Reflexão – Longevidade humana: um novo desafio

Reflexão – Longevidade humana: um novo desafio

“É muito mais difícil desaprender o aprendido do que aprender uma coisa nova. O aprendido se agarra na gente de uma forma terrível e é o aprendido que impede que eu aprenda uma coisa de maneira diferente. Então, é preciso desaprender o aprendido..
A longevidade humana é um novo desafio. Não só pelo número crescente de pessoas acima de sessenta anos, mas, muito mais pelas novas necessidades que o segmento idoso está demonstrando, como também, pelo fato desta sociedade idolatrar o novo, menosprezando as experiências dos mais velhos e tudo o que se refere a ele. Como poderemos agir para retirar da sociedade o estigma de velho? E de velhice
Os que envelhecem não podem e nem querem ser excluídos da luta pela construção de uma nova sociedade, e conseqüentemente, de uma nova velhice. Instalou-se o medo e a preocupação de envelhecer. Ganharam-se mais anos de vida e, ao mesmo tempo, ainda é difícil visualizar ganhos com essa nova perspectiva. É preciso aprender a buscá-los.
O tempo do velho neste século deve ser reinventado. Para pensar a velhice do futuro é preciso muita criatividade e vontade. Há muitas e diferentes velhices, todas com necessidades afetivas, sociais, econômicas a serem atendidas.E por quem? Não há respostas prontas e satisfatórias para este novo problema social.
Responder a essas perguntas é o grande desafio da nossa época. Urge a necessidade de conscientização e de união de esforços das pessoas leigas, dos políticos, dos familiares, de todos os especialistas que trabalham com o idoso para mudar o olhar sobre ele. Um olhar de crença nas possibilidades de inserção social, profissional, de ser útil e não somente de compaixão e rejeição por não acreditar que o idoso possa ter uma velhice participativa, atuante e feliz.
Conhecer melhor o novo paradigma de velhice, procurar educar-se quanto a estes recentes conhecimentos propicia fazer escolhas mais conscientes e propícias a cada um, ao estilo de vida, às condições sociais e financeiras dos idosos.
Esta conscientização, que pode alterar e auxiliar nesta nova concepção do envelhecimento, ainda não se fez. Constata-se isso pelo desrespeito quanto à aposentadoria do idoso, quanto à precariedade ao atendimento médico, e outros tipos de atendimentos em geral. As pessoas se esquecem que um dia ficarão velhas e que o número de idosos está crescendo geometricamente. Quem cuidará delas?
É preciso parar e pensar no amanhã. É preciso uma reflexão por parte da sociedade: encontrar soluções urgentes e satisfatórias. É necessário comprometimento de todos os envolvidos: mais responsabilidade no trato da questão – mais visibilidade nas propostas – mais presença no assunto. É importante procurar novas vias para superar esses desafios do grande número de idosos no mundo. A educação pode se apresentar como essa nova via.
 
Atualmente é fundamental uma educação gerontológica. E quanto antes se processar, mais rápido se fará uma conscientização das pessoas envolvidas e medidas preventivas serão tomadas para transformar a velhice, idealizá-la e planejá-la. O acesso à educação também é um direito ao idoso. Como ele irá compreender e reagir às mudanças se lhe for negado o acesso aos novos saberes, às tecnologias de informação, que lhe propiciarão questionamentos, dúvidas, respostas, soluções para os seus problemas?
As inovações são muitas e tão rápidas que é humanamente impossível a pessoa acumular, desde o início da vida, uma determinada quantidade de conhecimentos e com eles, resolver indefinidamente seus problemas e situações emergentes. Por isso, é necessário repensar e ampliar o conceito de educação ao longo de toda a vida.
Para os idosos, o desejo de continuar a aprender ultrapassa as necessidades impostas pelo mercado, e surge como uma nova proposta, bastante prazerosa, para a maioria deles, de permanecer em contato com outras pessoas, muitas vezes, com problemas e situações mais ou menos semelhantes aos seus.
A escolarização foi negada a muitas gerações, que hoje são idosos, às vezes, pela própria família – por não visualizar na educação as oportunidades de crescimento – ou por dificuldades econômicas, e assim, essas pessoas não tiveram um ensino formal, principalmente as mulheres, que eram educadas para serem donas-de-casa.
Olhar o idoso como aprendiz é um novo paradigma desta nova velhice. Por que não investir nisso?
O investimento social privado poderia atuar na inclusão do idoso no âmbito educacional. Além de despertar o espírito humanitário, possibilitaria uma otimização de recursos em projetos sócio-educacionais e intergeracionais. Acredita-se que a educação levará ao idoso a possibilidade de ressignificar sua vida. É muito grande a transformação que ocorre quando ele tem acesso ao saber.
Qualquer pessoa, independentemente da sua idade, através da educação passa a ser mais participante, desenvolve seus potenciais, começa a pensar e agir diferenciado, como também passa a exigir tratamento diferente. Ela aprende a enfrentar obstáculos que antes lhe pareciam intransponíveis. Portanto, um idoso consciente faz diferença! Reformulando-se, ele fortalece e propicia o desabrochar do novo paradigma de velhice.
Mariúza Pelloso Lima
 
Mestre em Gerontologia, Mestrado em Psicologia da Educação, Pedagoga, Coordenadora do Om Sai Ram Centro de Estudos da Memória, Professora no COGEAE-PUCSP – Curso de Extensão Educação e Envelhecimento, Professora na Faculdade de Medicina-USP – Curso de Especialização em Gerontologia.

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