Cinema Social – Pela erradicação dos sem-sala

Cinema Social – Pela erradicação dos sem-sala

Quem considera que o ritual de ir ao cinema deve figurar entre os hábitos culturais de todos os cidadãos, independentemente de onde morem, precisa torcer para que o novo governo federal não venha a desmontar uma das boas iniciativas da atual gestão nessa área, o programa Cine Mais Cultura. Seu objetivo: levar salas de cinema a cidades que não dispõem delas, e fomentar, por meio de sessões gratuitas, o acesso à produção nacional.
Até o final de 2010, o Ministério da Cultura estima que, graças a investimentos diretos do programa, serão abertas 51 novas salas no Rio de Janeiro e outras 15 em Alagoas, entre outros Estados. Com essa expansão do circuito, entram novamente na malha cidades que haviam perdido suas salas de cinema, ou que nunca tiveram uma, ou que têm apenas espaços com programação de qualidade duvidosa.
Desde que o cinema surgiu como diversão de massas, no final do século 19, um tripé o sustenta como negócio. As áreas de produção, distribuição e exibição agem de maneira integrada para abastecer o mercado. Como em qualquer outro setor da economia, a engrenagem só funciona se os agentes encarregados por cada uma dessas etapas considerarem que seus interesses estão contemplados.
Produtores fazem filmes e querem que haja público para eles. Distribuidores cuidam da chegada dessas obras ao mercado e desejam que conquistem ampla visibilidade. Exibidores mantêm as salas onde os espectadores podem vê-las e aguardam que filas sejam formadas nas bilheterias. O público apareceu? Então, divide-se o valor do ingresso em três partes (não exatamente iguais) e a roda continua a girar.
Impactada pelos avanços tecnológicos das últimas duas décadas, a indústria do audiovisual já trabalha com um cenário em que os distribuidores talvez desapareçam ou tenham reduzido sua importância, ao menos em alguns casos. De acordo com essa hipótese, produtores manteriam seus filmes disponíveis em banco de dados digital à disposição dos exibidores, que acionariam essa base a distância para programar uma sessão.
Hoje, o sistema já opera sem o transporte físico do filme – uma das funções tradicionais dos distribuidores – em salas de exibição digital. Cabe lembrar, no entanto, que a distribuição envolve também, entre outros aspectos, todo o plano de lançamento, o que inclui campanha publicitária e agendamento das salas com os exibidores. São tarefas indispensáveis.
Logo, o desaparecimento da figura do distribuidor não eliminará a necessidade de alguém executar uma parcela do seu trabalho. Se o produtor incorporá-la, teremos apenas, como ainda ocorre com os grandes estúdios de Hollywood, um acúmulo de papéis em uma das pontas do negócio. Como sistema, o tripé continuará intacto.
No Brasil, o mercado sofreu baque violento – do qual ainda se recupera – quando o setor de exibição foi drasticamente reduzido. Em 1976, havia 3.161 salas no País; em 1993, eram apenas 1.250 (e com número médio de poltronas muito inferior ao das antigas). Dados de 2009 apontam para 2.110 salas, distribuídas por apenas 377 municípios.
Média: cerca de 86 mil habitantes por sala, deixando o Brasil na 60ª  posição do ranking internacional. Nos EUA, a média é de 7.872; na Espanha, 10.441; no México, 27.617; na Argentina, 42.683. Diante do tamanho do drama vivido pelos sem-sala no País, o estratégico Cine Mais Cultura não pode ser abandonado.
*Sérgio Rizzo é jornalista e professor. E-mail: [email protected]

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