A construção do diálogo

A construção do diálogo

Pesquisa realizada pela consultoria Ideia Sustentável com 50 grandes empresas brasileiras revela que o principal desafio relacionado à elaboração de relatórios de sustentabilidade é sair do estágio de consulta para o de efetivo engajamento das partes interessadas. Baseado em sondagem qualitativa, com 40 questões abertas, o estudo se propôs a levantar informações sobre como os relatórios de sustentabilidade eram produzidos (até 2007), como são feitos hoje (2008/2009) e como serão executados a partir de 2010.
Os gestores entrevistados alegaram que, até 2007, os processos de elaboração de relatórios não envolviam adequadamente os stakeholders de forma estruturada, com canais consistentes de diálogo e metodologias específicas para identificar e recolher os seus pontos de vista. Dezoito executivos ouvidos ressaltaram nenhum envolvimento das partes interessadas. Os 32 demais alegaram envolvimento pequeno, pontual e superficial. Destes, a maioria (21) fez menção à parte interessada mais próxima, isto é, a funcionários e colaboradores.
Na avaliação de 2008-2009, 17 mencionaram a realização de paineis de stakekholders para definir os temas de sustentabilidade mais relevantes para o negócio da empresa, o que atesta, no mínimo, um aumento da preocupação em ouvir mais sistematicamente os públicos impactados pelo negócio. Isso não significa, no entanto, engajamento. Em nossa análise, quer dizer apenas que as companhias estão mais sensíveis ao procedimento certamente por conta do que prega o modelo predominantemente (40 indicações) adotado por elas — o Global Reporting Inititiative (GRI).
Fica claro que, na maioria delas, os paineis costumam ser eventos esporádicos que não compreendem todos os públicos de interesse (às vezes os mais estratégicos, outras os mais operacionalmente simples). O envolvimento se limita quase sempre à avaliação ou à validação dos assuntos do relatório, não à sua estruturação. A maior parte dos entrevistados partilha da opinião de que as corporações ouvem pouco e mal, apenas superficialmente, sem saber ao certo o que fazer com as informações e apenas para cumprir um ritual protocolar. As explicações mais comuns são “falta de hábito” e “falta de tempo.”
As respostas à pergunta “por meio de que canais se dá o envolvimento?” não deixam margens para dúvida sobre a superficialidade das abordagens. A maioria alega preferir os mecanismos de consulta rápida sobre os quais tenham total controle: entrevistas, coleta de depoimentos e testemunhos, consulta telefônica, encontros e pesquisas. São exceções os meios considerados de maior aprofundamento, como workshops com os públicos e encontros sistemáticos de engajamento.
O expressivo número de referências à seleção mais interna de temas também reforça, em boa medida, o modus operandi ainda muito centrado no controle das informações que serão publicadas. Os assuntos são escolhidos basicamente levando em conta o seu alinhamento com as estratégias da empresa (9 menções), a consulta à alta administração (6) e a consulta às áreas internas de planejamento (5).
Na projeção para a partir de 2010, a tendência geral observada é de ampliação no número de públicos envolvidos com expansão nos canais de diálogo e dos meios para capturar a opinião.  Embora as empresas  entrevistadas reconheçam deficiências no que diz respeito ao engajamento, é nítida a orientação de seguir o GRI nesse quesito. A maioria afirma ser este o mais importante desafio dos próximos anos. Um desafio –vale enfatizar – que é, ao mesmo tempo, técnico (como fazer) e cultural (como criar ambiente favorável para fazer).
Para nove entrevistados, a empresa não estabeleceu o melhor método para envolver as partes interessadas. Consideram que não estão preparados para fazer e não se sentem à vontade com os procedimentos hoje utilizados. O formato de paineis foi mencionado como meio mais eficaz por 20 entrevistados. Mas também as formas mais pontuais, com menor nível de aprofundamento, como reuniões (08), pesquisas (06), entrevistas (05) e fóruns (03), foram lembradas.
Duas das razões apontadas pelas empresas que resistem ao engajamento –ou simplesmente racionalizam explicações para não realizar o processo – é que os encontros correm o risco de servir a ‘assembleísmo inútil’ ou de resultar em opiniões completamente desalinhadas com a estratégia da empresa, podendo ser objeto de censura da alta direção.
Merece destaque ainda a consideração feita por um dos entrevistados—que nos pareceu, além de atual, oportuna — sobre a mudança no conceito de stakeholder. Para a grande maioria dos entrevistados, a ideia de lidar com “grupos específicos de públicos de interesse” facilita a organização dos canais e fluxos de escuta ativa.
Na direção oposta, este entrevistado contestou a definição, sob o argumento de que os públicos já não podem ser tão bem classificados e que a empresa deve aprender a se comunicar “com toda a sociedade”. Em um mundo cada vez mais interconectado, caracterizado por redes sociais muito ativas, os stakeholders estão em todos os lugares e já não podem caber em definições muito fechadas e esquemáticas. Na prática, o que se percebe é que as empresas ainda estão se adaptando a esses tempos de maior transparência.
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