Paul Simpson – Parte 1

Paul Simpson – Parte 1

Empresas de serviços, extrativistas, petrolíferas, químicas, siderúrgicas, de pequeno ou grande porte. Todas, sem exceção, estão diante do desafio de mensurar, gerir e reportar suas emissões de carbono. As que ainda não o fazem terão que adaptar seu modelo de negócio para internalizar os custos das mudanças climáticas, atendendo a uma crescente exigência de governos, ONGs, consumidores e, é claro, investidores.
O exemplo mais notório dessa tendência é o Carbon Disclosure Project, organização que atua como intermediária entre acionistas e companhias, alertando os primeiros quanto às implicações das mudanças climáticas nas segundas. Paul Simpson, um dos criadores do CDP, esteve no Brasil recentemente para lançamento da edição brasileira do relatório anual da organização, hoje a maior plataforma mundial de dados de emissões corporativas de gases de efeito estufa.
Para o economista, o aquecimento global está intimamente ligado com a gestão de riscos e as empresas já começam a ter prejuízos causados por eventos climáticos extremos. “A indústria agrícola indiana sofreu, neste ano, queda de 27%, graças às alterações no clima. No setor de gás e petróleo, os furacões ocasionaram o fechamento de inúmeras refinarias. É importante que as companhias entendam os riscos físicos que as mudanças climáticas podem gerar e atuem na reversão desses fenômenos”, destaca.
Simpson defende ainda que o inventário de emissões seja uma vigorosa ferramenta de gestão, sobretudo no que diz respeito à decisão de investimento. “Ao entender o processo de produção da empresa e como são geradas as maiores emissões, é mais fácil decidir onde focar novas atividades”, afirma. Aos 38 anos, ele representa uma nova geração de líderes, cuja performance será avaliada pela capacidade de romper com antigos modelos, conduzindo a sociedade a padrões de desenvolvimento mais sustentáveis. Confira, a seguir, como ele vem respondendo a esse desafio à frente do CDP.

Ideia Socioambiental: Comparado à década de 90, quando você começou a estudar as questões socioambientais, que avanços enxerga na discussão sobre sustentabilidade?
Paul Simpson: As grandes empresas entenderam que deveriam incorporar as questões socioambientais aos negócios, uma vez que os governos passaram a exigir essa postura. Havia também uma percepção ruim das Ongs em relação aos negócios. Já há companhias que enxergam oportunidades de desenvolver produtos e serviços em um mundo sustentável. Mas alguns grupos ambientais ainda acreditam que os negócios não privilegiam o meio ambiente. Ainda assim, existe um conhecimento muito maior sobre como a economia funciona, o comércio global e como podemos torná-lo mais sustentável.

I.S: Você encontrou alguma dificuldade ao tentar aplicar o que havia aprendido sobre sustentabilidade nas organizações por onde passou?
P.S:  Sim. Hoje, o aquecimento global é um fenômeno real. Mas quando começamos em 2000, muitas pessoas não acreditavam que pudesse ser verdade, principalmente nos EUA. Então tivemos que abordar inicialmente como as mudanças climáticas eram percebidas porque se falássemos em realidade, as pessoas poderiam argumentar que não acreditavam. Agora, ao tratar dessa questão, muitos se dão conta de que já sentiram algum reflexo do aquecimento global. Escutamos os cientistas e percebemos que precisamos mudar. Essa é a grande mudança observada nos últimos 10 anos.

I.S: Quais foram os fatos, líderes ou mesmos textos que o inspiraram a integrar o movimento de responsabilidade social corporativa?
P.S: Fiz um mestrado em Prática Responsável nos Negócios na University Bath, programa focado no papel dos negócios na sociedade. Quando estava na universidade, a revista The Ecologist também foi muito inspiradora para mim, além de muitos autores como David Korten que, em 1999, chamou a atenção para os novos desafios de dimensões globais com a publicação do livro When corporations rule the world (Quando as corporações regem o mundo, em tradução direta para o português).

I.S: Qual é o cenário global da mensuração, comunicação e gestão das emissões de carbono atualmente?
P.S: Vejo algum progresso nesses nove anos de CDP. Em 2003, apenas 245 reportaram suas emissões pela plataforma Green Gas Protocol. Atualmente são 2005, o que representa 10 vezes mais em seis anos. Estamos caminhando na direção correta. Essa evolução é puxada pela Europa e, particularmente pelo Reino Unido, onde há empresas líderes na comunicação das suas emissões, até porque lá as regulações são mais rígidas. Mas também existem bons exemplos nos países emergentes. E neste quesito o Brasil é o líder. Aqui, várias empresas já consideram os fenômenos do clima nos seus negócios, o que demonstra séria preocupação com o aquecimento global. Outras economias emergentes estão muito atrás nessa corrida, por não terem regulação ou mesmo pouco interesse pelo tema. Mas isso também está mudando. Neste ano, dobrou o número de empresas chinesas que responderam ao questionário do CDP. É um progresso lento, mas na direção certa.

I.S: Então a regulação é um elemento-chave para incentivar empresas a divulgar suas emissões?
P.S: Com certeza. Em 2009, 2005 empresas reportaram suas emissões voluntariamente ao CDP, mas nem todas adotam essa postura, nem com este grau de qualidade. Precisamos das regulações para poder criar um padrão básico de divulgação das emissões. As maiores companhias do mundo sabem que é importante ter uma boa reputação associada à redução de emissões de carbono, por isso trabalham para obter melhor desempenho nesse tipo de prática. Elas serão as líderes do movimento pelas regulações. O que precisamos é fazer avançar este padrão básico em torno do mundo.

I.S: No cenário latino-americano, quais os principais desafios e oportunidades?
PS: Se olharmos as economias emergentes, o Brasil é o líder na prática de divulgação de emissões de carbono.  Mesmo com a crise econômica dos últimos 18 meses, observa-se um crescimento na preocupação das empresas brasileiras em reportar suas práticas. Somente neste ano cerca de 60 companhias locais informaram suas emissões.
No cenário latino-americano, Chile e México também apresentam bons resultados.

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