Especial – Investimento social que transforma comunidades (parte 3)

Especial – Investimento social que transforma comunidades (parte 3)

O nível de auto-estima também cresceu em Charqueada, município do interior gaúcho. Ali, a unidade local da Gerdau implantou o programa 5S – ferramenta para melhorar a organização dos ambientes de trabalho a partir de mudanças individuais ou coletivas de atitude – em dez escolas municipais. Baseado em cinco conceitos (ou sensos) – limpeza, ordenação, saúde e auto-disciplina – o programa tem resultado em fachadas, corredores e salas de aula mais limpos e mais atraentes, locais onde se têm prazer em estar. “Hoje, os alunos gostam de ir à escola, depredação é coisa do passado”, constata José Blanco, coordenador do projeto.
O primeiro passo foi sensibilizar a comunidade escolar por meio de palestras, nas quais são explicados os cinco sensos. Uma cartilha sobre o tema reforça as orientações. Antes de começar na prática, a Gerdau promove o “Dia D” em que professores, alunos, funcionários em geral e pais realizam uma “faxina” geral na escola – da organização de arquivos e documentos à restauração de pisos e pinturas de janelas; de consertos na rede elétrica à limpeza do chão e plantio de grama. Na etapa seguinte, voluntários fazem auditorias periódicas de 5S para avaliar os avanços obtidos e as melhorias do processo.
Atualmente, são 44 voluntários – todos funcionários do Grupo Gerdau, que dedicam uma hora da semana para este trabalho. Além deles, o programa envolve 411 professores e 3.658 alunos. As cinco primeiras escolas a adotar o 5S receberam como incentivo do Instituto Gerdau uma estante com 200 livros novos para sua biblioteca. “Conseguimos mudar a imagem de que toda escola pública é um lixo. Hoje, as escolas têm um ambiente agradável, com computadores e internet e funcionam sem trancas ou grades”, enfatiza Blanco. O trabalho se estendeu para o entorno das escolas, onde praças foram reconstruídas e são conservadas pela prefeitura.
“A comunidade aprendeu a respeitar e cuidar das escolas. A Gerdau levou o conceito, treinou os professores e eles treinaram os alunos. Eles se multiplicaram”, entusiasma-se Blanco que já está às voltas com um novo desafio. “Agora que a casa está em ordem, a qualidade do ensino será nosso próximo passo”, adianta.

Colégio Engenheiro Juarez Wanderley – Embraer

Os alunos do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, de São José dos Campos, interior de São Paulo, têm feito bonito nos vestibulares. Nos últimos três anos, 95% dos estudantes que saíram da escola para disputar uma vaga nas universidades foram aprovados. Destes, 66% ingressaram em universidades públicas. Esses números passariam despercebidos se a escola fizesse parte da lista dos melhores colégios particulares do País. Mas não é o caso. O Juarez Wanderley, um colégio gratuito mantido pela Embraer, foi criado para possibilitar o acesso de jovens carentes a uma educação de qualidade.
Inaugurado em 2002, o colégio tem 600 alunos, admitidos por meio de um processo seletivo. A disputa é concorrida: chegou a 30 candidatos por vaga em 2006. Os aprovados, em geral, são os mais aplicados das escolas públicas da região de São José dos Campos, onde também está a sede da Embraer.
Referência no ensino médio a escola ficou com a 18ª posição no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que classifica as melhores do País. Em 2006, já havia se destacado, obtendo em 15º lugar. Entre os colégios paulistas, foi o segundo em melhor desempenho, em 2006, e o terceiro na mesma categoria neste ano. Vale lembrar que são avaliadas 22 mil escolas e 2,2 milhões de alunos das redes pública e particular.
Um dos segredos do sucesso do Juarez Wanderley é o fato de ser administrado como uma empresa, seguindo os padrões da própria Embraer: desenha-se um plano de metas a serem cumpridas e toda a equipe trabalha para conseguir o máximo de resultados com os recursos disponíveis. Também contribui a qualidade da formação dos professores, cuja faixa salarial está acima da média do mercado. Boa parte dos R$ 28 milhões investidos pela Embraer na escola, nos últimos cinco anos, foi destinada para a contratação de professores. Os recursos também são aplicados em transporte, alimentação, uniforme e material didático para os alunos. No Juarez Wanderley a manutenção de cada estudante fica em torno de R$ 900,00 por mês, contra R$ 175,00 na rede pública de São Paulo.
Por serem bem remunerados, os professores dedicam-se exclusivamente à escola, o que permite uma presença constante e maior dedicação aos alunos. Uma das determinações é a leitura freqüente. Segundo o Instituto Embraer, cada aluno lê, em média, cinco livros por mês, enquanto estudantes de escolas públicas não lêem essa quantidade por ano. A carga horária escolar é de nove horas por dia, mas, apesar do rigor, ninguém reclama. O Juarez Wanderley só tem alunos interessados em melhorar de vida. Metade deles vem da classe C, com renda familiar de até três salários mínimos e aprendem na escola também valores como ética, consciência social, cidadania, liberdade pessoal e compromisso com o futuro. “Não queremos substituir o governo, mas mostrar que é possível resolver os problemas existentes. É isso que tentamos fazer aqui”, ressalta Luiz Sérgio Cardoso, diretor do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa.
Programa de Educação Afetivo Sexual – Vale do Rio Doce
Em dez municípios de Minas Gerais registros de violência doméstica, depredação, agressão física ou verbal e brigas de adolescentes, têm caído de maneira expressiva. Na mesma proporção, jovens passaram a lutar por seus direitos, se engajar em causas comunitárias e a zelar por sua saúde. O  quadro é resultado do Programa de Educação Afetivo Sexual (Peas), criado pela Vale do Rio Doce há seis anos e transformado em ação pública nas cidades de Mariana, Ouro Preto, Congonhas, Brumadinho, Itabira, São Gonçalo do Rio, Catas Altas, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Governador Valadares. O programa, adotado por 150 escolas municipais e estaduais, já beneficiou 44.700 estudantes, principalmente de 5ª a 8ª séries. Em cinco das cidades, o Peas está sendo desenvolvido com crianças a partir da 1ª série, com idade entre seis e dez anos.
Mais do que ensinar jovens a se proteger de doenças sexualmente transmissíveis, o Peas tem como meta incentivar em crianças e adolescentes o respeito por si e pelo próximo a partir do amor próprio. Assim, aborda também valores como cidadania, diversidade humana, responsabilidade e o protagonismo juvenil. “A sexualidade é o ponto de partida para a discussão de outros itens relevantes na formação do indivíduo”, diz Aline Torre, analista de projetos da Vale do Rio Doce.
Segundo ela, embora o foco do Peas seja o jovem, toda a comunidade participa. Um envolvimento reforçado em reuniões promovidas pela prefeitura com pais, educadores, lideranças comunitárias e religiosas e profissionais da área da saúde, nas quais os objetivos do programa são apresentados. “Nesses encontros, deixamos claro que não queremos, de forma alguma, incentivar a libertinagem. Afinal, não é a educação sexual que gera a promiscuidade e, sim, a falta dela”, afirma Sérgio Dias, gerente da Fundação Vale do Rio Doce.
Na verdade, mudar o conceito dos adultos em relação à sexualidade é uma das primeiras tarefas realizadas pelo Peas. Na opinião de Dias, para que os adolescentes possam sanar suas dúvidas e ter uma formação adequada, professores, diretores, médicos, enfermeiros e funcionários da secretarias municipais de Educação, Saúde e Ação Social precisam estar preparados para recebê-los. Ele conta que são muitos os relatos de jovens que, ao procurar informações sobre preservativos ou outras questões íntimas em postos de saúde ou com médicos da família, ouviram do profissional que os atendeu um pedido para que voltassem acompanhados de um responsável. Um tipo de comportamento que afugenta um jovem que na maioria das vezes não tem liberdade para tratar do assunto com os pais, em casa.
Situações como essas deixaram de existir nos dez municípios mineiros. Os três mil profissionais capacitados pelo programa foram treinados para nem discriminar e nem julgar os jovens e sim acolhê-los com respeito. O saldo da mudança de atitude é – segundo Dias – a recíproca. Os adolescentes ouvem e respeitam mais os adultos, não transgridem sem motivos e ainda procuram integrar projetos sociais e escolares. Tornam-se, desse modo, protagonistas. “Não adianta falarmos que os jovens são a esperança do futuro se não agirmos agora. Daqui a alguns anos eles serão adultos e já terão outra personalidade. O futuro se constrói com o presente. Este é o momento de formar líderes e bons cidadãos”, ressalta Dias.
A atenção dedicada aos jovens está provocando mudanças expressivas de comportamento. Os exames preventivos feitos anteriormente só por mulheres agora são solicitados por adolescentes. Meninos também têm deixado o preconceito e visitado o urologista. Essa prática diminuiu a estatística da gravidez não planejada e a propagação de doenças sexualmente transmissíveis dos municípios atendidos.
Para Dias e Aline, o segredo do sucesso do Peas são as alianças entre sociedade civil, empresa privada e, sobretudo, o governo. “Sem o apoio das prefeituras, o Peas ainda estaria no papel”, reconhecem.
Resumindo o trabalho do Peas, o presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, reforça a educação como principal mote do programa e o fato de que, sem ela, não é possível construir um país bem-sucedido. “Há três pilares fundamentais: saúde, educação e segurança. Mas a educação é a base de tudo. Sem educação você não melhora a saúde e nem a segurança”, afirma.
O que têm em comum os sete projetos
1 Baseiam-se em alianças setoriais estratégicas
2 Estimulam o protagonismo juvenil
3 Atuam em sintonia com políticas públicas locais
4 Envolvem vários atores sociais
5 Nascem de diagnóstico claro de necessidades das comunidades locais
6 Procuram melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
7 Usam a educação como fator de transformação social
8 São planejados com método e rigor
9 Possuem visão de longo prazo
10 Fazem monitoramento permanente de resultados de processos
11 Incentivam a não dependência dos recursos da empresa e à apropriação do projeto por parte da comunidade
O quanto as empresas investem em projetos sociais
Gerdau
R$ 51,6 milhões (2006) em 817 iniciativas sociais; R$ 7,8 milhões em 94 projetos que visam melhorias na educação brasileira.
Unilever
R$ 4 milhões (entre 2004 a 2008) no Projeto Mais Vida.
Embraer
R$ 28 milhões (desde a fundação da escola, em 2002)
Odebrecht
R$ 58,9 milhões (entre 2003 e 2007) no DIS-Baixo Sul
Vale do Rio Doce
R$ 5,8 milhões no PEAS (entre 2001 e 2007)
Orsa
R$ 4,5 milhões (entre 2002 e 2007) no Projeto Jari.
Banco do Brasil
R$ 4,9 milhões (entre 2004 e 2007) no projeto de caju e mel no Piauí

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