Estudo NEXT – RH: Sustentabilidade: dá para mobilizar e engajar pessoas?

Estudo NEXT – RH: Sustentabilidade: dá para mobilizar e engajar pessoas?

Por Leni Hidalgo Nunes

A relação entre gestão de recursos humanos e sustentabilidade é clara. Afinal, gente é quem faz as empresas; é quem toma as decisões; gente é quem age, quem protege; gente é quem destrói. Orientar pessoas para a adequada tomada de decisão, para uma ação consciente, para entender o que protege e o que destrói é cerne da função de Recursos Humanos, daí a óbvia relação entre os dois temas.

Mas acredito que há algo além para refletirmos sobre essa relação e as questões relacionadas a motivação e engajamento. Minha experiência ao longo dos anos com gestão de pessoas indica que elas se engajam numa organização a partir da compreensão do que considero como quatro pontos-chave, analisados a seguir.

Que empresa é esta? As pessoas se engajam pela identificação com a área de atuação da empresa: negócios de serviço ou industriais; de ciclo longo ou curto; negócios business to business ou business to consumer. Cada um tem uma especificidade, gera um tipo de atração, que leva a diferentes formas de engajamento. Outro aspecto relevante é a identidade da empresa, seus valores e sua cultura. Pessoas orientam sua busca pelos valores e saem das empresas por desalinhamento entre os seus próprios valores e aqueles que encontram na organização.

Para onde esta empresa caminha? Pessoas se engajam pela definição estratégica: por quais caminhos a empresa busca competitividade e gera valor; como garante uma performance diferenciada; como trata todos os stakeholders nesse processo. Elas se perguntam: esses caminhos têm a ver com o que quero para mim como pessoa e com o que quero desenvolver na minha trajetória profissional?

Com quem esta empresa caminha? Quem são as pessoas que estão na empresa? Com que critérios se contratam, demitem, promovem e desenvolvem profissionais? As pessoas se engajam pelas referências que encontram nas demais, pela identificação que têm com seu modo de agir, de pensar e também de decidir.

Como esta empresa se pereniza? Pessoas querem entender a perspectiva de longo prazo de uma organização, para poderem se encontrar – ou não – na história que ela escreve, no legado que pretende deixar.

Falar de engajamento e mobilização de pessoas em ações relacionadas à sustentabilidade se insere nesse contexto mais amplo. Mais do que práticas isoladas, vinculadas aos aspectos de responsabilidade social, o que engaja é encontrar a sustentabilidade inserida na identidade e nos valores, na estratégia, na gestão de pessoas e na visão de longo prazo da organização.

Um dos caminhos é a criação de projetos de negócios que materializem a sustentabilidade nessas quatro dimensões. Tomemos um exemplo possível: o desenvolvimento de uma solução de acesso a recursos escassos e/ou críticos – tais como água, energia, transporte – em uma comunidade carente por uma empresa que opere em uma dessas áreas.

Uma iniciativa dessa natureza desenvolve um know how diferenciado: inicialmente demanda uma habilidade de entendimento dos processos de gestão.  E a gestão pública é uma escola diferenciada: não há o conceito de “lucro” nessa história (ou não deveria haver).

Gestão pública tem (ou deveria ter), por detrás, o conceito de desenvolvimento e que, via de regra, leva tempo. A atuação em um projeto dessa natureza promove competências de gestão; visão de longo prazo; compreensão de variáveis complexas e, muitas vezes, contraditórias; capacidade de negociação; e, acima de tudo, sensibilidade para com as necessidades básicas e fundamentais das pessoas.

Em segundo lugar, uma solução para acesso a recursos básicos em uma comunidade carente, onde o recurso financeiro não é abundante, demanda criatividade de solução. E essa criatividade impulsiona a inovação.  Esse tipo de projeto pode ser também uma rica fonte de melhoria de performance para a organização, na medida em que suscita saídas heterodoxas, que promovam revisões de processos internos.

A solução desse tipo de projeto pode, também, exigir uma alternativa nova: a construção de parcerias estratégicas e a busca por formas diferentes de financiamento, fomentando, portanto, o empreendedorismo, dentro e fora da organização.

Quando se traz a uma comunidade carente o acesso a recursos antes não disponíveis, quase que inevitavelmente os hábitos dessa comunidade se alteram e essa mudança pode ter um impacto positivo ou negativo no “novo” recurso. Para garantir o uso adequado dele, faz-se necessário um trabalho de preparação da comunidade, de desenvolvimento de outros hábitos. E, aqui, mais um conjunto de competências desenvolve-se, fundamentalmente vinculadas ao entendimento da cultura.

Todos esses são aspectos que promovem o desenvolvimento de quem se dedica ao projeto, e essa possibilidade mobiliza e engaja as pessoas. Não podemos esquecer que acesso a recursos básicos está vinculado à melhoria da qualidade de vida, aumento da longevidade da população, promoção do bem-estar e da cidadania.

Uma empresa que se dedica a projetos de melhoria dos indicadores de qualidade de vida em uma comunidade deixa um legado, de algo novo; e pessoas se mobilizam e se engajam com ações que deixam um legado.

Entendo e apoio iniciativas para envolvimento de funcionários em trabalhos voluntários ou ações de busca de redução de desperdício e reciclagem, como formas de mobilização para a sustentabilidade. Mas vejo que é possível avançarmos para uma atuação mais abrangente e estratégica, especialmente na área de Recursos Humanos. Estimulo os colegas a apoiarem a busca de projetos de negócio como fonte de mobilização e engajamento das pessoas em torno da sustentabilidade.

É fato, porém, que nem sempre – e também em função da natureza da empresa – é fácil identificar projetos como o exemplo acima. Há ainda outros caminhos para reforçar o engajamento e a mobilização – iniciativas, fundamentalmente, baseadas em quatro pilares:

  1. O comportamento da liderança em torno do tema: cuidar de como a sustentabilidade é tratada nos fóruns de debate de negócio; como orienta as decisões de investimento e a alocação de custos e recursos; como direciona a priorização de projetos, por exemplo. Não falo, pois, do discurso da liderança sobre sustentabilidade, mas da ação, tomando-a como parâmetro de decisão. As pessoas se engajam e se mobilizam por exemplos.
  2. Os processos organizacionais: garantir que os processos organizacionais (produção, marketing, vendas, por exemplo) tomem a sustentabilidade como orientação. Que fornecedor escolhemos? Como se dá a relação com os clientes?  O que orienta os processos produtivos (tratamento de efluentes, gestão de energia… etc.). Processos existem para orientar a atuação das pessoas. Se queremos mobilizá-las e engajá-las na sustentabilidade, os processos têm de orientar isso.
  3. Os símbolos que são reforçados – ou eliminados: é preciso cuidar das histórias que contamos sobre a organização (elas consideram ou não a sustentabilidade?), dos rituais que reverenciamos, dos ritos que instalamos. Segurança nas empresas com riscos industriais, por exemplo, se insere na cultura a partir de símbolos e rituais, que mobilizam as pessoas. Se queremos que a sustentabilidade tome o mesmo caminho, há que se fomentar os símbolos.
  4. As formas de reconhecimento: é da natureza do ser humano se mobilizar por reconhecimentos, de toda a sorte. Então, eles também devem refletir sustentabilidade: como definimos o modelo de compensação? Em que critério dele entra a sustentabilidade? Que parâmetros orientam as avaliações de performance?  Qual o impacto da sustentabilidade nessa avaliação? Como estimular a participação em ações de sustentabilidade? E, aqui, entram as ações de estímulo à participação em projetos de voluntariado, fomento à apresentação de projetos na área, por exemplo.

Enfim, engajar e mobilizar colaboradores em torno do tema sustentabilidade é um processo estratégico, que relaciona ações de diferentes naturezas, desde a construção de projetos de negócio até processos de gestão de pessoas. Mas ele só faz sentido se refletir uma genuína intenção de walk the talk. Traduzindo: faço o que falo, falo o que penso e sinto e penso que sustentabilidade tem real valor. Portanto, sinto uma grande paixão por essa causa!

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