Cinema Social – Resposta a Gore? Chamem Lomborg

Cinema Social – Resposta a Gore? Chamem Lomborg

 
Até então um diretor de carreira discreta forjada majoritariamente em séries de TV, o norte-americano Davis Guggenheim experimentou um salto em prestígio, nos círculos cinematográficos e também nos ambientais, há cerca de quatro anos. Com “Uma Verdade Inconveniente” (1996), ele recebeu o Oscar de melhor documentário – o filme ganhou também outro prêmio da Academia, de melhor canção – e contribuiu para incrementar o debate sobre o aquecimento do planeta, ampliando o palanque de seu protagonista, o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.
Entre as diversas outras láureas internacionais obtidas por “Uma Verdade Inconveniente”, figuram os prêmios de melhor documentário do ano segundo as principais associações nacionais de críticos dos EUA e o prêmio do público na Mostra Internacional de São Paulo. Estima-se que a bilheteria do filme em todo o mundo tenha se aproximado de US$ 50 milhões, cifra muito expressiva para um documentário. A experiência positiva levou Guggenheim a se manter no terreno do cinema de intervenção social: seu mais recente trabalho, “Waiting for Superman”, vencedor do prêmio do público no Sundance Festival deste ano, investiga as razões do fracasso do ensino público norte-americano.
A parceria com Al Gore pode ser apenas uma ótima lembrança na vida de Guggenheim, já relegada ao baú de recortes, mas continua bem viva para o diretor Ondi Timoner e para os produtores Terry Botwick e Ralph Winter. O trio está envolvido na produção do documentário “Cool It”, que planeja concluir até setembro para que possa fazer sua estreia internacional no Festival de Toronto. Concebido como uma resposta a “Uma Verdade Inconveniente”, o filme adota como referência as ideias do cientista político e escritor dinamarquês Bjorn Lomborg, que ocupa espectro conservador no campo ambientalista.
Em entrevista ao jornal “The New York Times”, Timoner – já experiente em filmes de engajamento político – afirmou que o longa de Gugenheim gerou, na sua avaliação, “certa dose de histeria que não é realista”. Além de oferecer leitura mais “moderada” do cenário climático, seu projeto teria o objetivo de fazer um apelo a soluções práticas. Imagina-se que Winter tenha motivos ideológicos para produzir “Cool It”: associado a iniciativas cristãs, ele tem no currículo filmes de caráter religioso. Mas é também um dos produtores da milionária franquia “X-Men”, entre outros longas-metragens de grande orçamento. Botwick, seu parceiro no projeto que divulgará as ideias de Lomborg, é um bem-sucedido executivo de TV, com uma longa passagem pelo Family Channel.
Já se ultrapassou, portanto, o estágio em que filmes sobre questões ambientais eram resultado do engajamento pessoal de seus realizadores, produzidos de maneira independente para circular à margem do mercado audiovisual. Executivos de Hollywood passaram a enxergar viabilidade comercial nesse nicho. Se isso é boa ou má notícia, dependerá do desdobramento do fenômeno nos próximos anos – e, claro, do lugar ocupado por quem observa o debate.
Sérgio Rizzo é jornalista e professor universitário. E-mail: [email protected]

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