Empresas e desenvolvimento no Brasil

Empresas e desenvolvimento no Brasil

As empresas e o desafio do desenvolvimento no Brasil
Por Rafael Gioielli

A divulgação, há alguns dias, do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) colocou em evidência a acentuada desigualdade entre os municípios brasileiros, mesmo com a louvável rapidez dos avanços sociais das últimas décadas.

Enquanto algumas cidades apresentam índices típicos de países altamente desenvolvidos, outras permanecem com níveis intoleráveis de (sub)desenvolvimento humano. A diferença dos números é gritante. São Caetano do Sul, em São Paulo, possui um índice de 0,862, o melhor do país. Já Melgaço, no Pará, registra menos da metade, apenas 0,418, o pior resultado dentre os mais de cinco mil municípios brasileiros.

Desagregando os dados por localidade, percebemos o tamanho do problema que temos pela frente: 25,2% das cidades brasileiras ainda possuem IDH “baixo” ou “muito baixo”. A maioria delas está nas regiões Norte e Nordeste ou em zonas rurais de estados do Sul e Sudeste.

Mesmo com os avanços registrados, ainda temos um enorme desafio para a próxima década: reduzir as desigualdades entre os municípios. E isso sem perder o ritmo de evolução. Mas não podemos nos iludir. Dar capilaridade ao desenvolvimento humano em um país de dimensões continentais como o Brasil não é algo trivial.

É um esforço grandioso que não pode ser visto apenas como responsabilidade dos governos. A boa notícia é que as empresas já parecem estar descobrindo que podem contribuir nesse processo. Segundo dados coletados pelo GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), no Censo 2011/2012, o “desenvolvimento local” está ganhando importância cada vez maior na agenda dos investidores sociais privados. O número de organizações de origem empresarial que investem com esse olhar cresceu de 45%, em 2009, para 55%, em 2011.

Seja para ampliar o impacto de seus investimentos, seja para responder a desafios de relacionamento do próprio negócio ou, ainda, pela junção das duas razões, as empresas, seus institutos ou fundações estão percebendo que contribuir com a transformação social em territórios específicos pode gerar resultados mais efetivos aos seus esforços.

A profissionalização do investimento social privado ampliou o compromisso do setor com o impacto em indicadores sociais oficiais, o que tem exigido também uma maior conexão com os esforços empreitados por outros atores, como governos, agências de desenvolvimento ou ONGs. Mais do que influenciar, as empresas estão percebendo a importância de fortalecer e complementar a atuação de outros setores e é, nesse contexto, que o “local” ganha ainda mais destaque, sendo o palco privilegiado de convergência e cooperação entre os diversos atores sociais.

Os dados, debatidos em um evento com a participação do especialista canadense Ian Thomson, mostram que a redução das desigualdades no Brasil tem o setor privado como um forte aliado. Mas a força não vem apenas dos R$ 2,35 bilhões em investimentos que, segundo o Censo realizado, foram movimentados em 2012 pelo grupo de organizações que compõem o GIFE. Além de recursos financeiros, as empresas podem contribuir com seus recursos humanos, sua capacidade de gestão, suas tecnologias e, obviamente, com sua capilaridade geográfica.

Mas, afinal, o que o setor privado ganha com isso? Muito. As empresas, assim como as pessoas e qualquer organização, habitam sempre um lugar que é específico. E é nesse “local” real, que insiste sempre em se revelar por trás das médias nacionais, que criam suas relações, produzem, convivem, promovem e gerenciam seus impactos, sejam eles negativos ou positivos. Fazer parte de um “local” efetivamente mais desenvolvido não é apenas mais agradável. É a certeza de contar com um ambiente mais propício ao desenvolvimento dos próprios negócios. Afinal, como já disseram, “não existe empresa rica em uma comunidade pobre”.

Rafael Gioielli é gerente geral do Instituto Votorantim.

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