Lorrie Vogel – Parte 2

Lorrie Vogel – Parte 2

Por Juliana Lopes
IS: Que tendências relacionadas à sustentabilidade no médio e longo prazos estão no radar da Nike?
LV: A principal tendência para a Nike realmente é avançar para produtos de ciclo fechado. E, para superar as principais barreiras nesse processo, apostamos na inovação em materiais com o intuito de proporcionar o design de produtos cada vez melhores. Como não desenvolvemos nossos materiais sozinhos, estimulamos nossos fornecedores a refletir sobre o tema a partir de discussões em que trazemos cientistas para falar sobre questões como quais serão as matérias-primas futuras da Nike ou de que forma criaremos produtos com menor impacto para o meio ambiente.
IS: Quais são hoje os principais canais de engajamento da Nike com os seus stakeholders?
LV: Não podemos fazer todas essas mudanças sozinhos, por isso o engajamento é essencial. Trabalhamos ativamente com ONGs, como Natural Step e Organic Exchange, e universidades. Também atuamos em colaboração com outras indústrias. A linha considered é um bom exemplo. Chamamos pessoas da nossa indústria para conhecer o que desenvolvemos. Também convidamos as Organizações Não Governamentais para avaliar nossos produtos e assim avançamos. Veja que não é apenas a visão da Nike, estamos sempre buscando formas de aprimorá-la a partir de inputs externos.
IS: Como a Nike vê o advento das redes sociais na internet? A empresa percebe nessas ferramentas canais de comunicação alternativos com seus stakeholders?
LV: Um dos aspectos mais interessantes das redes sociais é que elas deixam claro o que é real e o que não é. Assim, as pessoas podem distinguir quem apenas faz greenwashing e quais as empresas que realmente querem ir além. Elas oferecem informação rápida, permitindo que as pessoas façam melhores escolhas. Diante disso, a Nike tem a responsabilidade de ser o mais transparente possível para que os consumidores possam tomar a decisão certa.
IS: Como a Nike está reportando a sua performance? Quais são os maiores desafios para integrar o relato dos resultados econômicos, sociais e ambientais?
LV: Publicamos o nosso relatório segundo as diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI). Não vemos a responsabilidade social como algo fora do negócio. Por isso, nossos esforços se voltam à integração da sustentabilidade à estratégia. O simples fato de termos mudado o nome da nossa área de Responsabilidade Corporativa para Negócios Sustentáveis e Inovação já mostra que realmente nos vemos como uma fonte de inovação e crescimento. Somos parte da estratégia e mensuramos todos os nossos resultados.
IS: Quais são os maiores desafios para construir uma cultura organizacional baseada na transparência?
LV: Passamos por um momento significativo quando lançamos o GreenXchange (GX), uma plataforma web desenvolvida para compartilhar propriedade intelectual capaz de fomentar modelos de negócios sustentáveis e inovação. Trata-se de um exemplo de desafio em um mundo transparente, pois não é simples para uma companhia abrir mão de suas patentes. Fizemos o seguinte questionamento: é mais interessante proteger uma ideia até que ela seja desenvolvida inteiramente na companhia ou compartilhá-la, aumentando as possibilidades de inovação a partir de novos pontos de vista? Como nosso principal objetivo é a inovação, optamos pelo segundo caminho. Mas essa não é uma decisão fácil.
IS: No último semestre assistimos a uma das maiores tragédias ambientais causadas pelo derramamento de óleo da plataforma da British Petroleum no Golfo do México. Você acredita que esse acidente pode se tornar um divisor de águas na gestão ambiental para as empresas, assim como o escândalo da Nike foi para a responsabilidade social corporativa?
LV: Todo evento trágico abre os olhos das pessoas para o que está errado e tem um caráter educativo. Se olharmos para o que aconteceu conosco em 1996, o aprendizado deixado é que devemos compreender e lidar com os impactos do que fazemos. Aquele foi o momento para reavaliarmos a forma como produzíamos e estávamos engajados com nossos stakeholders. Aprendemos coisas nesse processo que não descobriríamos sozinhos. Agora, não estamos mais focados em compliance, mas em uma visão do que queremos ser no futuro.
Uma década de conquistas
– Em agosto de 1999, a Nike iniciou um processo de eliminação progressiva do cloreto de polivinila, ou PVC, de seus produtos. Essa mudança tem exigido uma intensa cooperação com toda a cadeia de suprimentos, uma vez que o composto pode representar até 30% de um calçado.
– A Nike também vem incorporando algodão orgânico em suas camisetas e produtos de malha, desde a década de 1990. A produção de algodão convencional utiliza mais produtos químicos por unidade do que qualquer outra cultura, e representa um total de 16% do consumo de pesticidas em todo o mundo. A fim de reduzir a sua contribuição para o acúmulo progressivo de produtos químicos na sociedade, a Nike se comprometeu a aumentar a quantidade de algodão orgânico em todas as suas roupas em pelo menos 5% até 2011.
– A fabricante reduziu 95% do uso de solventes, entre 1995 e 2003, utilizando produtos à base de água. O programa de redução de químicos perigosos tem contribuído para condições de trabalho mais seguras, redução do impacto ambiental e economia de custos substanciais para as fábricas da Nike. Por conta dessas medidas, a economia de custo de matéria-prima somou cerca de US$ 4,5 milhões, em 2003, sem contar o que foi poupado em termos de trabalho, armazenamento e transporte.
– O programa Nike Reuse-A-Shoe tritura tênis usados e utiliza esse material reciclado em superfícies de quadras de basquete, pistas de atletismo, campos de futebol artificial, proteção contra quedas em playgrounds e outros produtos reciclados. Desde a sua criação, em 1990, o programa tem conseguido manter mais de 21 milhões de sapatos defeituosos fora dos aterros.
– Além de todas as embalagens dos calçados da Nike serem 100% produzidas com material reciclado do pós-consumo, em 2008, as caixas foram redesenhadas, o que permitiu uma redução de 3% no seu tamanho e uma economia estimada de US$ 6 milhões.
Fonte: A Natural Step Case Study – NIKE (Um Estudo de Caso da ONG Natural Step – Nike)

Além da tradição do seu futebol, os brasileiro têm mais um motivo honrar a amarelinha: cada camisa da última edição da Copa foi produzida com  oito garrafas pet. Quando comparado à fabricação tradicional, com base em poliéster virgem, o método da reciclagem de garrafas reduz o consumo de energia em 30%. Assim, a Nike evitou que cerca de 13 milhões de garrafas plásticas, ou um total de 254 toneladas de resíduos de poliéster, fossem despejadas em aterros sanitários ou lixões.Essa quantidade seria suficiente para cobrir mais de 29 campos de futebol. Se cada garrafa reciclada utilizada para fazer as camisas fosse colocada em linha reta, elas cobririam cerca de três mil quilômetros – mais do que toda a costa da África do Sul.

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