O que vem por aí

O que vem por aí

Por Cristina Tavelin

Manter-se estagnado certamente é muito mais confortável do que realizar qualquer movimento para sair do lugar. Trata-se do famoso comodismo. Até recentemente, vivia-se – quase por inércia – um modelo econômico agressivo e excludente. Com o agravamento dos problemas sociais, econômicos e ambientais, a atual estrutura já dá sinais de esgotamento. Para enfrentar os desafios faz-se necessário alterar os rumos da produção e do consumo, a partir de uma revisão de valores.

“O modelo atual é muito avesso à questão da sustentabilidade – nos embates frontais com o lucro, o segundo sempre sai ganhando. Porém, com atitudes inteligentes, é possível fazer com que a economia cresça sem prejudicar o capital natural e sem gerar pobreza, na outra ponta, devido à utilização indevida de recursos”, destaca Homero Santos, professor da Fundação Dom Cabral, membro-fundador da Comissão de Estudos de Sustentabilidade para as Empresas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Núcleo de Estudos do Futuro (NEF) da PUC-SP.

Nesse processo inevitável de transição, o mais difícil de mudar encontra-se menos no aparato tecnológico e mais na mentalidade. De acordo com Cláudio Boechat, professor da Fundação Dom Cabral e membro do Núcleo Andrade Gutierrez de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa, existe uma preocupação entre os países de manter certos aspectos da antiga economia, o que pode atrasar o avanço da sustentabilidade – estratégias têm sido desenvolvidas para fazer o “modelo verde” funcionar, porém de tal forma que se mantenha uma certa hegemonia política e influência cultural. “Temos organismos internacionais sendo criados, acordos entre as partes, tudo numa tentativa de estabelecer uma governança global sobre essas questões. Isso é positivo. Mas os países mais desenvolvidos ficam batendo na tecla do interesse particular e criam dificuldade para se estabelecer os principais desafios comuns e decidir qual o melhor caminho para superá-los”.

Há cada vez mais temas de caráter global e, portanto, a necessidade de unir mais atores para resolvê-los. Para isso é preciso que as partes tenham um entendimento amplo das questões socioambientais. “As grandes empresas e países definitivamente devem pensar globalmente, especialmente por suas cadeias de fornecimento estarem espalhadas por muitas regiões – portanto precisam compreender as questões de sustentabilidade onde quer que ponham os pés”, destaca Joel Makower, presidente do GreenBiz Group.

Diante desse quadro, é praticamente impossível ficar de fora e permanecer competitivo no mercado. Em atenção ao novo cenário, as empresas começam a mudar suas estratégias. De acordo com Boechat, o setor privado encontra-se num processo de internalização da sustentabilidade, entre outros motivos pela sinalização de mecanismos financeiros da comunidade internacional.  “Existe uma evidente tentativa de criar as bases da economia verde. As organizações, percebendo esse movimento, estão tentando jogar o jogo – entender como se opera, como podem tirar vantagem disso e qual será sua dimensão futura para estarem preparadas para o que vem pela frente.”

Com atuação global, a Embraco – empresa brasileira de compressores herméticos para refrigeração doméstica – se viu diante da necessidade e da possibilidade de investir em produtos de alta eficiência energética.  “Participamos de vários processos globais porque, além de fabricar e vender no Brasil, exportamos cerca de 60% da produção – então tivemos de nos adaptar rapidamente às exigências e demandas de regulamentações globais”, destaca  Rosangela Coelho, diretora corporativa de Comunicação e Sustentabilidade da companhia.

E, apesar dos riscos que envolvem qualquer mudança, as oportunidades surgem por todos os lados nessa fase.  De acordo com o estudo Visão 2050 – produzido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) a partir de um projeto com 29 empresas globais associadas ao World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) -, elas serão inúmeras: desde o desenvolvimento e manutenção de cidades e infraestruturas, visando reduzir as emissões de carbono e alcançar desperdício zero, até o aprimoramento e gerenciamento de biocapacidades, ecossistemas, estilos de vida e modelos sustentáveis. Porém, para dar o andamento adequado e efetivo a esse processo, é preciso questionar e inovar.

“A inovação nesses meios requer uma liderança criativa de empresas que comecem a perguntar ‘o que nossos clientes precisam’ em vez de ‘como podemos vender mais’, destaca Gary Gardner, pesquisador sênior do Worldwatch Institute.

Um mundo de excessos chega ao fim

Todos os dias, recursos naturais são extraído em quantidades incalculáveis. Além disso, desastres ambientais – como vazamentos de petróleo, por exemplo – poluem e destroem de tal maneira os ecossistemas que é igualmente impossível prever seu alcance ao longo dos anos. Some-se a isso a desigualdade de acesso a esses recursos e uma cultura de consumo baseada no status. Está montado o complexo quadro de exaustão diária do planeta.

De acordo com o estudo Visão 2050, em apenas 40 anos teremos um acréscimo de cerca de 30% no número de habitantes em todo o globo – o que representa bilhões de novos consumidores. No Brasil, como em outros países que se desenvolvem rapidamente, classes emergentes passam a consumir cada vez mais. Estabelece-se, portanto, um embate entre empresas que precisam vender, um planeta no limite dos seus recursos e indivíduos confusos por estímulos dos dois lados – a crescente discussão socioambiental e, ao mesmo tempo, o conforto que o consumo pode oferecer. “Numa sociedade competitiva, o consumo condicional (de bens supérfluos) ascende na medida em que as classes C e D estão galgando degraus socieconômicos”, destaca Santos.

Para Ana Paula Grether, coordenadora do Relatório de Sustentabilidade da Petrobras e representante da Indústria na delegação brasileira na ISO 26000, ainda não há tanta pressão nem uma ação muito forte por parte dos consumidores – o que ocorre, atualmente, é um debate sobre como os indivíduos podem ter suas necessidades atendidas dentro dos limites do planeta. “É uma reflexão do meio acadêmico, do mercado e das empresas, não surge ainda como um movimento individual dos consumidores. Porém, esse momento deverá chegar, porque não adianta pensarmos utopicamente se as pessoas não fizerem a sua parte”, avalia.

Por outro lado, uma questão ainda nebulosa no debate da sustentabilidade – cuja variação depende muito de quem o enxerga – é o que deve vir primeiro: a mudança de mentalidade dos indivíduos ou da estrutura que os influencia?  Transformar um estilo de vida arraigado nas últimas décadas da noite para o dia, para evitar um colapso ambiental, não é um movimento nada simples de se fazer.

De acordo com Makower, muitas das mudanças exigidas atualmente são desestimulantes, porque destacam no discurso a condição de “culpa” ao mesmo tempo em que não apresentam outras possibilidades – criando uma certa imobilidade e descrença mesmo naqueles que desejam agir com mais responsabilidade. “Infelizmente, a maioria das ações sugeridas às pessoas para proteger o meio ambiente exige sacrifício, preços mais elevados ou inconveniência – ou seja, não são atitudes ‘melhores’. Esse problema precisa ser superado – devemos entender o que o conceito de ‘melhor’ significa para indivíduos, famílias e comunidades do mundo, para gerar as mudanças de que precisamos”, avalia.

Com o estabelecimento da sustentabilidade como tema-chave na sociedade, as empresas passam a balizar suas ações para a próxima década também incorporando a conscientização de seus públicos. “Os maiores desafios nesse período estão em contribuir para a conscientização dos consumidores, colaboradores e da cadeia de valor, além de estimular práticas e ações mais sustentáveis. Isso inclui desenvolver produtos, tecnologias e serviços que permitam a todos fazer a sua parte”, destaca Vanderlei Niehues – gerente geral de Sustentabilidade da Whirlpool Latin América.

Para Gardner, do Wordwarch Institute, o grande desafio da era digital é manter e reconstituir o contato humano com a natureza, que acaba se perdendo quando os meios eletrônicos permeiam demais a vida cotidiana. Nesse sentido, a educação precisa ser revista para que a relação dos indíviduos com o meio ambiente tenha seu vínculo restabelecido. “As escolas deverão basear a educação em um sentido de lugar e de conexão com o ambiente natural. O tema tem de deixar de ser tratado separadamente – muitas vezes opcional ao longo do currículo -, de modo que os alunos possam compreender todos os assuntos através da lente da sustentabilidade”, pontua.

Modelos de negócios inovadores

Para reestruturar a economia, modelos que integram um grande número de pessoas em uma cadeia produtiva baseada na cooperação têm sido uma das saídas mais acertadas. Nesse cenário, não apenas os “peixes grandes” vão se destacar. “A próxima onda é a capilarização da sustentabilidade entre pequenas e microempresas”, destaca Santos. Lançado no último mês de abril, o Centro Sebrae de Sustentabilidade, no Mato Grosso, servirá como um núcleo de acumulação e difusão de conhecimento nesse nicho.

Com o objetivo de atender a essa demanda, surgem diferentes modelos de financiamento. Segundo o estudo Visão 2050, iniciativas bem-sucedidas, como a do Banco Grameen – primeira instituição especializada em microcrédito, concebida por Muhammad Yunus – e da Kiva.org, plataforma online de microfinanciamento, estão sendo replicadas mundo afora. E algumas empresas também inovam: em vez de emprestar dinheiro, tomam produtos emprestados. O relatório indica ainda que esquemas de cofinanciamento entre os setores público e privado podem auxiliar no enfrentamento de questões associadas a riscos de custos irrecuperáveis e longos períodos sem retorno de investimento.

As parcerias estarão em alta nos próximos anos: entre grandes empresas, setor público e privado, corporações e clientes – até mesmo entre concorrentes. “As companhias estão aprendendo que a resposta à sustentabilidade requer novos níveis de inovação, e exige, muitas vezes, um olhar para fora de seus muros na busca por ideias, tecnologias e modelos de negócios. Essa expertise não é algo fácil de desenvolver e aqueles que aprenderem a colaborar mais efetivamente terão vantagem competitiva”, destaca Makower.

Nesse processo, os governos devem atuar na criação de oportunidades. De acordo com Boechat, a produção de biocombustiveis no País, por exemplo, representa uma possibilidade muito promissora para a sustentabilidade, pois requer uma postura responsável devido à concorrência com a produção de alimentos, uso da terra e aspectos sociais envolvidos na agricultura “Não é apenas uma oportunidade bacana, vai modificar a forma de fazer”, destaca.

No Japão, o programa Top Runner determina que os produtos mais eficientes em termos materiais e de energia se tornem padrão para todas as empresas no prazo de cinco anos. “O processo está em curso, criando constantemente maior eficiência entre todos os produtores. Orientações desse tipo serão necessárias para ajudar a assegurar um progresso constante e rápido na criação de economias mais sustentáveis”, indica Gardner, do Worldwatch Institute.

Em todo o mundo, o investimento em produtos verdes é uma tendência que veio para ficar. Observando esse cenário, a Philips traçou as metas para sua produção nos próximos anos. “Em 2015, metade do faturamento da empresa virá das vendas de produtos verdes”, prevê Walter Duran, diretor de Sustentabilidade da Philips do Brasil.

Para Marcelo Cardoso, vice-presidente de Desenvolvimento Organizacional e Sustentabilidade da Natura, um vetor muito importante é o da inovação, que precisa de um impulso das próprias empresas para efetivar a sustentabilidade como parte definitiva dos negócios. “O mercado brasileiro de reciclados, por exemplo, é muito incipiente e pequeno – importamos garrafas PET para transformar em novos produtos. Por isso a inovação na construção de mercados e desenvolvimento de novas soluções é fundamental”, avalia.

O estudo State of Green Business 2011 (O Estado dos Negócios Verdes), produzido pelo GreenBiz Group, mostra que a Ásia está saindo na frente nessa direção, com a China se tornando um produtor eficiente de uma série de inovações verdes – de células solares e turbinas eólicas a baterias para veículos elétricos. Além disso, segundo o relatório, várias empresas da região mostraram que estavam a caminho desse futuro, em 2010, com a LG anunciando investimento de US $18 bilhões, nos próximos dez anos, para diminuir sua pegada de carbono em 40% e desenvolver produtos mais ecológicos.

Outro movimento que ganha força é a troca de bens e serviços, uma tendência de grande êxito em diversos países, na tentativa de mudar o rumo da atual cultura de consumo. Grande parte dos produtos que compramos são utilizados apenas uma pequena parte do tempo, depois ficam ociosos. Hoje, com o uso de celulares, tecnologia GPS e web – destaca Makower, do GreenBiz – “podemos localizar as pessoas que têm o que precisamos ou que precisam do que temos”.

“Alguns modelos de negócios emergentes de ‘consumo de colaboração’ permitem viver bem sem ‘possuir’ tudo. Promovê-los é um meio significativo para que as economias emergentes desenvolvam culturas não prejudiciais ao meio ambiente e ampliem o acesso a produtos e tecnologias modernas”, avalia. Nesse sentido, alguns aspectos deverão ser considerados para que sejam realmente transformadores. De acordo com Gardner, o primeiro deles é reduzir radicalmente as pegadas material e de energia. O segundo, assegurar que os ganhos em eficiência não se percam em níveis mais elevados de consumo. “Isso requer uma série de mudanças e a revisão do atual modelo. O ‘efeito rebote’ é bastante comum: carros ou aparelhos se tornam mais eficientes, o que leva as pessoas a comprarem itens maiores e mais equipamentos, anulando, dessa forma, os ganhos de eficiência conquistados a duras penas”, pontua.

O pesquisador cita o compartilhamento de carros como uma maneira inteligente de atender à necessidade de transporte privado de uma forma eficiente. Outro bom exemplo é o de empresas como a Xerox e outras do setor: alugam máquinas em vez de somente vendê-las.

Para Denise Hills, superintendente de Sustentabilidade do Itaú Unibanco, estabelecer práticas, desenvolver metodologias e incorporar essa nova linguagem ao mercado deve ser o grande desafio – e a maior oportunidade – para as empresas no contexto atual. “A questão é como viabilizar isso num mundo com cada vez mais restrições. Estamos todos falando a mesma língua.”

Formando uma cadeia de valores

Tendo em vista que uma empresa não se sustenta sozinha, sobretudo diante dos desafios futuros, articular um trabalho próximo aos stakeholders é um dos movimentos mais importantes nos próximos anos para os entrevistados consultados nesta edição de Ideia Sustentável.

Na Amanco, um curso técnico desenvolvido em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), em 2005, já formou 32.000 instaladores hidrossanitários pelo Brasil. Para Marise Barroso, presidente da empresa, não oferecer suporte ao desenvolvimento dos indivíduos dentro da cadeia produtiva pode resultar na falta de mão-de-obra qualificada no futuro. “As empresas que adotam a postura de ‘contratar quem está disponível no mercado’ não têm a sustentabilidade como foco estratégico do negócio, porque não trabalham em conjunto para que cada um dos elos da cadeia se desenvolva na mesma velocidade. Isso pode gerar um gargalo de colaboradores quando elas precisarem”, avalia.

Se há alguns anos as empresas tinham de se preocupar apenas com riscos diretos relacionado à reputação, operações e meio ambiente, entre outros, hoje a história é diferente – também cobram e são cobradas pela sociedade em relação a seus fornecedores.

Ana Paula, da Petrobras, cita o trabalho que a Global Reporting Initiative (GRI) desenvolve sobre relatórios na cadeia de suprimentos e a constituição de um grupo específico para tratar a questão dentro do setor de petróleo e gás como duas evidências desse avanço. “As empresas já entenderam essa demanda e agora a sociedade também irá cobrar atuação próxima aos fornecedores”, ressalta.

O trabalho em conjunto com cooperativas, impulsionado por esses novos modelos de negócios, também cria uma nova relação entre empresas e fornecedores. Para Fernando Von Zuben, diretor de Meio Ambiente da Tetra Pak, que hoje trabalha com 600 cooperativas, a ideia de cada organização ser responsável não apenas pelo seu entorno deve se propagar por todos os setores da economia.  “Não se pode falar apenas do trabalho no local onde as empresas estão instaladas, pois seus produtos e serviços chegam a todo o País. Por meio de uma atuação mais ampla com as comunidades é possível levar o conceito de desenvolvimento sustentável a várias regiões. Nesse sentido, atualmente, temos uma deficiência no setor privado”, avalia.

A voz de quem faz parte

A importância do diálogo entre os diversos setores da sociedade como capacidade básica para o desenvolvimento da cultura rumo a uma nova economia é unanimidade entre os especialistas. Em nações mais avançadas no tema, essa interação intersetorial é efetiva e constante. “Os diálogos são estabelecidos não somente em relação às questões macroeconômicas, mas relacionados a tecnologia e finanças, por exemplo, unindo governos, academia e empresas para tratar de assuntos necessários ao desenvolvimento dos países”, destaca Boechat.

Para chegar a esse nível – fundamental aos alicerces da nova economia – a promoção de uma mudança de cultura e mentalidade é fundamental. De acordo com Santos, no Brasil o diálogo se baseia em dois aspectos: um inerente à própria atividade econômica e outro cultural. “Em relação ao primeiro, há defasagem entre discurso e prática, porque as organizações gostam de ouvir, mas não aplicar o que dizem – o diálogo tem esse aspecto problemático, pois mexe com uma estrutura interna de poder. Em relação à cultura, tratamos o governo como se fosse a matriz e os demais setores, as colônias. Não se estabeleceu uma via de mão dupla, as pessoas se aproximam sempre de cabeça baixa.”

Como ponto positivo, o consultor destaca a estreita relação do Brasil com a GRI, que tem balizado e compelido as ações das empresas para a sustentabilidade, tornando os relatórios quase uma regra para aquelas que desejam falar do tema. Outro ponto de avanço no diálogo ocorreu durante a Conferência de Copenhague (COP-15), quando a classe empresarial brasileira aproveitou a oportunidade para estreitar laços, impulsionar a discussão da sustentabilidade no País e elevar a imagem do Brasil no exterior. “Poucos meses antes da COP-15 as companhias se uniram e pressionaram o governo a se posicionar, mostrando um amadurecimento do diálogo – que não acontece do dia para a noite e faz parte do processo de integração entre os setores na busca de soluções para os desafios das mudanças climáticas”, avalia Homero Santos.

Além disso, destaca o especialista, a continuidade dessa discussão nos últimos dez anos traz um certo otimismo ao seu desenvolvimento. Ele ressalta, no entanto, a necessidade de consciência e vontade política de ambas as partes, empresas e governos, para prosseguir com o avanço.

Para Alexandre Di Ciero, gerente executivo de Sustentabilidade da Suzano, o governo poderia desempenhar de forma mais efetiva seu papel rumo às mudanças. “As questões socioambientais ganharam destaque nas últimas eleições, mas é crucial manter o tema vivo em todas as gestões e esferas. O setor público poderia exercer o papel central de grande indutor da sustentabilidade nas discussões, algo que ainda não faz.”

Outro exemplo de evolução do diálogo foi a discussão em torno da Política Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada no final de 2010. O debate uniu empresários, sociedade civil, políticos e governo federal. “A lei representou um grande avanço institucional, que levou o debate da sustentabilidade a todos os níveis decisórios da sociedade brasileira”, pontua Von Zuben, da Tetra Pak.

A natureza das novas tendências

Muitas das tendências que devem vir para ficar nos próximos anos já podem ser percebidas desde agora – mas seguirão um percurso ainda indefinido. De acordo com o relatório Visão 2050, passaremos por um período de “adolescência turbulenta”, entre 2010 e 2020, quando as questões de sustentabilidade percorrerão os níveis de crise, clareza e ação.

Segundo o relatório, ações rápidas, radicais e coordenadas serão imprescindíveis, e um novo senso de urgência ajudará a estabelecer as condições para a reorientação do crescimento global. E, para incluir de forma efetiva esse tema no mundo dos negócios, a palavra-chave é precificação – provavelmente o desafio mais complexo da próxima década.

Makower cita a parceria em andamento entre a empresa Dow Chemical e a organização The Nature Conservancy para avaliar o preço dos serviços ambientais e como eles afetam as operações da companhia a partir de avaliações locais. “O corpo de conhecimento relacionado à compreensão e precificação de serviços de ecossistemas naturais está em sua infância e esse é um trabalho relevante para encontrarmos soluções de mercado para os desafios ambientais”, destaca.

O desenvolvimento desses mecanismos de aferição de “valor” do meio ambiente mudará a cara da economia. No setor bancário, por exemplo, a avaliação de riscos socioambientais e climáticos nas operações soma-se à precificação, constituindo aos poucos uma nova agenda. “Por que eu preciso precificar uma floresta, do ponto de vista de um banco? Porque posso recebê-la como garantia. É possível estruturar ações financeiras considerando esses ativos como parte da operação”, avalia Carlos Nomoto, superintendente de Desenvolvimento do Grupo Santander.

De acordo o relatório Visão 2050, as normas contábeis começam a integrar externalidades positivas e negativas, com investidores rapidamente incorporando essas novas medidas nas tomadas de decisão, a partir de estruturas de avaliação desenvolvidas por iniciativas como a The Economics of Ecosystems and Biodiversity – TEEB (Economia de Ecossistemas e Biodiversidade). Ainda em relação à biodiversidade, diversas discussões importantes têm sido realizadas – inclusive pelo Movimento Empresarial pela Biodiversidade (MEB) brasileiro, que coloca o tema em pauta entre as corporações nacionais.

Outro assunto que deve emergir nos próximos anos é a gestão da água – de acordo com o relatório State of Green Business 2011, a questão foi subindo na agenda das empresas e é vista como “o novo carbono”, devido à grande quantidade de esforços direcionados a ela.

No Brasil, algumas iniciativas de agora deixarão marcas nos próximos anos – sobretudo considerando-se que a próxima Conferência de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (Rio +20) será realizada por aqui. Mas, como de praxe, diante da velocidade das mudanças necessárias neste momento de transição, não se sabe ao certo aonde elas vão nos levar. A chegada da nova ISO 26000 – atualmente em processo de absorção e conversão em indicadores pelo Instituto Ethos -, segundo Santos, vai causar um novo movimento nas empresas. Além disso, muita coisa deverá mudar na área pública. “Temos duas peças regulatórias muito influentes, uma já aprovada, sobre resíduos sólidos, e outra em debate, sobre o código florestal – esta afetará diretamente o agronegócio. Elas irão determinar a avaliação dos outros países sobre o Brasil quanto ao seu compromisso com a sustentabilidade nos próximos anos”, finaliza.

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