A lição deixada por Prahalad

A lição deixada por Prahalad

Faleceu, na última sexta-feira (16/04), aos 68 anos, o pensador indiano Coimbatore Krishnarao Prahalad, mais conhecido como C. K. Prahalad.  Festejado guru do management, professor da Universidade de Michigan, suas ideias inovadoras influenciaram o mundo dos negócios em livros que viraram leitura de cabeceira dos gestores antenados, como Competindo para o Futuro (com Gary Hamel) e O Futuro da Competição (com Venkat Ramaswamy). Em seu currículo, consta um reluzente prêmio McKinsey conferido pelo melhor artigo da década na Harvard Business Review –uma honraria equivalente ao Oscar ou ao Nobel para intelectuais que se propõem a discutir gestão.
Sempre interessado no futuro dos negócios, e na teia de variáveis relacionadas ao assunto, Prahalad escreveu obra que considero sua mais importante contribuição, A Riqueza na Base da Pirâmide, na qual apresenta reflexões sobre empresas que obtêm lucro ao vender para os mais pobres. Sem nunca ter se desligado de suas origens – nasceu na pobre Chennai, na Índia – ele defendia, com argumentos sólidos, a ideia de que estratégias de negócios podem, quando bem implementadas, eliminar a miséria. Nisso, sempre foi voz solitária entre os gurus da Administração. Mas a sua respeitabilidade e prestígio pessoal transformaram um ponto de vista estranho ao business as usual – e aos pensadores convencionais – em fonte de inspiração para os que disseminam a Responsabilidade Social Empresarial (RES). Ele fez questão de chamar a atenção para o “S” na RSE.
Frequentador assíduo das páginas da famosa Harvard Business Review, Prahalad vinha se debruçando com mais regularidade sobre a sustentabilidade nos negócios. Com os colegas Nidumolu Ram (CEO da InnovaStrat) e MR Rangswami (diretor do Eco Corporate Forum), redigiu artigo em setembro de 2009 relacionando, com o brilho habitual, o tema com a inovação. “Os executivos de empresas vivem divididos entre escolher os benefícios sociais do desenvolvimento de produtos e processos sustentáveis e os custos financeiros de fazer isso”, anotou, reforçando  o que ele considerava uma “falsa” visão dicotômica centrada na mentalidade do “ou/ou”, como se não fosse possível ser rentável e sustentável ao mesmo tempo.  “Nossos estudos com iniciativas de 30 grandes empresas apontam que a sustentabilidade representa um filão de inovações organizacionais e tecnológicas. Ao incorporar o respeito ao meio ambiente no negócio, a empresa reduz os insumos e, portanto, os custos. Além disso, um processo mais ambientalmente responsável gera receitas adicionais a partir de produtos melhores, permitindo criar novos negócios. Empresas inteligentes estão tratando a sustentabilidade como uma nova fronteira da inovação”, afirmou.
Com a clareza de um pensador íntegro e provocativo, o indiano deixa claro em seu texto que a sustentabilidade está começando a transformar o cenário competitivo. E que, portanto, forçará as empresas a mudarem seu modo de pensar e agir em relação a produtos, tecnologias, processos e modelos. “Ao tratar o tema como um objetivo, as empresas que largarem à frente desenvolverão competências e pressionarão seus concorrentes a também fazerem o mesmo. A vantagem competitiva estará no lugar certo. A sustentabilidade será vista, cada vez mais, como elemento de qualquer visão de desenvolvimento”, explicou um sábio Prahalad.
O caminho, no entanto, se impõe tortuoso. E a missão de percorrê-lo enfrenta ainda, como agravante, o fator crítico do tempo “que está passando. “Segundo o estudo de Prahalad, as empresas passam por cinco etapas com desafios específicos e adaptações nem sempre simples e rápidas. A primeira tem a ver com a identificação de uma oportunidade. A segunda diz respeito a tornar as cadeias de valor sustentáveis. A terceira refere-se a projetar produtos e serviços sustentáveis e a quarta a conceber novos modelos de negócio. A quinta corresponde a criar o que ele chama de “plataformas de próximas práticas”, capazes de quebrar paradigmas e dar um passo além do óbvio. “Para desenvolver inovações relacionadas a novas práticas, os gestores devem questionar as suposições implícitas nas atuais. Esse comportamento foi o que nos levou à economia industrial e aos serviços de hoje”, diz. Para ilustrar sua opinião, Prahalad lembra que as empresas criaram carros, aviões e submarinos ao se perguntar se poderíamos ter transportes sem cavalos, voar como pássaros ou mergulhar como baleias. “Devemos nos fazer perguntas relacionadas com nossos recursos escassos: podemos desenvolver detergentes sem água? Produzir arroz sem água? As embalagens biodegradáveis podem ajudar a semear árvores?”
O que Prahlad propôs, em resumo, é que sustentabilidade é inovação. E que não se inova sem romper com as amarras do passado, substituindo o modelo mental baseado na ideia da infinitude dos recursos, bem típica da era industrial, por outro que, aceitando os seus limites, incita o gênio humano a criar o futuro com as informações e os valores do futuro.
Prahalad, sem dúvida, vai fazer falta. Felizmente, suas ideias estão aí, muito vivas, registradas em suas obras, e prontas para germinar na mão de líderes de empresas líderes.

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