Estudo NEXT – RH: Redesenhando a gestão de pessoas

Estudo NEXT – RH: Redesenhando a gestão de pessoas

Por Joel S. Dutra
 

Nos últimos anos, a sociedade está cada vez mais consciente da necessidade de construir um pacto para preservar nosso planeta. As empresas, em particular, iniciam seu engajamento nesse movimento. Algumas delas já vinham desenvolvendo, ao longo das últimas décadas, movimentos importantes de responsabilidade social, fundamental em um país com tantas pessoas carentes como o nosso.

Mais recentemente, essas empresas ampliaram o movimento para a responsabilidade socioambiental, a qual vem ganhando espaço nas organizações brasileiras debaixo de diferentes bandeiras, como sustentabilidade, produção limpa e preservação ambiental. A questão que emerge é a do envolvimento da empresa nesse processo.

Esse movimento implica a percepção por parte das lideranças de que se trata de uma questão fundamental para o desenvolvimento do ambiente no qual a organização se insere e que, além dos ganhos para a sociedade e para as pessoas, haverá melhoria de imagem e ganhos de longo prazo para a empresa.

Essa percepção é fundamental para a construção de um pacto que crie uma ação ampla e consistente de cuidado com as pessoas, com o ambiente e com a sociedade, uma ação que mobilize as pessoas que trabalham na empresa, a comunidade que se relaciona com a organização, fornecedores e clientes em torno da ideia de sustentabilidade.

A necessidade de mobilização da empresa em um novo padrão comportamental implica um movimento de transformação cultural. No bojo dessa transformação podem ser pensados vários aspectos que envolvem não somente os assuntos ligados à questão ambiental. Podem ser trabalhados aspectos vinculados a vários pontos que permitem o desenvolvimento das pessoas e da organização. Em outras palavras, a questão ambiental pode ser o fio condutor para um movimento de desenvolvimento organizacional abrangente, provocando as pessoas a repensarem produtos, processos, relacionamento com o mercado e com a comunidade, organização do trabalho e contrato psicológico entre as pessoas e a empresa.

O potencial de mobilização é grande e representa um importante espaço político para a área de gestão de pessoas e para os profissionais que nela atuam. Temos vários exemplos de empresas que transformaram sua imagem, tanto no mercado consumidor quanto no mercado de trabalho, utilizando a bandeira da sustentabilidade ou da responsabilidade ambiental.

Creio que temos, neste momento, uma grande oportunidade para redesenhar o papel da área de gestão de pessoas, privilegiando sua atuação de parceiro estratégico e de agente de transformação organizacional – uma chance de sairmos do discurso e irmos para a ação concreta. O que estou propondo não é um caminho fácil de ser percorrido; há necessidade de aprendizagem sobre os novos papéis. Há necessidade, também, da área e seus profissionais deixarem algumas das atuais atribuições e responsabilidades, que trazem identidade e conforto, para incorporarem novas atribuições e responsabilidades, que ajudarão a construir uma nova identidade.

Para ajudar nesse processo recomendo algumas ações:

Buscar compreender o movimento de sustentabilidade empreendido por algumas empresas no Brasil e o papel da área de gestão de pessoas pode ser valioso. Se for possível, efetuar um levantamento dos ganhos obtidos por essas empresas em termos de mobilização, clima organizacional e lucratividade;

Engajar membros da equipe no estudo do tema e no levantamento de informações e ao mesmo tempo avaliar os espaços políticos existentes na empresa para a inserção do tema;

Abrir frentes, na medida em que um projeto começa a ser construído, com possíveis parceiros políticos internos e externos, apresentando ideias e resultados prováveis para a organização e para as pessoas;

Construir com a equipe um projeto de transição da área de gestão de pessoas, organizando novos espaços de trabalho e revendo os atuais, avaliando as competências já existentes na equipe e a necessidade de aquisição de novas, revisitando a rede de relacionamento interno e externo e fortalecendo alianças políticas;

Desenvolver um plano de trabalho para implantação ou revisão das ações sobre sustentabilidade, inicialmente com a equipe, posteriormente com formadores de opinião da empresa e finalmente com a alta administração.

Para o desenvolvimento desse trabalho, é importante a percepção de que se trata de um processo de aprendizagem contínua, tanto da equipe da área de gestão de pessoas quanto da empresa como um todo. Portanto, é fundamental o monitoramento contínuo, o estabelecimento de indicadores de sucesso e muita humildade para aprender com o outro.

Joel Dutra, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e coordenador do Programa de Estudos em Gestão de Pessoas (PROGEP) e do MBA de RH da FIA.

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