Diesel, de novo.

Diesel, de novo.

Na contramão da história
Há dias em que me ufano  das recentes conquistas do País. E não me refiro às do futebol, mas às socioambientais, como, por exemplo, o controle momentâneo (aguardemos as próximas medições!) do desflorestamento da Amazônia.
Há dias em que a fé na tão propalada vocação para País do futuro sofre abalos sísmicos, em grande medida por causa de decisões equivocadas que nos colocam invariavelmente na contramão da história.
Hoje é um desses dias.
Tiver que ler duas vezes para acreditar em notícia publicada na Folha de São Paulo (Caderno C1- Cotidiano, 11/09/2009). O Ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, afirmou que o governo estuda liberar o uso de diesel para automóveis de passeios, revogando uma lei dos anos 1970, que restringe o uso desse tipo de combustível para caminhões, caminhonetes e veículos comerciais.
Será um tiro no pé. Bem dado.
Exatamente como foi o plano decenal de energia, que abriu as portas para a construção de usinas termoelétricas movidas a carvão, sujando a matriz energética brasileira, considerada uma das mais limpas do planeta.
O diesel, como se sabe, emite mais gás carbônico do que o álcool e, portanto, contribui mais para o aquecimento global.
Sobre ele, vale lembrar ainda –até porque a memória no Brasil costuma ter o tamanho de uma mini-saia—que foi objeto de recente polêmica envolvendo a Petrobras por conter uma quantidade de enxofre muito acima dos níveis europeus – aqui 1.800 partes por milhão, lá 10 partes por milhão.
Também não é demais lembrar que, há cerca de dois anos, o presidente Lula perambulou pela Europa apregoando os benefícios do etanol brasileiro para países comprometidos, com metas definidas no âmbito do Protocolo de Kyoto, a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
No papel de vendedor do produto nacional, destacou suas inegáveis qualidades ambientais.
Esse tipo de incoerência entre o que se diz e o que se faz costuma provocar estragos na credibilidade, principalmente quando tratamos com interlocutores historicamente acostumados a não levar tão a sério o discurso de líderes da América Latina.
Recentemente, o Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente) criou norma que limita em 30% (a partir de 2013) a emissão de poluentes nos automóveis  a diesel.
Qualquer ganho de saúde que advenha dessa justa medida corre o risco de ser jogado no lixo se houver, de fato, com a proposta em estudo do governo, um aumento da frota de carros a diesel nas ruas brasileiras.
Mais carros a diesel circulando nas cidades significa manter ou aumentar os atuais níveis, já muito preocupantes,  de mortes (20 por dia na Grande São Paulo) por causa de poluição.
Vale a pena?
O que ganha com isso a política energética brasileira considerando, por exemplo, que o País não é autossuficiente na produção de diesel e que o preço do seu litro, na bomba do posto, só é mais barato do que álcool e gasolina, porque, hoje, ele conta com incentivos fiscais decorrentes  do seu uso em transporte coletivo?
Em sua defesa, o governo alega que só tomará a decisão de liberar o uso do diesel para carros comuns quando tiver certeza de que ele está mais limpo de enxofre.
Para o bem do planeta, para estar alinhado com as expectativas das sociedades mais evoluídas do mundo e para pegar a mão certa da história, não seria melhor pular o diesel e ir direto para o capítulo biodiesel?
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Esta é do Delfim Neto, deu na coluna de Claudia Safatle, do Valor Econômico. Sobre a euforia desenvolvimentista do pré-sal, ele foi brilhante como sempre:
“Corremos o risco de ficar no século XX. A proposta é um bate-caixa político que ignora o fato de que o mundo vai mudar radicalmente. O Obama tem um único objetivo por trás de tudo: reconquistar a autonomia energética dos EUA. Eles vão fazer uma nova revolução industrial com novas fontes de energia. Alguém disse que a Idade da Pedra não acabou por falta de pedra. A idade do Petróleo também não vai acabar por falta de petróleo.”
O Obama é o cara!

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