Brice Lalonde

Brice Lalonde

À beira do Rio

Por Cristina Tavelin

Apesar de já ter atuado como embaixador francês nas negociações sobre mudanças climáticas, ministro do Meio Ambiente e presidente da Mesa Redonda para o Desenvolvimento Sustentável na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), talvez Brice Lalonde esteja diante de seu maior desafio. Indicado por Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, para o cargo de coordenador executivo da Conferência Rio+20, Lalonde lidera aquele que pode entrar para a História como o evento da mudança ou da estagnação.

São muitos os dilemas postos à mesa de debate – desde a busca por uma grande coalizão global para reduzir os preços das energias renováveis até a sensibilização de lideranças e países para se tornarem mais solidários na edificação de um futuro comum. Lalonde, no entanto, mostra-se otimista. E vai além: prega o otimismo e a criatividade como qualidades necessárias neste momento de construção conjunta de soluções. Confira, a seguir, seu ponto de vista sobre as expectativas para o encontro.

Ideia Sustentável: Na sua visão, qual a importância dos líderes de negócios para a Rio+20, mesmo sendo esta uma reunião governamental?

Brice Lalonde: Os negócios têm um papel crucial na mudança para uma nova economia. Alguns têm uma postura de cuidado, outros de mais ação, no sentido de “precisamos avançar porque assim teremos vantagem no futuro”. Os governos precisam entender que a economia poderia caminhar muito melhor se as empresas cumprissem algumas regulações e normas. Então, deve existir diálogo entre os dois setores. Muitos diplomatas já estiveram no setor privado e sabem como ele funciona.

IS: Como o evento deve fomentar ações concretas?

BL: É necessário que os países assumam compromissos a serem cumpridos nos próximos 20 anos para alcançar uma economia sustentável – tratando especialmente dos temas de alimentação, energia, oceanos, solidariedade social. Além disso, precisam tomar decisões em todos esses níveis. Um dos pontos sobre o qual há consenso é energia. Há três dimensões relacionadas a essa questão. O primeiro é o acesso universal; o segundo trata da eficiência energética para as próximas duas décadas e, o terceiro, sobre como desenvolver melhor as alternativas limpas.

IS: Quais são os maiores desafios nesse processo de consenso e os primeiros passos para colocar em prática as discussões da Conferência?

BL: É muito difícil dar respostas às questões de todos os países reunidos lá. Mas em todos eles já existe essa discussão sobre “o que vamos fazer agora?”, “devemos esperar mais para agir?”. O Brasil mesmo, neste momento, discute seu Código Florestal. Há soluções locais e internacionais. Precisamos encorajar um acordo para chegarmos a um sistema de contabilidade além do PIB, por exemplo, porém com uma metodologia única, para não termos distorções. A grande questão é que há muito a se fazer antes de encontrar uma solução definitiva.  Então é preciso trabalhar dentro do tema mais urgente: pode ser a questão da escassez de água ou da inclusão das mulheres. Mas cada país tem uma situação distinta. Globalmente, água e energia são prioridades.

IS: Então o primeiro passo seria estabelecer temas prioritários para o desenvolvimento de ações?

BL: Sim. E a internet é muito eficaz nesse sentido, porque consegue conectar as pessoas em torno de um objetivo. Quando se define que a ação deve se dar sobre o tema da energia ou da água, pode-se convocar a todos virtualmente para trazer foco a essas questões e encontrar o financiamento adequado, por exemplo. A discussão do momento é: conseguiremos inventar uma taxa global com essa finalidade? Porque esse investimento não sairá dos orçamentos empresariais voluntariamente. Precisamos encontrar formas inovadoras de financiamento. Para tanto, teremos de usar a imaginação.

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