Os quatro agentes da mudança sustentável

Os quatro agentes da mudança sustentável

Com base no conceito de “campeões da responsabilidade socioambiental”, Wayne Visser, autor do livro Making a Diference (ainda sem tradução no Brasil), estabeleceu quatro categorias para definir os profissionais que atuam em sustentabilidade nas empresas. Eles podem ser especialistas, facilitadores, catalisadores e ativistas.
Para chegar a essa classificação, o professor da Universidade de Mannheimm (Alemanha) usou como fator distintivo o modo como cada indivíduo se envolve, sente-se mais confortável, satisfeito e feliz com o seu trabalho. Na prática, todo profissional que trabalha com responsabilidade socioambiental têm um pé nas quatro categorias e se orienta pelo mesmo desejo de fazer a necessária mudança. Mas a fonte principal de satisfação está associada –segundo Visser– a um certo dado do seu perfil psicológico, decorrendo normalmente da maneira com que ele se motiva e se identifica mais com as atividades.
O primeiro tipo de agente de mudança é o especialista. Para este indivíduo, sustentabilidade representa um campo de oportunidades técnicas.  Por ser um conceito sistêmico, desenvolver soluções sustentáveis requer inteligência e especialização. Exatamente como uma criança que se dedica a montar um quebra-cabeça, pelo simples prazer de superar-se, o que motiva o especialista é o desafio de colocar sua capacidade de observação e análise a serviço da mudança de processos e produtos. O engajamento se dá primeiro em um nível intelectual. Nesse perfil, incluem-se, por exemplo, os engenheiros ambientais que trabalham para construir processos mais limpos, com os quais geram economia de insumos e ganhos de produtividade. A racionalidade que imprimem às suas atividades os torna imprescindíveis. Sua lógica costuma ser aliada importante no esforço de derrubar as barreiras que se interpõem às mudanças socioambientais.
Na segunda categoria estão os facilitadores. Ao contrário dos que compõem o primeiro grupo, esses indivíduos são generalistas e mais preocupados com o modo com que os diferentes elementos de um time se apropriam do conceito para promover a mudança.  A fonte primária de significado à qual recorrem é o empoderamento de pessoas. Satisfazem-se em desenvolver as condições internas, removendo eventuais obstáculos comportamentais e assegurando uma gestão eficaz de recursos humanos e técnicos.
Um bom facilitador ajuda a criar cultura. Enquanto o especialista diverte-se com o poder da solução, o facilitador sente prazer em ver os profissionais trabalhando a solução no cotidiano da empresa. Fazer funcionar é a sua missão. E ele sabe que, para cumpri-la, terá de extrair o melhor de um grupo que precisa estar motivado para abrir mão de práticas consagradas em nome de outras mais inovadoras. Nos tempos de hoje, não se concebe mais que o facilitador seja um chefe, com autoridade concentrada no velho binômio de comando-controle. É fundamental que se mostre um líder. Nesse perfil, vale destacar os gestores de áreas estratégicas gerais como as de recursos humanos, ou de específicas do universo da sustentabilidade, como as de segurança, saúde e meio ambiente.
Os catalisadores são indivíduos normalmente localizados em posições estratégicas nas corporações. Visionários e bons observadores de tendências, eles compreendem que não há outra alternativa para a empresa senão a de incorporar a sustentabilidade nas estratégias de negócio. Líderes e gestores qualificados, procuram cercar-se de especialistas e facilitadores competentes para garantir a realização cotidiana da macrovisão sustentável que estabeleceram para  a empresa. Não precisam ser aficcionados pelo tema, a ponto de o adotarem como mote principal de seus discursos. Mas nunca deixam de considerá-lo entre as prioridades da organização. Nem se furtam de estabelecer metas ousadas, cobrar o cumprimento de diretrizes ou de analisar o quanto a empresa está caminhando na direção de ser sustentável.
No quarto grupo encontram-se os ativistas. O nome já sugere o que os distingue dos demais. Enquanto os indivíduos das três primeiras categorias extraem prazer de gerar benefícios sustentáveis para o negócio, os ativistas valorizam a contribuição maior para o planeta e a sociedade. Eles precisam ter certeza de que trabalham em corporações nas quais os resultados econômico-financeiros não ocorrem em prejuízo da conservação ambiental ou da justiça social. Bastante colaborativos, destacam-se também pela convicção com que questionam comportamentos potencialmente danosos às comunidades e ao meio ambiente. Como o personagem Grilo Falante, de Walt Disney, fazem o papel do superego nas organizações,  e estão sempre prontos a apontar eventuais falhas mas também os melhores caminhos.
Na maioria das empresas há muitos ativistas de sustentabilidade, ocupando todas as posições hierárquicas. Quando não possuem o poder das grandes mudanças, dedicam-se às pequenas (redução de consumo de recursos ou mudanças de hábitos perdulários) como se fossem adeptos de uma religião, o que os torna muitas vezes incompreendidos. Caracteriza-os a obstinação, a paixão pela causa e o espírito coletivista.
Na impossibilidade de contar com indivíduos fortes nos quatro perfis, o ideal para as organizações seria ter, em seus quadros, especialistas, facilitadores e catalisadores com, pelo menos, um décimo da paixão dos ativistas. A mudança virá não apenas mais rápida, mas também com mais consistência.

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?