Natureza do negócio – COP15: a força da mobilização

Natureza do negócio – COP15: a força da mobilização


Realizada em dezembro do ano passado, a 15ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou simplesmente COP15, continua em pauta. A ampla repercussão antes, durante e depois da conferência global de Copenhague foi a maior vitória obtida por todos os segmentos da sociedade que lideram o movimento em direção à economia verde.
A mobilização da opinião pública mundial, transformada legitimamente em pressão política tanto na capital dinamarquesa como em outros centros urbanos do mundo, reduziu os efeitos da emperrada e pouco produtiva negociação diplomática entre os representantes das 193 nações presentes à conferência e induziu, para surpresa de muitos, uma mudança de posição, de última hora, de importantes líderes mundiais. Países de peso como China, Brasil, Índia comprometeram-se a estabelecer metas de redução de gases de efeito estufa. A nova posição dos Estados Unidos, influenciando aliados históricos como Canadá e Austrália, aliou-se à já consolidada política ambiental da União Européia e do Japão.
Esse novo cenário geopolítico – tenho esperança – vai produzir mudanças profundas para uma nova configuração do modelo de negócios e do padrão de desenvolvimento. Fazem parte desse novo bloco os maiores emissores e as principais economias do planeta. É preciso agora não esmorecer para que os discursos proferidos na COP15 tragam efeitos para vida real e consigamos chegar a 2050 com a temperatura média do planeta dentro das metas estabelecidas pelos cientistas do IPCC (sigla em inglês do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).
Quem acompanhou à distância a conferência de Copenhague, pôde perceber que o tema mudanças climáticas passou finalmente a fazer parte do dia a dia do cidadão comum. Testemunhamos um fenômeno social inédito. A começar pelo generoso espaço aberto pelos meios de comunicação tradicionais, passando pelas redes sociais de relacionamento nos sites e pelos debates entre especialistas de variadas tendências, e chegando às conversas na rua.
No entorno do Bella Center, onde aconteceram as negociações diplomáticas entre 7 e 18 de dezembro,  não houve espaço para tanta gente. A polícia dinamarquesa demonstrou uma truculência até então desconhecida para impedir o acesso dos milhares de ativistas procedentes dos mais distantes países. Apesar da neve e do frio, Copenhague nunca esteve tão agitada – com manifestações políticas, shows, exposições de fotos etc. Os organizadores da conferência subestimaram esse novo momento. A capacidade do Bella Center ficou limitada a 15 mil pessoas, embora 34 mil estivessem cadastradas. A COP 15 recebeu 560 inscrições de eventos paralelos, mas só disponibilizou 135 vagas.
Além de pressionar lideranças políticas, a mobilização produz massa crítica, desencadeando um saudável processo de motivação e estímulo à procura de novos caminhos para transformar em oportunidade de negócios o dramático desafio de reverter a curva do aquecimento global. A presença de “professores pardais”, representando ONGs e empresas, nunca foi tão numerosa numa conferência global sobre mudanças climáticas. Entre as propostas de inovações, várias delas apresentavam soluções eficientes para o problema da energia e do desmatamento, além de indicar novidades para a reciclagem.
Um projeto apresentado pela Nokia Siemens Networks, por exemplo, propôs a substituição das redes de eletricidade pelas chamadas redes inteligentes, a partir de fontes renováveis, viabilizando a alternativa para alcançar maiores benefícios financeiros e ambientais. Certamente, muitas dessas ideias serão incorporadas à rotina de empresas com visão de futuro. O meu terceiro livro – “Experiências empresariais em sustentabilidade” (Elsevier/Campus) – relata estratégias de empresas voltadas para a redução de emissões, como é o caso da EDP – Energias do Brasil que traçou a meta de chegar a 2030 com 70% de sua oferta de eletricidade gerada por fontes limpas.
O setor empresarial esteve presente na COP15 como uma força política inédita. O Business Day – evento paralelo promovido pelo WBCSD (sigla em inglês do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável) – contou com a participação de 40 palestrantes e 400 participantes registrados, incluindo 25 CEOs. As empresas – como resultado do crescente índice de participação ao longo dos últimos anos – foram finalmente reconhecidas, no âmbito da ONU, como protagonistas fundamentais. Mesmo com esses avanços, existe a necessidade de inovação de atitude com o estabelecimento de metas de redução de gases de efeito estufa.
O somatório de fatos positivos amplia nossa perspectiva por um mundo melhor. Se a COP 15 demonstrou a fragilidade da ONU em resolver a questão climática de uma forma multilateral, teve o mérito de transformar o tema em prioridade nas agendas políticas, estabelecendo o consenso inédito de direcionar as economias de todos os países para uma matriz energética de baixo carbono. Governos e empresas devem se entender para pôr em prática medidas mais vigorosas em defesa do clima e em busca de resultados concretos.
Fernando Almeida é presidente-executivo do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável

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