Copenhague: a campanha eleitoral já começou

Copenhague: a campanha eleitoral já começou

A rigor, a campanha para a presidência da Republica só começa oficialmente no ano que vem. Mas na COP 15, a Conferência do Clima que acontece em Copenhague, a corrida para o cargo está em pleno vapor.  A ministra Dilma Roussef, candidata do PT, chefia a delegação brasileira, uma das mais numerosas do evento. O governador José Serra, provável candidato do PSDB, apresentou ontem, em seminário concorrido, o programa de corte de emissões de CO2 do governo do Estado de São Paulo. E a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, provável candidata do PV, fez palestras, participou de encontros fechados e distribuiu sorrisos e abraços nos corredores do gigantesco espaço de convenções da capital dinamarquesa.
Claro que sobre tais participações seus assessores imediatos afirmarão tratar-se, com razão, de compromissos de agenda política e, portanto, atividades do protocolo profissional. Afinal, Dilma é uma alta executiva do governo federal, Serra recebeu o convite das Nações Unidas para falar dos compromissos de descarbonizacão assumidos recentemente pelo mais rico Estado brasileiro e Marina, histórica liderança ambiental, reconhecida mundialmente por sua militância, não poderia deixar de estar em um encontro global que aborda o tema de sua especialidade.
O fato é que, políticos que são, eles estão em plena campanha, digam ou não. E isso ficou muito claro nas estratégias armadas por seus assessores, nos palcos que escolheram para desfilar compromissos (velhos e recentes) relacionados ao tema e nas declarações com endereço certeiro. Para começo de conversa, suas participações estão sendo devidamente registradas, o que permite supor –claro- que, editadas mais tarde, servirão como mote para alguns programas de TV do horário eleitoral gratuito. A despeito de o tema da sustentabilidade aparecer como menos importante do que outros em recentes pesquisas de opinião pública –as que justamente costumam orientar os formuladores de campanhas eleitorais – ninguém duvida de que ele tem mais relevância hoje do que, por exemplo, na campanha presidencial passada. A questão ambiental entrou na agenda publica. E está interessando cada vez mais o cidadão comum.
Em Copenhague, discute-se hoje o futuro das próximas gerações que vão viver no Planeta. E os brasileiros, ao que indicam pesquisas recentes, estão mais atentos, sensíveis e preocupados com este assunto. Logo, apesar de geograficamente distante, a COP15 representa, de partida, um palco interessante para desfiar um rosário de boas intenções, exercitar prestígio de liderança em tema global, demonstrar compromissos socialmente valorizados e exibir feitos políticos que, de alguma forma, vão impactar as condições de vida dos brasileiros hoje e amanhã. Natural, portanto, que os principais candidatos levem suas ideias para holofotes locais.
Observando a performance de cada um dos postulantes, seria arriscado afirmar quem ganhou mais votos a partir de Copenhague. Nesse território ambiental, até pela afinidade existencial com o tema, Marina Silva se sente muito à vontade. Além de saber o que diz, tem a simpatia das ONGs, conversa fácil com os formadores de opinião e conta com o respeito de empresários engajados  e até de políticos considerados adversários. Prova disso foi a cena presenciada no aeroporto de Lisboa, a caminho de Copenhague: ao saber que a senadora estava na fila, Carlos Minc, o ministro de Meio Ambiente, retrocedeu alguns passos para cumprimentá-la. Em São Paulo, Lisboa e Copenhague, Marina foi várias vezes interpelada por gente querendo simplesmente abraçá-la ou dirigir-lhe palavras de apoio.
Nos eventos fechados, ela teve o desempenho seguro que dela normalmente se espera: entre outras coisas, defendeu posições firmes, como, por exemplo, a de que o Brasil, mais do que se candidatar a receber, deve na verdade contribuir com dinheiro para um fundo global de apoio à adaptação dos países mais pobres para as mudanças climáticas. E até sugeriu um valor para o donativo: U$ 1 bilhão. Dilma manifestou-se contra a tese. Serra concordou com a ideia e também com o valor. Enfim, franco debate eleitoral travado em português num evento cuja língua oficial é o inglês.
O governador, aliás, cumpriu bem o seu papel em terras dinamarquesas. Convidado para um seminário de governos sub-nacionais, no qual dividiu o palco com o cinematográfico governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, um discreto Serra apresentou em inglês a política de 20% de cortes de emissões do Estado de São Paulo ate 2020, abordou os desafios de sustentabilidade de um dos estados mais populosos do planeta, apregoou inovação verde e mostrou a desenvoltura de um aluno estudioso do tema. A julgar pelos aplausos ao final de uma fala de 20 minutos, ele passou na prova com boa nota. Na verdade, ganhou mesmo o dia ao receber elogio rasgado de Schwarzenegger, seu sucessor no palco.
Esta é uma passagem que certamente figurará em programa de horário eleitoral gratuito.
Já Dilma enfrentou alguns problemas. A COP 15 não acabou ainda. E pode até ser que a delegação brasileira, chefiada por ela, venha a ter um papel decisivo na costura de um acordo técnico-político para o clima, à altura de algumas altas expectativas geradas em torno do Brasil. No entanto, a candidata do presidente Lula tem sido mais lembrada nas conversas paralelas por duas facetas não exatamente abonadoras: despreparo técnico para o tema e uma certa irritação com o debate publico de ideias –talvez por não se sentir tecnicamente à vontade, talvez por achar que poderia estar cuidando de outros assuntos no Brasil. Ainda ecoa por aqui nas rodas de brasileiros a gafe cometida em uma de suas apresentações quando disse que o meio ambiente atrapalha o desenvolvimento sustentável. Quem não estava na sala chegou a duvidar da afirmação. Precisou circular um vídeo para convencer os mais renitentes.
Serra, Marina e Dilma só concordaram no otimismo quanto ao que sairá de Copenhague. E também na realização prática do ideal sugerido pelo primeiro ministro da Dinamarca, Lars Rasmussen, agora presidente da COP 15, afirmou: “Copenhague é o melhor lugar para estar, o melhor lugar para agir.”

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