Especial – Uma revolução verde no agronegócio (parte 3)

Especial – Uma revolução verde no agronegócio (parte 3)

Agente de desenvolvimento

Inspirado na organização do sistema solar, o processo Mandalla propõe a integração de saberes tradicionais e científicos para desenvolvimento de práticas mais sustentáveis na agricultura e combate a pobreza. Para atender a esse objetivo, a criatividade é o limite. Vale até usar cotonetes ou cabinhos de pirulito como aspersores e garrafas PET para construir um sistema de irrigação.
A técnica, estudada e disseminada no Brasil pelo engenheiro agrônomo Willy Pessoa a partir da década de 70, consiste em um método de produção que evolui de forma circular – como em uma mandala – a partir de uma fonte de água.
Para desenvolver esse método, Pessoa bebeu da fonte de Bill Morrison, criador do conceito de permacultura que propõe a reunião dos conhecimentos tradicionais com técnicas inovadoras, com o objetivo de criar uma “cultura permanente”, sustentável, baseada na cooperação entre os homens e a natureza. “A idéia surgiu depois que conheci as experiências de Morrison com o plantio em formato de ferradura. Inspirei-me na organização do sistema solar para desenvolver uma técnica que permitisse produzir em pouco espaço e com baixo custo”, afirma Pessoa.
Em uma área de 2500 m² é possível implementar o modelo de produção de alimentos formado por nove círculos concêntricos que têm no centro um espelho d’água, de onde parte o sistema de irrigação. O método consorciado de produção de alimentos e criação de animais dispensa o uso de defensivos químicos. Além de se alimentar de ervas daninhas, as galinhas, por exemplo, oferecem adubação para a terra por meio do esterco que produzem.
Segundo Pessoa, o desenvolvimento dos três primeiros círculos da Mandalla objetivam a qualidade de vida da família beneficiada, os alimentos produzidos nessa área são destinados ao consumo próprio. Do quarto círculo em diante, são produzidos excedentes para comercialização visando à melhoria da qualidade econômica dos produtores rurais.
Depois de um ano de funcionamento, a Mandalla pode proporcionar uma renda mensal média de R$ 1700,00 ao produtor. Com o projeto em pleno funcionamento, esse ganho pode chegar a R$5.000,00.
A agência Mandalla, organização sem fins lucrativos criada em 2003 por Pessoa, conta com uma equipe de empreendedores sociais que disseminam o processo de produção em círculos em assentamentos agrícolas, comunidades quilombolas e indígenas nos estados da Paraíba, Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.
A iniciativa conta com o apoio de grandes empresas como a Pepsico, Oi Futuro, ABN Anro Bank, Bolsa de Valores Sociais e até a Bayer, fabricante de defensivos químicos. Segundo Pessoa, a parceria com o setor privado já foi alvo de críticas de movimentos sociais que a julgaram incompatível com a proposta da Agência Mandalla de promover um sistema de produção alternativo ao de escala, que demanda o uso intensivo de insumos industriais.
Pessoa defende que a integração de esforços com o setor privado é importante para promover a sustentabilidade na agricultura. “A iniciativa de apoiar um projeto como o Mandalla, vindo de grandes empresas como a Bayer, é um sinal positivo. Ao estimular uma iniciativa como a nossa, eles ajudam a desenvolver não só a atividade agrícola, mas também a economia. Há, portanto, uma sintonia com o negócio”, ressalta.
Desafios para a sustentabilidade na agricultura

– O consumo de carne na China mais que dobrou nos últimos 20 anos e a estimativa é que dobre novamente por volta de 2030
– A produção de carne, leite, açúcar, óleos e vegetais normalmente demanda mais água do que a produção de cereais
– A produção de alimentos para atender a necessidade diária de consumo de uma pessoa demanda cerca de 3000 litros de água – mais de um litro por caloria
– A agricultura foi responsável por 14% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa em 2000
– Os solos contém mais carbono armazenado do que a atmosfera e a toda cobertura vegetal terrestre juntas
– A agricultura usa 70% da água doce do mundo (proveniente de rios, lagos e aqüíferos subterrâneos), a maioria desse montante é destinado à irrigação
– Cerca de 60% da área irrigada mundial está na Ásia, a maioria dela é destinada a produção a produção de arroz
– Nos últimos 40 anos, a área mundial ocupada pela agricultura cresceu cerca de 10%, mas a distribuição per capita tem caído. A expectativa é que essa tendência se mantenha devido a menor disponibilidade de terras e crescimento ao crescimento populacional.
Fonte: “Agricultural Ecosystems”, WBCSD – World Business Council for Sustainable Development
Revolução verde

Conjunto de práticas e tecnologias introduzidas na agricultura nas décadas de 60 e 70 para aumento da produtividade. O modelo se baseia no uso intensivo de sementes melhoradas, insumos industriais e mecanização. Desenvolvidas no pós-guerra, essas técnicas proporcionaram o aumento da produção de alimentos, sobretudo nos países subdesenvolvidos. No entanto, gerou efeitos negativos como a perda de biodiversidade, erosão do solo, dependência excessiva de combustíveis fósseis e aumento dos custos de produção.
Para alguns críticos, o modelo difundido pela revolução verde começa a demonstrar suas limitações como estagnação da produtividade, vulnerabilidade das culturas devido ao uso de variedades uniformes e esgotamento do solo. Segundo eles, o mundo precisa de uma segunda revolução verde, caracterizada pelo aumento da produção e o uso mais racional dos recursos naturais.

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