Natureza do negócio – A energia dos emergentes

Natureza do negócio – A energia dos emergentes

Há consenso entre os especialistas. A crise econômica gerada a partir do núcleo central do capital financeiro vai acelerar o processo de reformulação do mapa geopolítico. Nesse novo desenho, os chamados países emergentes conquistarão status de nações-líderes e passarão a fazer parte, com direito a voz e voto, dos maiores fóruns de decisão do planeta.
Como cidadão de um dos principais países emergentes, sinto-me na obrigação de propor algumas reflexões: O que vamos fazer com o poder? Que exemplo podemos oferecer ao mundo desenvolvido e aos demais emergentes? E, principalmente, que legado vamos deixar?
Nesse momento de transição, devemos ter a clareza de que se reproduzirmos o modelo de desenvolvimento tradicional, concentrador de renda, predador e injusto, estaríamos inviabilizando condições de vida digna para as futuras gerações. Os recursos naturais do planeta não suportariam atender a demanda do mercado emergente, caso sejam mantidos os padrões ainda prevalecentes de produção e consumo.
Parece muito claro que os países como o Brasil devem encontrar formas de direcionar o boom do consumo nas classes C e D a partir de produtos e serviços desenvolvidos de forma sustentável, como também ampliar a matriz energética cada vez mais limpa. Os nossos formuladores de políticas públicas, no entanto, parecem não ter percebido a nova conjuntura com a ênfase e a dimensão necessárias.
Uma rápida leitura do Plano Decenal de Energia – que traça as metas da produção de energia elétrica para o Brasil no período 2007-2017 – nos leva a pensar dessa forma. Embora ainda esteja em fase de consulta pública, o PDE  traz alguns pontos preocupantes. Um deles é a previsão de dobrar o parque termelétrico do país, com a instalação de 82 usinas até 2017, quase todas movidas por fontes de combustíveis fósseis, provocando aumento dos níveis de emissões de CO2, o principal indutor do aquecimento global.
Outra preocupação é a previsão de baixo investimento em energias alternativas. O texto inicial do plano mostra que avançamos muito pouco de 2002 para cá, quando foi instituído o Proinfa, programa destinado a aumentar a participação de energia elétrica a partir de fontes alternativas, como eólica e biomassa.
Para fugir do risco de déficit – cenário em que a oferta de energia é menor do que o mercado – estamos escolhendo o caminho mais cômodo de produzir eletricidade a partir da queima de combustíveis fósseis. Essa opção ignora os alertas científicos que servem para qualquer parte do mundo: se não começarmos a reduzir a carga de gases do efeito estufa até 2013, não conseguiremos atingir a meta de chegar em 2050 com um volume de emissão 50% inferior aos níveis atuais, o que induzirá efeitos climáticos imprevisíveis.
A sustentabilidade exige dos tomadores de decisão gama maior de variáveis em uma análise de cenários. Não se pode, por exemplo, optar por determinada fonte de energia apenas com base no custo de investimento do megawatt. É preciso um olhar no longo prazo e perceber que aportar recursos na expansão de energias limpas representa a certeza de que essas fontes, em um futuro muito próximo, ganharão escala e se tornarão viáveis economicamente.
Essa sinalização ficou evidente no discurso de posse do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o mais importante acontecimento político do momento: “Vamos atrelar o sol, os ventos e o solo para proverem combustível para nossos carros e nossas fábricas. E vamos transformar nossas escolas, nossas faculdades e universidades para que façam frente às demandas de uma nova era…”, disse Obama.
Vivemos um momento de extrema importância para mudanças de rumo dos modelos de negócios e do próprio padrão de desenvolvimento. Não obstante ao sofrimento de milhões de famílias sem trabalho, os solavancos provocados pela crise econômica devem servir como ponto de partida. As medidas adotadas para recuperação da atividade econômica precisam estar associadas à implementação de novas regras de mercado, estabelecendo uma visão ética e responsável sobre o lucro e investindo numa matriz energética de baixo carbono.

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