Livre pensar – Peter Senge

Livre pensar – Peter Senge

Educar para a sustentabilidade é criar a consciência de que é preciso querer aprender a conviver neste Planeta

“As pessoas só aprendem aquilo que querem aprender”. Ao repetir esta frase diversas vezes nas ocasiões em que concedeu as entrevistas que compuseram este depoimento à jornalista Janine Saponara, colaboradora nesta edição deIdéia Socioambiental, Peter Senge chama a atenção para a necessidade das instituições de ensino criarem a demanda para a educação para a sustentabilidade. Sobre educação para a sustentabilidade e empresas que aprendem, o professor do Massachussets Institute of Technology (MIT), autor do livro Quinta Disciplina (mais de 60 milhões de cópias vendidas e considerado pela Harvard Business Review um dos cinco livros mais importantes do mundo para os profissionais de negócios) Senge falou à Idéia Socioambiental:”Educação para a sustentabilidade? Só funciona se as escolas que aprendem e ensinam estiverem em comunidades que aprendem e ensinam para a sustentabilidade.
Peter Sange
Isto significa que as escolas e as comunidades têm que trabalhar em conjunto para promover as mudanças necessárias para ambas. Isto também significa que elas terão que, juntas, transformarem-se em “pensadoras sistêmicas”, deixarem o imediatismo de lado, abandonarem o trabalho por projetos de curto prazo. Isto vai requerer educação e, em alguns casos, reeducação em todos os sentidos, do jardim de infância à terceira idade.” Foi assim, numa resposta rápida que Peter Senge reagiu ao tema aqui proposto na seção Livre Pensar.
Aprofundando-se, descreveu que “sustentabilidade é sobre como viveremos todos juntos num mesmo Planeta”. “Só temos este planeta. Na minha opinião, tivemos um grande despertar. E as mudanças climáticas são a parte mais visível do limite ao qual chegamos de não podermos viver mais sem qualidade de vida, sem saúde física e mental, e continuando a lutar, a correr; tendo ataques de coração aos 45 anos com o médico dizendo ´Você sabe, é o stress!´”
“Tudo o que estamos vivendo e lendo na mídia sobre as mudanças climáticas é apenas o sistema terrestre mandando um sinal para as universidades, empresas e para nós mesmos, diretamente, de que não podemos mais viver do jeito que vivemos. Mas obviamente não é apenas sobre mudanças climáticas. É sobre como vivemos juntos neste mundo e quanto tempo levaremos para mudar o DNA de nossas principais instituições.”
“O mundo dos negócios está no centro, mas não estou falando apenas dele. Se pararmos para pensar, nos perguntaremos quais são realmente as instituições que estão moldando a nossa sociedade? As instituições de educação são fundamentais; as de formação profissional em primeiro lugar e as de escolas, empresas, governança pública e sociedade civil, ou seja, temos um cluster de instituições que realmente moldam como nossa sociedade funciona. Gradualmente a onda de sustentabilidade está atingindo todas essas instituições. Eu afirmo que as empresas foram apenas o primeiro grupo a ser atingido.”
O futuro da educação para os negócios
 
“Se você quer ver como será o futuro da educação para os negócios, deve observar o Team Academy. É como o futuro da educação, principalmente para a sustentabilidade, parece ser para mim”, garante Peter Senge. “Sem que ninguém me pedisse, me transformei, nos últimos 10 anos, no principal vendedor dessa idéia nascida na Finlândia. Realmente acredito nela.”
“O Team Academy é sobre aprender fazendo e para mim não existe outra forma de aprender. Este é o único jeito. Tudo o que aprendemos em nossas vidas, fundamental para nós, aprendemos fazendo: andar, falar, amar e evoluir. Fazemos tudo isso e nos tornamos seres humanos melhores. Portanto, nosso esforço tem sido sempre em torno do que podemos fazer para nos tornarmos ainda melhores? O fazer está presente. É claro que, em nosso sistema de educação atual, o aprender fazendo seria uma transformação radical. Por isso, sempre que começo a falar em Team Academy, digo: pense numa escola de negócios sem professores. A primeira reação é de surpresa e, pouco depois, consegue-se sentir uma pequena emoção, um brilho nos olhos do seu interlocutor.”
“Sempre tomo o cuidado de explicar que acho importante a autoridade exercida pelos professores sobre seus alunos. A experiência de vida é algo que sempre revivemos com honra e temos prazer em repassar. Mas não nego que o formato do ensino atual torna os alunos obedientes ao que ensina. E a obediência viola o primeiro princípio do aprendizado que é de os aprendizes aprenderem o que querem aprender, aprenderem fazendo e agindo em prol de algo com o que realmente se preocupem. Outro formato que elogio bastante no Team Academy, muito útil na educação para a sustentabilidade (assunto sobre o qual a informação já está disseminada nas pessoas que usam de diferentes formas o seu conhecimento) é a mudança de posição do professor, que volta a ser o mentor. Isso representa uma volta à mais antiga forma de sistema educacional de todas as culturas, em todas as sociedades durante toda a história da humanidade.”
Outro ponto muito importante abordado por Senge ao falar de educação para a sustentabilidade foi a construção de comunidades, onde, segundo ele, haverá sempre uma troca de experiências de vida e de aprendizados que poderão contribuir com a evolução constante dos seus integrantes. Criador da Society for Organizational Learning (SOL) e inspirador de várias outras comunidades no mundo, Peter tem sido um defensor da abertura de pensamento e da liberdade de ação. “Openess” é um dos termos mais cunhados por ele em todas as suas entrevistas e palestras.
Um conceito mais amplo de educação
 
Educar é ensinar… e aprendizado e treinamento, para Peter Senge, são conceitos completamente diferentes. “Grande parte do aprendizado que interessa, principalmente para a sustentabilidade de que precisamos para vivermos juntos, ocorre em nossas vidas, não em salas de aulas ou em treinamentos nas empresas.” Senge reconhece que as empresas são hoje grandes detentoras de informação e capazes de gerar grande parte do conhecimento do qual a sociedade necessita para se desenvolver de maneira equilibrada. Mas faz uma recomendação aos profissionais de recursos humanos: “parem de dar aulas: treinamento é apenas uma ferramenta para a gestão de pessoas. É uma ferramenta técnica.
Infelizmente as instituições, sejam elas escolas ou empresas, não têm a capacidade de desenvolver ninguém. O melhor que podem fazer é criar os ambientes e as oportunidades para que cada indivíduo queira se desenvolver; crie a sua demanda por educação e, no nosso caso aqui, por educação e sustentabilidade”, ressalta o pensador que, ainda neste ano lançará, no Brasil (editora Campus Elsevier) o seu mais novo livro, “A Revolução Necessária: o modo como os indivíduos e as organizações estão trabalhando juntos para criar um mundo sustentável”, publicado em junho último, pela Brealey Publishing (EUA). Nele, Senge analisa, em mais de 400 páginas, a forma como os indivíduos de empresas e ONGs têm colaborado para enfrentar os grandes desafios do planeta como, por exemplo, o aumento dos preços dos produtos alimentícios e agrícolas, a degradação e escassez de água, a dependência de combustíveis fósseis, e de materiais residuais gerados por níveis insustentáveis de consumo.
“A Revolução Necessária é muito semelhante à Quinta Disciplina”, afirma Senge, “porque cada um analisa, em sua época, o modo como as organizações podem expandir as suas fronteiras.” O autor cita como exemplo o trabalho conjunto da ONG Oxfam, de origem inglesa e com atuação em diversos países, e a Unilever, gigante mundial dos bens de consumo, que, juntas, fundaram o Global Sustainable Food Lab (Laboratório Global de Alimentos Sustentáveis), com o objetivo de promover a agricultura sustentável.
Para Senge, Oxfam e Unilever tanto observaram cuidadosamente o sistema alimentar global que concordaram que seria um “naufrágio à espera de acontecer”. A rede de projetos do Laboratório de Alimentos já soma mais de 50 anos de líderes mundiais nos mercados de alimentos e bebidas, incluindo a Coca-Cola e Starbucks; e ONGs do porte do WWF.
Senge não tem ilusões sobre o tamanho dos desafios de tornar as empresas e ONGs parceiras de trabalho e avisa: “o papel da academia neste campo é fundamental”. Para ele, a formação de profissionais preparados para lidar com diferentes setores e propósitos de existência começa no ensino secundário. “Não podemos pensar apenas na formação dos nossos líderes depois que dermos falta deles. A educação só mudará com a mudança das pessoas.”
ELIAS – Aprendendo com o Futuro assim que ele emerge
 
No século XXI, os problemas globais têm demandado novos líderes, capazes de transcender as barreiras que dividem governos, sociedade civil e empresas. Formar profissionais hábeis a construir essa liderança coletiva é a proposta do ELIAS – Programa de Formação para Líderes Emergentes para Inovação entre os Sistemas (Emerging Leaders for Innovation across Systems).
A metodologia do programa foi desenvolvida por pesquisadores do MIT – Massachussets Institute of Tecgnology, a pedido de Kofi Annan, que, quando secretário geral da ONU, percebeu a carência de lideranças intersetoriais no mundo e convocou Peter Senge para formatar um curso que possibilitasse esta capacitação.
O programa combina reflexão, diálogo, formação pessoal e sentimento de negócios. Nos 12 meses de duração do ELIAS, os participantes compartilham aprendizados e soluções para os problemas, o que amplia suas perspectivas, aprofunda seu comprometimento e desafia posturas profissionais.
A primeira turma do programa foi lançada em 2006, com 26 profissionais de 16 países. Desse grupo, participaram cinco brasileiros: Ilma Barros, consultora empresarial; Janine Saponara, jornalista; Marcelo Takaoka, empresário; Ming Liu, empresário e Ricardo Young, empresário e presidente do Instituto Ethos. Para os brasileiros, o ideal é ter um ELIAS no Brasil, a exemplo do que os colegas da Indonésia farão em 2009, com a aplicação local da metodologia criada pelo MIT.
Integram o grupo do ELIAS, lideranças de organizações como Unilever, British Petroleum Alternative Energy (BP), Basf, ONU, WWF, entre outras.
A opinião dos participantes do ELIAS:
 
“O que está faltando hoje no mundo é uma capacidade de liderança coletiva. Temos ótimas lideranças dentro das instituições, mas o grande problema do mundo hoje é como essas instituições se relacionam, como interagem entre si e com as comunidades ao seu redor. Este foi o campo onde começamos a desenvolver os primeiros passos do Programa ELIAS.”
Otto Scharmer, professor do MIT e um dos criadores do ELIAS
 
“As ONGs, empresas e governos não sabem trabalhar juntos. Nós não nos entendemos uns aos outros muito bem e não colaboramos uns com os outros em questões complexas. Todas as iniciativas que tentarem trabalhar na tentativa de aproximar os três setores e criar valores comuns entre eles serão relevantes.”
Carol Bettershell, Vice Presidente da British Petroleum Alternative Energy (BP)
 
“O que o ELIAS faz é trazer o estado da arte do que está acontecendo hoje. O programa agrupa a competência da liderança com a necessidade por mudanças reais. Ele traz parcerias e não apenas coloca pessoas competentes juntas.”
Monica Sharma, diretora de liderança e desenvolvimento de capacidades da ONU
 
“Antes de se tornar um líder, você tem que se tornar um ser humano.”
Torsten Penkuhn, diretor da BASF na Polônia
 

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