Idéias e empreendedores que mudam o mundo

Idéias e empreendedores que mudam o mundo

Nesses tempos em que o ato de doar passou a ter importância estratégica para grandes empresas socialmente responsáveis, famílias milionárias altruístas e bilionários pós-globalização engajados, emerge o interesse de potenciais doadores pelo financiamento de boas idéias que podem transformar o mundo num lugar melhor para viver. Poucos investimentos são, nesse sentido, mais sustentáveis do que os realizados em empreendedores sociais. Raros têm a mesma vantajosa relação de custo-benefício.
Segundo especialistas, empreendedor social é um sujeito diferenciado, altamente realizador, inconformado com a dor alheia, dono de uma ética solidária e de uma boa solução que, convertida em visão – e implantada com energia e devoção incomuns — pode impactar positivamente a vida de até 10 milhões de pessoas. Ainda que, em cálculo bem mais conservador,  o universo impactado fosse de um milhão de almas, 190 indivíduos seriam suficientes para promover, por exemplo, uma transformação social importante no Brasil. Isso, claro, se houvesse um plano estratégico para identificar, valorizar e fortalecer empreendedores sociais, distribuídos em diferentes regiões do país,.
Bons exemplos brasileiros são o sociólogo Betinho e a médica sanitarista Zilda Arns. O primeiro comandou, nos anos 1980, uma das mais importantes mobilizações nacionais contra a fome, alcançando resultados de doação de alimentos nunca antes registrados por aqui. A segunda, à frente da Pastoral da Criança, transformou uma simples multimistura em elixir contra a desnutrição de crianças pobres. Sua rede de 200 mil voluntárias, gerida com uma competência ímpar, fez a diferença na queda dos índices de mortalidade infantil nos rincões do país.
O economista bengalês, Muhamad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006, é certamente um caso internacional digno de nota. Com suas economias pessoais, deu início ao Grameen Bank, a  mais importante experiência de microcrédito do planeta.  Visionário, hoje prega a criação de empresas sociais como uma resposta para a melhoria da qualidade de vida de populações pobres em todo o mundo. Em comum, os empreendedores sociais têm enorme carisma, conhecimento amplo da causa que defendem, uma perseverança inesgotável  e uma capacidade particularíssima de atrair e mobilizar pessoas e recursos para a consecução de suas idéias.
Se hoje o mundo reconhece o impacto do empreendedorismo social, isso tem muito a ver com um ex-consultor da McKinsey & Company chamado Bill Drayton. Formado em Direito na Universidade de Yale e em Economia em Oxford, ele trabalhou na famosa consultoria por 10 anos e, em seguida, na Agência de Proteção Ambiental durante o mandato do presidente Jimmy Carter. À época, final dos anos 1970, nem se falava em aquecimento global, mas Drayton já defendia idéias originais como a de que as empresas deveriam atuar na proteção do meio ambiente estabelecendo compromissos voluntários de redução de metas de poluição  e fazendo comercialização de créditos de carbono.
Fora do governo, este senhor de fala mansa, óculos grandes e um jeito de monge começou a edificar um projeto que vinha assaltando os seus sonhos: criar uma organização cuja missão seria descobrir empreendedores com idéias sociais inovadoras e financiar a sua implantação. Conversou com muita gente, andou o mundo atrás de subsídios, testou hipóteses e chegou à conclusão de que não era um delírio. A organização, apesar de inusitada, fazia bastante sentido no mundo contemporâneo. Assim, em 1980, nasceu a Ashoka, nome dado em homenagem a um imperador indianos do século III a.c, que, em sânscrito, significa “ausência ativa de sofrimento.” Com um orçamento de partida da ordem de 50 mil dólares, recolhido do bolso de Drayton e de amigos entusiasmados, a organização deu os seus primeiros passos na Índia.
Em 2006, com uma receita de 30 milhões, a Ashoka já havia financiado 1800 empreendedores em 60 países. Esse pequeno e bravo exército tem feito revoluções importantes nos campos da assistência médica, educação, desenvolvimento econômico e promoção de igualdade e justiça social.  Para recrutá-lo, e a seus valorosos projetos, a equipe Ashoka estabelece um processo rigoroso de seleção que leva em conta o potencial impacto da idéia, a capacidade empreendedora do indivíduo e a sua disposição para manter a chama acesa a despeito das dificuldades e até a obtenção dos resultados esperados. Além de financiar os empreendedores sociais, a organização vem se dedicando a facilitar parcerias com empresas, governos e universidades, disponibilizar infra-estrutura e formar redes para intercâmbio, aprendizagem e sinergia entre os projetos.
No Brasil, onde já apoiou 250 empreendedores sociais, a Ashoka capacita seus “fellows”, por exemplo, para a elaboração de business plan. Este tipo de aporte técnico é, sem dúvida, uma das principais contribuições de organizações como a de Drayton. Ao valorizar noções de gestão típicas do setor empresarial, sem, no entanto, permitir que ferramentas úteis desprezem a lógica, as necessidades e os valores específicos do terceiro setor, a sua doação ajuda a formar os mais efetivos agentes de indução de mudança social  deste início de século. Apenas a título de reflexão: quanto valem para o planeta gente como Betinho, Zilda ou Yunus e as suas idéias inovadoras?

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