandate, e energia, no Sustainable Energy for All – iniciativa lançada por Ban Ki-moon para levar acesso universal a serviços energéticos modernos, aumentar o investimento em eficiência e a quantidade de energia gerada a partir de fontes renováveis.

No entanto, apesar dos grandes progressos realizados desde a Rio-92 e do lançamento do Pacto Global, o movimento de sustentabilidade empresarial ainda não chegou ao mainstream. A maioria das empresas simplesmente não está fazendo o suficiente. Menos de 10% das corporações multinacionais participam do Pacto Global e apenas 25% das signatárias consideram ampliar suas práticas de sustentabilidade. Com uma estimativa de 80 mil multinacionais e milhões de pequenas empresas existentes, temos um longo caminho a percorrer.

A Rio+20 representa uma oportunidade única para avançar a agenda da sustentabilidade corporativa à escala global, mas isso exigirá de governos e negócios  uma variedade de ações – da sala da diretoria ao mercado.

No nível da administração, empresas devem reconhecer a importância fundamental de questões socioambientais  para o sucesso no longo prazo. Isso inclui o reforço da capacidade de seus conselhos entenderem e supervisionarem o desempenho em responsabilidade social como um complemento às suas funções na avaliação estratégica de negócios, gestão de riscos e conformidade legal.

Também devem responder a uma nova geração de investidores e outras partes interessadas e reportar publicamente seu desempenho em sustentabilidade. Uma estrutura global para divulgação desses dados alinhada a relatórios financeiros anuais e outros tipos de relato contribuiria para a transparência dos negócios.

Além disso, os governos não podem resolver os desafios mundiais sozinhos. Parcerias público-privadas transformadoras podem ter impactos positivos e duradouros. Pressão responsável e defesa de questões socioambientais devem obter suporte dos níveis mais altos da empresa, pois essas ações muitas vezes entram em conflito com valores pré-estabelecidos e ganham uma abordagem baseada no menor denominador comum em vez de vislumbrarem interesses no longo prazo.

Finalmente, bens e serviços que respondem à crescente demanda por soluções mais sustentáveis ??devem ser encorajados e recompensados. Consumidores e mercados estão prontos para eles, mas as estruturas de incentivo não mantiveram o ritmo alinhado à mudança de valores e preferências. Tenho esperanças que a Rio+20 forneça incentivos para a ascensão rápida da sustentabilidade empresarial e transformação dos mercados. Inovação e colaboração são essenciais para o sucesso da Conferência, assim como o nível de mudança que ela consiga inspirar.

Georg Kell é diretor executivo do Pacto Global das Nações Unidas.