Paul Simpson – Parte II

Paul Simpson – Parte II

I.S: O inventário de emissões pode funcionar como uma ferramenta para desenhar novos modelos de negócios?
P.S: Empresas que não se preocupam com as emissões não estão focadas em seu consumo de energia. Todos sabemos que os preços da energia seguem em ascensão. Se a organização conhece suas emissões e o seu gasto de energia, consegue identificar e eliminar ineficiências, reduzindo custos. Embora sejam medidas básicas, muitas empresas ainda não as tomaram. Há também uma grande oportunidade no campo da eficiência energética, que muitas vezes reduz em um terço as emissões da empresa e o equivalente em custos. Ao entender o processo de produção e como são geradas as maiores emissões, é mais fácil decidir onde focar novas atividades. Um exemplo disso é o Wal-Mart. Quando os seus executivos procuraram o CDP pela primeira vez, achavam que a maior parte das emissões da empresa fosse proveniente de sua frota de caminhões, a maior dos Estados Unidos. Após realizarmos a mensuração, descobrimos que o maior volume advinha de seus refrigeradores, o que facilitou na tomada de decisão.
I.S: Esse tipo de informação também é importante para os investidores. As empresas já têm consciência dessa realidade?
P.S: Um dos principais motivos para o CDP encorajar o reporte de emissões é o fato de que os investidores estão demandando essa postura das empresas. O CDP, por exemplo, conta com 475 investidores — 53 brasileiros – representando um volume de U$ 55 trilhões. Como possuem grande parte das ações das empresas, eles precisam entender melhor o negócio, por isso exigem informações de qualidade. Consideramos que a mensuração, gestão e comunicação das emissões de carbono fazem parte de uma boa administração.
I.S: Hoje há muitas ferramentas para fazer inventários de emissões, o que dificulta a comparabilidade por parte dos diferentes stakeholders? Qual é a proposta da CDP?
P.S: Desde o início, trabalhamos com o Green Gas Protocol, iniciativa criada pelo World Business Council for Sustainable Development. Trata-se de um padrão efetivo globalmente. Há diversas ferramentas. Mas como diferem muito entre si, acabam não sendo tão úteis. No CDP, trabalhamos muito essa questão, encorajando as empresas a reportarem suas emissões a partir de um mesmo modelo. Também contamos com uma secretaria chamada Climate Disclosure Standards Board, que atua fornecendo consultoria a companhias em todo o mundo para criar padrões globais de contabilização das emissões de carbono.  Esperamos poder expandir a atuação do conselho.
I.S: Por que é importante engajar fornecedores neste movimento de reportar emissões de carbono?
P.S: Se tomarmos como exemplo empresas do setor varejista como Wal-Mart ou Carrefour, eles sabem que provocam emissões na queima de combustíveis para transporte ou com o uso de eletricidade, mas as maiores emissões e a maior influência dessas empresas advêm da cadeia de abastecimento porque eles têm milhares de fornecedores. Outro exemplo: se as empresas declaram um gasto de U$ 2 bilhões ao ano em energia, considerando os gastos de energia dos fornecedores, esse número sobe para U$ 20 bilhões no mesmo período. As companhias nem sempre pensam dessa maneira. E entender os impactos indiretos do negócio é uma maneira de reduzir energia, custos, além de caracterizar uma colaboração entre a empresa e seus fornecedores no sentido de reduzir emissões.
As mudanças climáticas também apresentam riscos às cadeias de abastecimento. A indústria agrícola indiana, por exemplo, sofreu queda de 27% neste ano muito devido às alterações no clima. No setor de gás e petróleo, os furacões ocasionaram o fechamento de inúmeras refinarias. É importante que as companhias entendam os riscos físicos que as alterações climáticas podem gerar e atuam na reversão desse fenômeno junto a seus fornecedores.
I.S: Ainda sobre as cadeias de fornecimento, se os fornecedores não atendem às exigências da empresa, como ela pode ajudá-los a desenvolver processos produtivos menos impactantes?
P.S: A base dessas relações é orientada pelo diálogo entre as empresas e seus fornecedores. É papel das companhias explicar a seus fornecedores a importância de administrar os riscos que suas produções oferecem, de rever o uso eficiente de energia e informar os benefícios de uma gestão consciente. Acredito que passaremos a ver no longo prazo uma ação mais efetiva das empresas pressionando seus fornecedores a aderir aos padrões de sustentabilidade, além de abandonarem o fornecimento de determinadas empresas que não atenderem a esse requisito. Se em 2009 a questão das mudanças climáticas já é séria; em 2014 será ainda mais. Trata-se de se preparar para o futuro e tentar enxergar oportunidades para frear esse fenômeno.
I.S: Qual a melhor maneira de comunicar as emissões de carbono? E como essa informação pode afetar o comportamento do consumidor?
P.S: O aquecimento global é um tema bastante complexo para se compreender em detalhes. E os consumidores em geral dispõem de pouco tempo para obter informação. Por isso, é função das empresas comunicar questões referentes às mudanças climáticas da forma mais clara possível. Muitos já deixaram de comprar produtos que não possuem certificações, como madeira proveniente de regiões desmatadas. Acredito que, no futuro, os produtos virão com símbolos que identifiquem os impactos causados durante seu processo de fabricação. Essa informação estará presente, principalmente, nos produtos que requerem altos gastos de energia e emissões de carbono. Será uma exigência legal.
I.S: Como promover o acesso aos produtos sustentáveis? Em geral, os consumidores precisam pagar um preço extra por essas novas soluções?
P.S: As empresas gostam de encontrar motivos para cobrar mais. Os Ipods da Apple são mais caros que os da Sony, mas ninguém reclama disso. Todos preferem os da Apple porque acreditam que o aparelho trará mais benefícios. Não há nada de errado em pagar um preço mais alto por produtos e serviços que ofereçam novas vantagens. O que deve existir é uma comunicação adequada. O que precisamos do governo são mais incentivos a tecnologias que facilitem o ingresso rápido desses produtos no mercado. É preciso identificar quais produtos realmente geram benefícios à sociedade e trocar os sistemas de taxação visando mudar comportamentos. Em alguns países, por exemplo, não é necessário pagar taxas na compra de determinados itens nos primeiros cinco anos.
I.S: Quais tendências relacionadas ao consumo responsável os países latino-americanos, em particular o Brasil, podem esperar?
P.S: O público está muito mais consciente quanto às questões socioambientais, o que está mudando seus desejos sobre o que comprar. É importante que as empresas se preparem para isso. Quando se compra um carro, é tão necessário conhecer os possíveis impactos ao meio ambiente, quanto saber o valor do combustível, já que o consumidor terá que mantê-lo durante anos. A tendência é optar por um modelo mais eficiente. No setor de entretenimento, todos estão comprando aparelhos de TV Widescreen, muito prejudiciais ao meio ambiente. Em breve, as pessoas começarão a entender os impactos e as empresas que produzem televisores menos agressivos ambientalmente serão preferidas. O setor de alimentos, por sua vez, é frequentemente associado às questões ambientais, já que o consumidor preza por itens saudáveis. No que diz respeito ao Brasil, o País tem o privilégio de possuir a Amazônia. Como ninguém no mundo quer vê-la desmatada, qualquer produto relacionado à sua possível destruição despertará uma reação negativa.
 

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