Especial – Tendência 3: Emissões de GEE

Especial – Tendência 3: Emissões de GEE

Carbono, a nova moeda global
Pelo impacto nas mudanças climáticas, as emissões de carbono e outros gases GEEs serão incorporadas aos custos do produto,  obrigando as empresas a mensurar, gerir, reportar e comunicar como estão fazendo para reduzi-las. O fator carbono terá influência crescente sobre o valor e a atratividade dos negócios e empresas
Empresas de serviços, extrativistas, petrolíferas, químicas, siderúrgicas, de médio ou grande porte. Todas, sem exceção, estão diante do desafio de mensurar, gerir e reportar suas emissões de carbono. As que ainda não o fazem terão de adaptar seu modelo de negócio para internalizar os custos das mudanças climáticas, atendendo a uma exigência cada vez maior de ONGs, governos, consumidores e, mais recentemente, investidores.
Os diferentes públicos parecem mais interessados em saber quais são as estratégias de médio e longo prazo das empresas na transição para uma economia de baixo carbono. Em resposta a eles, um crescente número de companhias vem elaborando inventários públicos das suas emissões de gases de efeito estufa. São informações divulgadas em relatórios independentes ou relatos mais amplos sobre sustentabilidade ou desempenho ambiental.
Em um cenário no qual a intensidade em carbono tende a ser vista como um fator de competitividade, o mapeamento de emissões também auxilia as companhias a prever melhor os custos futuros – e, portanto, reduzir riscos –, tornando-se ferramenta fundamental para a decisão de investimento e planejamento estratégico.

O GHG Protocol, modelo mais difundido para mapeamento de emissões, saltou à frente na preferência entre empresas. Compatível com as normas da International Organization for Standardization (ISO) e com as metodologias de quantificação do Painel Intergovernamental Sobre Mudança Climática (IPCC) da ONU, ele gera informações que também podem ser aplicadas nos relatórios e questionários de iniciativas como Carbon Disclosure Project, Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e Global Reporting Initiative (GRI).
Em 2008, a ferramenta foi adaptada ao contexto do País com o Programa Brasileiro GHG Protocol. O Programa é uma realização do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV), e do World Resources Institute (WRI), em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).
A iniciativa tem procurado promover a cultura corporativa de mensuração, publicação e gestão voluntária das emissões de GEE no Brasil. A redução das emissões – vale ressaltar – se apresenta como um caminho inevitável, pois a tendência é que o preço do carbono se eleve, impactando produtos, seja por meio da autorregulação desses mercados ou a em decorrência de medidas de tributação sobre atividades mais intensivas.
Inspirado no Relatório Stern, o estudo Economia do Clima revela os custos econômicos das mudanças climáticas, reforçando que as medidas de mitigação continuam mais vantajosas, mas a adaptação já não pode ser desprezada.
Estima-se que, sem mudança do clima, em 2050 o PIB brasileiro será de R$ 15,3 trilhões no cenário A2-BR (seguindo a previsão mais pessimista do IPCC) e R$ 16 trilhões no cenário B2-BR (mais otimista). Com o impacto da mudança do clima, esses números de PIB diminuem em 0,5% e 2,3%, respectivamente.
Antecipados para valor presente com uma taxa de desconto de 1% ao ano, as perdas projetadas ficariam entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões, o que equivaleria a jogar fora pelo menos um ano inteiro de crescimento nos próximos 40 anos.
Fica evidente que a economia de baixo carbono é mais vantajosa, sobretudo do ponto de vista econômico. Com ou sem mudança do clima, o PIB é sempre maior em B2-BR do que em A2-BR. Isso quer dizer, que na trajetória mais “limpa” do cenário, a economia cresce mais, e não menos. (Veja mais no quadro: Economia de baixo carbono: oportunidades)

Cenários do IPCCA2
Projeta um mundo heterogêneo, voltado para a autossuficiência nacional e a preservação das identidades locais. Os padrões de fertilidade entre as regiões convergem muito lentamente, o que acarreta um aumento crescente da população. O crescimento econômico não ocorre de forma homogênea e a disparidade de renda entre países ricos e pobres se mantém. Pressupõe-se um fluxo menor de comércio, difusão de tecnologia e ênfase nas interações econômicas entre regiões.
B2
Adoção de políticas para enfrentar os problemas do meio ambiente e da sustentabilidade social. É um mundo em que a população global aumenta a uma taxa inferior à do cenário A2, com níveis intermediários de desenvolvimento econômico e mudança tecnológica menos rápida e mais dispersa. As disparidades internacionais de renda decrescem um pouco mais do que no cenário A2, segundo o cenário climático B2 do IPCC.

O que dizem as empresas
O CO2 é o maior vilão do clima e o controle sobre sua emissão deve ser prioridade de todos os países, independentemente de quais metas venham a assumir.  Sobre isso não restou nenhuma dúvida entre pesquisadores, governantes e líderes industriais que estiveram na COP-15, realizada em dezembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca.
A tendência de uma regulamentação mais forte por parte de governos tem feito com que o tema se torne cada vez mais central na gestão das empresas. Entre outras mudanças, as companhias vêm se dedicando a rever suas logística de transportes, reduzir consumo de energia, substituir fontes e revisar de processos. A eficiência energética passou a ser uma preocupação constante.
“Como sabemos, as legislações de vários países estão se alterando e isso já se reflete em mercados financeiros sob a condição de créditos de carbono, análises de risco e demanda de transparência, o que tem promovido embates diplomáticos internacionais, além de incentivos e restrições embutidos nas políticas energéticas. Estamos fazendo esforços adicionais de redução de emissões e de maior “esverdeamento” da nossa matriz”, destaca Vania Somavilla, diretora de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Vale. Atualmente, a empresa investe em projetos de biodiesel e substituição de óleo combustível por gás natural.
A necessidade de buscar uma integração com os públicos de interesse para reduzir as emissões constitui uma tendência forte entre as empresas, na medida em que contabilizar o CO2 ao longo da cadeia produtiva tem sido um procedimento cada vez mais valorizado pelo mercado. “A preocupação com o balanço de carbono será crescente e as medidas corretivas dependerão, em grande medida, do diálogo e da transparência nas relações da empresa com todos os públicos envolvidos, numa grande ação de responsabilidade compartilhada”, avalia Nelton Friedrich, diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu.
Para Walter Duran, diretor de Sustentabilidade da Philips, medidas futuras para punir corporações que emitam quantidades elevadas de CO2 são inevitáveis. No entanto, implementar ações para controle e tarifação dos gases de efeito estufa (GEE) tem tudo para ser um desafio complexo. “Para que as medidas sejam efetivas, deverá se levar em consideração a situação individual de cada emissor de carbono e, principalmente, o suposto benefício final oriundo dessa emissão, por região do globo, país e muitos outros parâmetros. É algo difícil, porém não impossível. Estamos no caminho e certamente chegaremos lá em alguns anos”,  avalia.
Investidores já começaram a avaliar as empresas com base em quanto se mostram empenhadas em reduzir suas emissões de CO2. Nesse contexto, a necessidade de informar sobre a pegada de carbono vai se transformando numa regra. Índices como o Carbono Eficiente, da BM&FBovespa, que lista as 50 ações mais negociadas, ponderando suas emissões de gases estufa, ganham relevância no mercado, assim como iniciativas como das da organização Carbon Disclosure Project (CDP), que mantém um banco de dados sobre as emissões das empresas.
No Bradesco, a gestão de GEEs teve início em 2006, quando foi produzido o primeiro inventário do banco. Em 2007, o processo passou a abranger todas as empresas sob as quais a instituição tem controle operacional e evoluiu no ano seguinte. “Desde 2008 estamos engajando fornecedores por meio do CDP Supply Chain. No âmbito dos negócios, participamos das discussões com os demais bancos comprometidos com os Princípios do Equador (acordo que prega concessão de crédito à avaliação socioambiental de empreendimentos)”, destaca Domingos Figueiredo Abreu vice-presidente do Bradesco.
Para gerar resultados, a contabilidade das emissões requer esforços concentrados de engajamento das partes interessadas, especialmente fornecedores. E também novos métodos de avaliação. “Na medida em que cresce a pressão sobre a gestão das emissões de GEEs, acreditamos que surgirão mais ferramentas e mecanismos para a inclusão dos custos do carbono nas cadeias de suprimento. Já se observa um grande número de iniciativas voltadas ao desenvolvimento de formas de monitoração”, ressalta Yuri Feres, gerente de Sustentabilidade do Walmart Brasil
Em 2009, a rede de varejo lançou o projeto para construção do Índice de Sustentabilidade em Produtos, que pretende mensurar os impactos socioambientais dos itens vendidos em suas lojas – principalmente as emissões de GEE -, convertendo-os em um indicador impresso nas embalagens para facilitar a comparação e decisão do consumidor.

Caminho das pedras
Como calcular a pegada de carbono de uma organização*
1- Decida o método a ser seguido
É importante usar um método consistente para assegurar um resultado preciso, especialmente se você vai contar com várias pessoas para ajudar a coletar e interpretar os dados. O GHG Protocol é um dos padrões mais utilizados. Ele fornece orientações detalhadas sobre métodos e está disponível gratuitamente on-line. Outra norma reconhecida é a do International Organization for Standardization, ISO 14064, que se baseia em muitos dos conceitos introduzidos pelo GHG Protocol. Ambos fornecem explicações sobre as etapas relacionadas aqui.
2- Defina metas organizacionais e operacionais
Defina limites claros e explícitos sobre quais partes de sua organização estão incluídas na pegada de carbono. Isso pode ser complexo se você tiver muitas subsidiárias, joint ventures ou ativos, mas é um passo importante. O limite operacional determina quais fontes de emissão serão quantificadas. Deve-se incluir a totalidade das emissões das atividades sob seu controle operacional. Todos os âmbitos devem ser incluídos, mas você pode escolher qual o alcance. Seja realista ao escolher um limite e tenha certeza de que considerou os aspectos práticos da coleta completa de dados precisos. Isso pode ajudar a atender reports e regulamentações legislativas ou os requisitos dos sistemas de certificação terceirizados, como o Carbon Standard Trust.
3- Agrupe os dados
A precisão da pegada está em coletar dados de consumo para todas as fontes de emissão dentro do seu limite estabelecido. No caso do gás e da eletricidade, colete dados em quilowatts-hora (KWh) de leituras ou contas. Você pode gravar dados para outros combustíveis em uma variedade de unidades, como litros ou megajoules (MJ). Para emissões de transporte, relacione o consumo de combustível por tipo sempre que possível (a partir de “cartões de combustível”, por exemplo). Quando este não estiver disponível, você pode estimar o consumo com base na quilometragem dos veículos e dados econômicos. É importante esclarecer quaisquer lacunas nos dados e listar todas as suposições que foram feitas para o cálculo da pegada.
4- Aplique fatores de emissão
A pegada de carbono é medida em toneladas de CO2 equivalente (tCO2e), e calculada usando os dados recolhidos das atividades multiplicados pelos fatores padronizados de emissão. Você pode encontrar esses fatores atualizados no site do Carbon Trust em www.carbontrust.co.uk/ conversionfactors.
5- Verifique os resultados (opcional)
Você pode optar por terceirizar a tarefa de verificar a sua pegada de carbono, para aumentar a credibilidade e confiança no seu inventário para divulgação pública.
6- Verifique sua redução de emissões (opcional)
Muitas empresas não só medem sua pegada de carbono mas também têm tomado medidas para reduzi-las progressivamente ao longo do tempo. A redução é algo que uma terceira parte pode atestar, oferecendo credibilidade e confiança para o anúncio da redução.
Como avaliar a pegada de carbono do produto*
1 – Construa um mapa de processo
Liste todos os materiais, atividades e processos que contribuem para cada fase do ciclo de vida do produto escolhido.
2 – Verifique os limites e determine prioridades
Algumas das emissões podem ser reduzidas (por exemplo, nas viagens de consumidores para outlets de varejo). Calcular o nível da pegada, primeiramente, vai ajudar a focar a coleta de dados nas principais fontes de emissão de gases de efeito estufa e eliminar outras.
3 – Colete dados
Coletar dados da atividade (por exemplo, litros de combustível consumidos
por unidade de produto) e selecionar fatores de emissões adequados (por exemplo, kg de CO2 por litro de combustível). Quando possível, utilizar dados primários com base em medidores reais de leitura ou registros, em vez de estimativas.
4 – Calcule a pegada
Calcule as emissões de GEE (kgCO2e por unidade de produto) de cada fonte multiplicando dados da atividade pelos fatores de emissão.
5 – Verifique sua pegada
Você pode verificar a sua pegada de três maneiras:
• Autoverificação
• Verificação por outra parte, como outra companhia
• Verificação credenciada de terceiros independentes
*Fonte: Traduzido de Carbon Footprinting – TheNext Step to Reducing your Emissions, Carbon Trust (Pegada de Carbono – o Próximo Passo na Redução das suas Emissões)
Leia a síntese e confira a íntegra desse estudo na seção estudos e pesquisas.
Para saber mais: 8 motivos para mensurar, gerir e comunicar emissões
• Oportunidades de redução de custos
Especialmente importante em momentos de crise financeira, a redução de custos está relacionada com melhoria da eficiência em processos gerenciais, redução ou otimização do uso de energia e de matérias-primas e adoção de fontes alternativas de energia.
• Criação de benchmark e oportunidades para melhorar a competitividade
Os inventários corporativos podem servir de base para a identificação de oportunidades de melhoria e desempenho da empresa a partir de sistemas de comparação das emissões decorrentes da realização de processos e da geração de produtos.
• Participar de mercados de emissões de GEE
Identificar oportunidades para desenvolver projetos que gerem créditos de carbono ou atraiam investimentos, produzindo receitas adicionais para a empresa, é outro benefício relacionado aos inventários de emissões.
• Prestar contas aos acionistas e stakeholders
Acionistas e stakeholders podem ser melhor informados de riscos e oportunidades associados à gestão de emissões de GEE a partir dos dados fornecidos pelos inventários.
• Replicabilidade e impacto em cadeia
Por meio dos inventários é possível entender e mitigar impactos na cadeia de valor, envolvendo fornecedores e compradores em ações de redução de emissões de GEE.
• Traçar e alcançar metas de responsabilidade socioambiental
Muitas empresas já internalizam em suas operações metas voluntárias de caráter socioambiental e a redução de emissões de GEE pode ser mais uma meta incorporada a esse processo.
• Avaliar passivos e preparar-se para futuras políticas de emissões de GEE
As empresas podem se antecipar a regulamentações sobre emissões de GEE por meio dos inventários, que permitem identificar fontes e volumes das emissões, e, assim, traçar planos de mitigação que as coloquem em consonância com as futuras políticas de emissões.
• Garantir oportunidades no mercado internacional
O mercado globalizado exige cada vez mais das empresas boas condutas em termos de desempenho em sustentabilidade, e a boa gestão de emissões de GEE é um dos principais aspectos cobrados nas transações internacionais.
Fonte: Programa Brasileiro GHG Protocol

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