Réplicas – O ponto doce da sustentabilidade

Réplicas – O ponto doce da sustentabilidade

Por Caio Neumann
A empresa que considerar a sustentabilidade um risco a ser evitado desperdiçará grandes oportunidades de inovação e de competitividade. É nisso que acredita Andrew Savitz, autor de A Empresa Sustentável (Editora Campus Elsevier), apontado como um dos 30 livros de negócios mais importantes da atualidade. Ex-sócio da área de sustentabilidade da PricewaterhouseCoopers, hoje diretor da Sustainable Business Strategies,  Savitz esteve no Brasil em agosto, para participar de um seminário da Fiesp, quando conversou com o repórter Caio Neumann. “Há quem ainda acredite que sustentabilidade é uma moda que vai passar. E, cética ou cinicamente, prefira aguardar isso, apesar de todas as evidências contrárias.
A moda não vai passar porque não é uma moda. As corporações vêm sendo pressionadas a mudar porque seus stakeholders estão mais críticos e porque a nave-mãe da Terra mostra sinais  de que não suportará tanta gente consumindo recursos”, explica.
Formado em Direito pela Georgetown University, Savitz, também filósofo e economista, presta serviços a empresas, desenvolvendo programas de sustentabilidade. A seguir algumas de suas idéias sobre sustentabilidade oferecidas em conversa descontraída e exclusiva com a revista  Idéia Socioambiental.
O ponto do doce da sustentabilidade
3M, General Electric, Toyota, Nike e Pepsico são casos exemplares de  de programas de sustentabilidade que deram e vêm dando certo. Em comum, essas empresas conseguiram identificar os pontos doce que nada mis são do que pontos de convergência entre suas estratégias de negócio e os interesses da sociedade. Isso é sustentabilidade:  produzira lucro com bem-estar social.
Principais obstáculos
O primeiro é entender o que é sustentabilidade. Há empresas e empregados que não compreendem exatamente esse conceito. E acham erroneamente que se trata de filantropia, uma estratégia de relações públicas ou mesmo que podem implantá-la sem envolvimento dos stakeholders. Mesmo entre os que compreendem sustentabilidade, nem todos enxergam o valor do tema para o negócio. Muitos não sabem como colocá-lo em prática. Não entendem, por exemplo, que, além de protegerem sua reputação,  podem realmente crescer e fazer dinheiro por serem sustentáveis.
O terceiro obstáculo é o da visão de curto prazo. Alguns processos para construção de sustentabilidade requerem visão de longo prazo e de investimentos. Regra geral, as empresas se esquecem de um conceito simples que é investir agora para obter sucesso consistente no futuro.
Exemplos inspiradores
A General Electric percebeu a preocupação de seus clientes com as mudanças climáticas. E, por essa razão, dobrou o investimento em pesquisa de tecnologias limpas, como, por exemplo, a energia eólica. Hoje a empresa dispõe do segundo maior negócio de energia eólica do mundo, tendo observado um crescimento de vinte vezes desde 2002. Chegou a essa condição porque entendeu que a forma com que ajuda os clientes contribui, a seu modo, para solucionar a mudança climática.
O Wall Mart possui 60.000 fornecedores. Recentemente, elaborou um manual segundo o qual os fornecedores devem diminuir o volume de pacotes enviados ao seu estoque A companhia recebe tantos produtos que uma pequena redução resultará em economia de milhões de litros de combustível para transporte dos produtos e menos emissão de gás carbônico. Na prática, essa medida tem permitido à companhia economizar quatro bilhões de dólares e, aos fornecedores,  sete bilhões de dólares.
O significado depende do negócio

A sustentabilidade apresenta significados diferentes para as empresas. Depende do tipo de negócio que ela tem.
Para uma companhia automobilística pode significar mudança climática, para uma farmacêutica pode ser como vender medicamentos para pessoas mais pobres. Na minha teoria, o segredo é achar, de uma perspectiva empresarial, a intersecção entre os interesses do empreendimento e os da sociedade ou do meio ambiente. Dentro da sua estratégia de atuar com ênfase para a preservação ambiental, a General Electric comprou várias companhias de água, porque previu que a qualidade da água e sua escassez vão estar associadas ao próximo problema climático. O presidente da companhia, Jeffrey Immelt costuma dizer “não fazemos isso porque somos abraçadores de árvores, mas  porque é um negócio inteligente”.
A sustentabilidade na hierarquia da empresa

Ter uma pessoa responsável pelo tema na empresa é bom. Mas também pode ser um problema. É bom porque algumas necessidades exigem conhecimento técnico e o responsável pode transmiti-lo a outras pessoas. Por outro lado, os demais funcionários da empresa  podem achar que se tem alguém responsável pelo tema, então eles não precisam se preocupar. Sustentabilidade precisa ser parte do trabalho de todas as pessoas em uma empresa. Não deve ficar “presa” em nenhum departamento ou gueto.
O líder sustentável

Ele ou ela precisam ter visão, paixão e uma visão clara de futuro. Devem ser bons comunicadores. E, principalmente, possuírem bom humor.
A cultura empresarial do Brasil
O tema vai crescer muito rapidamente, no Brasil, por várias razões. Primeiro, por ter uma economia em crescimento e um sistema democrático, pelo qual as pessoas tem mais controle de suas vidas. Foi por essa razão que a sustentabilidade avançou entre empresas americanas. Com mais informação sobre  os impactos das suas escolhas e do impacto das empresas no mundo, os indivíduos ficam mais desconfiados das grandes organizações, perguntam mais e exigem mais respostas. Em uma economia globalizada, as indústrias brasileiras precisam exportar, o que exigirá delas prestar atenção requerimentos sociais e ambientais. Uma empresa brasileira que utilizar mão de obra infantil, em qualquer ponto de sua cadeia de valor, vai ter dificuldades para vender seus produtos lá fora.
Cinco etapas para implantar um programa de sustentabilidade
1) Escolher questões de sustentabilidade que repercutirão entre os clientes, procurando atender necessidades ou preocupações que eles tenham nas esferas social, ambiental ou econômica.
2) Envolver os fornecedores para que as operações fiquem mais sustentáveis.
3) Concentrar as ações naquilo que a empresa conhece e faz melhor.
4) Antecipar-se ás mudanças, transformando o que seriam desafios para os clientes em oportunidades de negócio.
5)  Capacitar os funcionários para que eles percebam oportunidades e participem da construção delas.
(Fonte: A Empresa Sustentável (Campus Elsevier/2007)
Como planejar a sustentabilidade em uma empresa
1) Definir objetivos que promovam os propósitos básicos do negócio – Para um banco, por exemplo, pode fazer mais sentido do que reciclar papel ou reduzir resíduos, analisar os impactos ambientais e sociais dos empreendimentos que financia.
2) Esforçar-se para ser simples – É melhor priorizar alguns poucos objetivos que se reforçam mutuamente do que adotar muitos ao mesmo tempo.
3)  Os objetivos devem ser claros e compreensíveis – Em vez de fazer declarações vagas como “combate á corrupção”, a empresa deve dispor de documentos que identifiquem os tipos mais comuns de corrupção, listem as práticas inaceitáveis, reforcem princípios éticos e ensinem, didaticamente, o que é certo e o que é errado.
4) Integrar objetivos, instruções e indicadores –Em vez de criar objetivos, instruções e indicadores específicos para sustentabilidade, separados dos procedimentos de uma fábrica, incorpore-os, sempre que possível, a um mesmo manual de operações.
5) Desenvolver definições claras e consistentes para as unidades de medida dos objetivos, instruções e indicadores —  É importante unificar a linguagem e os padrões de medidas para que todos os empregados compreendam o programa de sustentabilidade.
6) Exprimir em números os objetivos e indicadores – Os empregados tendem a aceitar mais a validade dos resultados da sustentabilidade para o negócio se estes puderem ser quantificáveis.
(Fonte: A Empresa Sustentável (Campus Elsevier/2007)
Como criar uma cultura de sustentabilidade na empresa
1) Desenvolver uma visão clara do que a sustentabilidade significa para a empresa a partir das seguintes perguntas-chave:
a) Como os bens e serviços ou os processos da empresa ou do departamento cruzam com os interesses da sociedade?
b) Como o mundo melhora ou piora em decorrência das atividades da empresa?
c) Que impactos sociais e ambientais positivos a empresa gera?
d) Como a empresa se relaciona com os stakeholders presentes considerando as necessidades futuras gerações?
2) Aperfeiçoar o autoconhecimento
a) A empresa se vê a sai mesma com clareza?
b) Até que ponto ela é capaz de desenvolver autoconhecimento honesto
c) As pessoas que trabalham na empresa t~em receio de reguladores e advogados?
3) Desenvolver e reforçar a liderança
a) A empresa conta com líderes fortes e preocupados com a sustentabilidade?
4) Estabelecer uma mentalidade de longo prazo
a) A empresa se planeja para o longo prazo ou enfatiza exclusivamente os resultados do próximo trimestre?
(Fonte: A Empresa Sustentável (Campus Elsevier/2007)

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