F de futuro

F de futuro

Por Marília Arantes


Um mau uso da terra é a causa principal do desmatamento das florestas. Este, por sua vez, razão máxima das emissões de CO2 na atmosfera. A conclusão foi reiterada, em 2011, pelo Living Forest Report da organização ambiental WWF. O levantamento inspirou o projeto The Forests Dialogue (TFD), sediado na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, na criação da iniciativa dos 4FsFood, Fuel, Fiber and Forests (segurança alimentar, biocombustíveis, agricultura e florestas), que parte da ideia de desmatamento zero para construir soluções por meio de um diálogo multissetorial.

“Na competição por terra e água entre os 9 bilhões de habitantes estimados no mundo, em 2050, setores da sociedade, isoladamente, não conseguirão assegurar a sobrevivência das florestas”, alerta James Mayers, do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento do Reino Unido (IIED). Por isso, a iniciativa busca antecipar problemas e cenários, oferecendo respostas tangíveis e coletivas. “A boa notícia é que diversas organizações já estão interessadas em participar”, garante Gary Dunning, diretor executivo do TFD, que acredita no alinhamento de processos como decisivo para uma governança efetiva. “O que falta, ainda, é mais comunicação.”

O primeiro trabalho de campo dos 4Fs aconteceu em novembro, no Brasil, na cidade de Capão Bonito, interior de São Paulo, como resultado de uma reunião inicial em Washington, em 2011. O evento, organizado pelo TFD e Instituto Ethos, contou com o apoio do BNDES, GIZ (uma agência alemã para o desenvolvimento sustentável), Ministério do Meio Ambiente, Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), Fibria, Diálogo Florestal Brasileiro, IIED, Mondi (companhia europeia de papel), WWF e Conservation Internacional.

“Se melhorarmos a utilização, não precisaremos desmatar mais nenhuma árvore. Podemos conciliar crescimento, natureza e sociedade”, afirma Miriam Prochnavi, diretora da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi) e secretária executiva do evento, que destacou a abordagem multistakeholder. “Pela primeira vez no Brasil, setores geralmente em conflito resolveram discutir soluções comuns”, pontuou.

Para Carlos Alberto Roxo, gerente geral de Sustentabilidade da Fibria, a reunião foi um sucesso. ”Líderes bem selecionados originaram propostas claras e o comprometimento voluntário a ‘sair das trincheiras’ para fortalecer o debate e fomentar integração entre as partes no Brasil e no mundo.

Moradores da região mobilizaram-se para dar continuidade às propostas, e mostraram-se dispostos à interação local pelos 4Fs.”

O grupo apontou a necessidade de implementação efetiva da legislação, regularização de títulos de terras públicas e privadas, adequação ao Código Florestal, em especial a implementação do Cadastro Ambiental Rural, e reflorestamento. ”Agora, precisamos da sociedade empenhada em aumentar produtividade, agregar valor às terras e romper a rígida fronteira setorial. Ao reconhecermos a questão do carbono e seus impactos ambientais, compartilharemos melhor o mesmo espaço”, argumenta Roxo.

A metodologia do encontro também é inovadora – desenvolvida pela organização britânica especializada em relações internacionais Chatham House. Sem a presença da imprensa, preserva-se a espontaneidade do diálogo e uma liberdade maior na abordagem de temas polêmicos. Também “evita-se que pessoas apareçam na mídia, sem envolvimento verdadeiro com a discussão”, diz Rod Taylor, diretor de Florestas da WWF Internacional.

Temas polêmicos, aliás, estão na pauta das próximas reuniões. Como projetos REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), certificações e plantas geneticamente modificadas – estas, aliás, surgem como principal “linha de fratura”, segundo Dunning do TFD. “Potencial tecnológico para isso existe. E pode até ser positivo, dependendo da atuação das empresas”, analisa. Segundo Taylor, da WWF, todas essas questões são muito importantes para a conservação das florestas e os povos que dependem delas. Porém, “não resolvem o maior de todos os dilemas: o do consumo excessivo”. Como se vê, assuntos não faltarão para os próximos encontros.

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?