Os empreendedores sustentáveis

Os empreendedores sustentáveis

Não passa sequer uma semana sem que chegue á caixa de e-mails desta coluna a história de algum bem-sucedido empreendedor sustentável no Brasil. Sob al nome ou título, encontra-se normalmente um indivíduo jovem (senão de idade, no espírito), com boa formação, forte capacidade de execução, inovador por vício e focado em negócios que já incorporam os princípios do triple botom line.
Ao contrário da maioria dos empreendedores brasileiros, que empreendem por necessidade, esses novos líderes verdes o fazem pelo gosto de explorar oportunidades. Não oportunidades do passado, mas do futuro que se comprazem de construir à frente dos outros. O que os distingue é que buscam o lucro sem abrir mão de suas crenças. Mais do que isso, lucram justamente por causa de suas crenças no paradigma de que é possível obter resultados financeiros com equidade social e conservação ambiental.
Nessa confraria de criadores de destinos, merecem destaque dois achados do Instituto Empreender Endeavor, uma organização sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável do Brasil por meio do apoio a empreendedores e inovadores e do incentivo à cultura empreendedora.
Um deles é Thai Quang Nghia. Fugido do comunismo no Vietnã, ele chegou ao Brasil em 1979, depois de ser resgatado, em alto mar, num barquinho de pesca, por um petroleiro da Petrobrás. Empreendedor serial, muito ligado à natureza, ganhou fama no País, em 2003, ao criar a Góoc para fabricar calçados, bolsas e roupas a partir de pneus e lonas reciclados de caminhões. Hoje seus produtos estão em mais de 10 países. E ele quer tornar global a sua marca.
Curitibano de nascimento, sorocabano por adoção, Bento Massahiko Koike é outro personagem com história interessante. Aluno brilhante desde o colégio, quando inventou um submarino para duas pessoas movido por pedais, Koike se formou engenheiro aeronáutico pelo ITA de São José dos Campos, trabalhou no Canadá e fez pesquisa na Alemanha. Em 1995, fundou a Tecsis, segunda maior fabricante de pás para geradores de energia eólica. Com tecnologia 100% nacional, já comercializou mais 13 mil peças em todo o mundo. Seu negócio segue literalmente de vento em popa. E o mercado só faz crescer.
A esse time, podem se juntar ainda outros empreendedores sustentáveis como o engenheiro carioca Cláudio Bastos, da Cbpak (embalagens biodegradáveis), Luiz Chacon da Super Bac (fertilizantes orgânicos) e Marcelo Rodrigues, da Amazon Dreams (biotecnologia). Hoje seus empreendimentos faturam respectivamente R$ 1,5 milhão, R$ 35 milhões e R$ 1,5 milhão. Daqui a quatro anos, devem gerar resultados estimados em R$ 10 milhões, R$ 300 milhões e R$ 5 milhões.
O horizonte promissor  do negócio de Bastos encontra amparo no fato de que cada vez mais consumidores vão querer comprar produtos em embalagens feitas a partir de fontes renováveis (amido de mandioca, no seu caso) e não de isopor. O lucro certo de Chacon decorre da demanda mundial crescente por soluções biotecnológicas que assegurem a qualidade da água e a fertilidade do solo. A aposta de Rodrigues tem tudo para dar certo na medida em que mais empresas, em todo mundo, estão desejando adquirir compostos bioativos da flora amazônica, como o açaí, o ingá e o murici.
Na história de cada um desses empreendedores sustentáveis, observam-se alguns pontos comuns. Como outros empreendedores, diante de muitos e previsíveis nãos, tiveram que ser pacientes para convencer sobre o potencial de suas idéias inovadoras –mais do que isso sobre a rentabilidade delas — num mundo ainda regido pelo modelo não sustentável de economia, focado no bottom line e no baixo risco. Como enxergaram antes de seu tempo, antecipando cenários, precisaram ser autoconfiantes, aguerridos, idealistas e pacientes para sustentar seus argumentos, atrair apoios e controlar expectativas de curto prazo.
Os descobertos pelo Instituto Endeavor contaram com o apoio á gestão, orientação na captação de recursos e o aconselhamento feito por uma rede de voluntários de altíssimo nível como Emílio Odebrecht, Claudio Haddad, Bernando Hees e Chieko Aoki. Os demais foram á luta para estabelecer a sua rede de apoio, seja técnico, comercial ou financeiro. Considerando o fato de que são porta-vozes de uma nova economia, na qual o Brasil pode emergir como potência nos próximos 20 ou 30 anos, governos, escolas de negócio e bancos podem exercer um papel fundamental na promoção de empreendedores sustentáveis. Os governos, criando um ambiente fiscal propício e estimulante para que boas soluções se transformem em negócios rentáveis. As escolas, substituindo o atual modelo de educação focado nos preceitos da economia da Era Industrial e na preparação de executivos de empresas convencionais por outro mais sintonizado com os paradigmas da sustentabilidade e do empreendedorismo. Os bancos, financiando os homens de negócios do século 21, com regras mais compatíveis com os desafios e riscos de um novo modelo empresarial.

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