Tim Jackson

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O economita inglês Tim Jackson fala como os negócios podem gerar impactos positivos no ambiente e na sociedade

A despeito de alguns modismos, há sinais claros de que uma economia sustentável é desejo de cada vez mais pessoas. No entanto, o grupo realmente disposto e preparado para as mudanças que o tema requer não conta com um quadro equivalente.
Para preencher essa lacuna, empresas e indivíduos devem iniciar um processo de questionamento que os levem a repensar seu papel na sociedade, buscando estilos de vida e modelos de negócios menos materialistas. Esse é o desafio proposto por Tim Jackson, economista inglês que causou polêmica com o lançamento do relatório Prosperity Without Growth (Prosperidade sem Crescimento), no início de 2010.
Durante sua passagem pelo Brasil para participar do encontro do Espaço Práticas de Sustentabilidade, promovido pelo Banco Santander, Jackson conversou com Ideia Sustentável. Mais do que reduzir danos, ele propõe que as organizações gerem impactos positivos no meio ambiente e na sociedade.
Para tanto, destaca a necessidade de novas estruturas legais – que substituem o modelo orientado pela busca contínua de resultados de curto prazo – para a entrega de valor aos acionistas. “É comum que grandes empresas sejam direcionadas pelas demandas dos seus acionistas, em detrimento de outros stakeholders. Essa é uma das razões pelas quais negligenciam o retorno ecológico e social. Assim, a companhia acaba limitada pela sua forma legal, independentemente de quais sejam suas intenções e visão”, afirma.
Como alternativa a esse modelo, Jackson aponta estruturas como a das B corporations, nos Estados Unidos, ou das companhias de interesse da comunidade (communities interest companies), no Reino Unido. Além de gerar impactos positivos, essas organizações consideram como as suas decisões afetam os trabalhadores, a comunidade e o meio ambiente.
“Esses empreendimentos sociais mostram que é possível obter lucro e ao mesmo tempo oferecer benefícios para a sociedade. Não vamos atingir uma nova economia se continuarmos presos a um modelo de crescimento centrado na produtividade convencional”, ressalta.
Confira a seguir as reflexões e caminhos propostos por Jackson e podcasts com trechos da entrevista.
Eficiência x suficiência
Continua sendo importante para uma companhia entender a eficiência, reduzindo suas emissões e impactos dos processos produtivos. E há um incentivo para fazer isso, uma vez que menos consumo de recursos significa redução de custos. Mas quão eficiente as empresas estão conseguindo ser individualmente? Elas devem ir além da eficiência durante a produção, sendo capazes de entender os impactos ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos e serviços. Trata-se de um nível de demanda diferente em termos de performance socioambiental. Para atingi-lo, as empresas devem refletir se as suas ações estão tendo escala no setor em que atuam e na economia como um todo. Essa é a única forma de ser verdadeiramente sustentável.
Função social das organizações
As companhias devem se perguntar qual a natureza do serviço que oferecem para a sociedade e quais as necessidades sociais atendidas por seus produtos. Há muitas formas de pensar isso. Por exemplo, é possível fornecer comida de uma forma mais saudável e nutritiva. É dever da empresa encontrar um modelo para que prospere, respeitando os limites ecológicos e oferecendo seus serviços da maneira mais saudável possível. Também é possível pensar a função da companhia na recuperação e preservação do meio ambiente. Temos o exemplo da Ecosia  (puxar fio – ver abaixo), empresa que oferece um buscador, cujas receitas são direcionadas para projetos de proteção das florestas tropicais. Todos os negócios podem proteger as florestas tropicais desde que escolham fazê-lo. Há outros exemplos: podemos pensar companhias que oferecem serviços para a comunidade em saúde ou educação, nos quais a necessidade social é óbvia e clara. Elas devem buscar formas realmente criativas de promover a saúde, educação ou serviços sociais, oferecendo produtos e serviços para as pessoas florescerem com o menor impacto material possível.
Imagine que uma companhia fabrica equipamento de fitness para adolescentes. Essas máquinas requerem grande quantidade de materiais na sua fabricação e um alto consumo de energia no seu uso. Será que essa é a melhor forma de oferecer fitness e saúde às pessoas? Isso não poderia ser feito de outra forma? As companhias devem olhar para além do lucro financeiro, colocando seus objetivos no retorno social e ecológico.


Questionamento contínuo

Esse é um processo contínuo de questionamento que pode ser feito por qualquer organização. Uma companhia de transporte, por exemplo, deve se perguntar: qual é a necessidade social que atendo? Conectar pessoas. Correto, mas o que isso significa? Os indivíduos querem ter acesso a diferentes serviços e se comunicar uns com os outros. Ao compreender isso, o setor de transporte pode sair do estágio em que apenas oferece possibilidades de ir de um lugar a outro para pensar em sistemas de transporte público, em vez de carros individuais; ou então a organização do espaço onde as pessoas vivem e quão perto elas estão dos recursos; ou mesmo tecnologias de comunicação, permitindo que alcancem umas às outras, sem necessariamente terem de se deslocar. Esses aspectos respondem duas perguntas muito simples: qual é a necessidade social e como ela pode ser atingida da forma menos materialista? Nesse aspecto, uma aproximação entre os empreendimentos sociais e as grandes empresas pode ser muito interessante. Assim, os primeiros poderiam buscar formas de aprimorar sua viabilidade financeira e continuidade, enquanto que as companhias se aproximariam da ideia de retornos sociais e ecológicos.
Estruturas alternativas
Para que os objetivos sociais, ambientais e econômicos se movam juntos é preciso uma mudança institucional e mesmo legal. Novas estruturas já estão emergindo, alterando a forma como as organizações operam. É comum que grandes empresas sejam direcionadas pelas demandas dos seus acionistas, em detrimentos dos demais stakeholders. Elas têm a obrigação de gerar retorno no curto prazo para esse grupo. Essa é uma das principais razões pelas quais negligenciam o retorno ecológico e social. Assim, a companhia acaba limitada por sua forma legal, independentemente de quais sejam suas intenções e visão. Mas já podemos observar o surgimento de novas formas legais que permitem às companhias focar a lucratividade das suas atividades não no interesse dos acionistas, mas no da comunidade. Podem ser as B corporations, nos Estados Unidos, as companhias de interesse da comunidade (communities interest companies), no Reino Unido. Todas estão mais próximas do ambiente corporativo mainstraim, mas libertam as companhias de algumas das obrigações como a de retornar lucros para os acionistas no curto prazo, permitindo a busca de uma performance total capaz de integrar retornos ecológicos e benefícios à comunidade.
Essa mudança parece silenciosa, mas é muito importante porque esses empreendimentos sociais mostram que é possível obter lucro e ao mesmo tempo oferecer benefícios para a sociedade.


Geração de emprego

Empregos importam, pois, além de oferecer o sustento às pessoas, permitem que participem da sociedade. Trata-se de um elemento genuíno da prosperidade. No entanto, é peculiar a forma como perseguimos melhorias de produtividade no trabalho, que acabam tirando pessoas do mercado. Por isso, se quisermos continuar perseguindo a produtividade, teremos de pensar em novas políticas. Medidas que estimulem a criação de formas de trabalho mais flexíveis, permitindo que as pessoas trabalhem menos horas na semana. Assim, é possível criar um ambiente que não divide aqueles que trabalham muito e os que estão desempregados, permitindo uma troca do trabalho disponível. Além disso, o aumento da produtividade não faz muito sentido em alguns setores como de serviços. O aumento do número de pacientes que um médico vê, por exemplo, pode ser contabilizado como produtivo para o empregador, mas prejudica a relação entre o médico e o paciente, que ao final das contas é o que importa mais.
O argumento que surgiu depois da crise financeira em defesa do setor de energias renováveis como um grande gerador de empregos é o começo dessa conversa. Quantos postos de trabalho são gerados pelas energias renováveis ou pela área de eficiência energética comparados à extração de petróleo? O que essa conversa toda está fazendo é dizer, pela primeira vez, que a geração de emprego importa em um resultado.


Nações em desenvolvimento

O perigo para as economias emergentes é entrar num processo de recriação dos mesmos modelos das nações desenvolvidas. Portanto, elas devem olhar para a forma como o seu crescimento está estruturado e como o setor privado opera. E assim colocar em prática medidas que realmente conduzam a um modelo de desenvolvimento que assegure a sustentabilidade, em vez de apenas promover crescimento material. Deve-se considerar a qualidade de vida, do crescimento e do espaço que as pessoas compartilham. O papel da liderança é fundamental nesse processo. Outro aspecto muito importante é a criatividade para engajar as pessoas em diferentes iniciativas. A liderança política não consegue alcançar tudo isso sozinha, mas pode estimular investimentos no espaço social, na infraestrutura, somando esforços às empresas para criar uma sociedade sustentável.  Se essa ética estiver presente na iniciativa privada, podemos facilitar o trabalho dos governos de promover mudanças estruturais.
Construção de confiança
Há uma série de coisas que podem ser feitas agora. Rever o que e como mensuramos resultados é uma delas. Como as companhias contabilizam seus retornos econômicos, custos ambientais e sociais ao longo de toda a cadeia produtiva? Como privilegiamos medidas de segurança no longo prazo em vez de altos investimentos no curto prazo? Depois da crise, ficou claro que precisamos de melhores indicadores de progresso. No modelo econômico vigente, não há nenhum entendimento dos limites dos recursos naturais. A ideia de um planeta com nove bilhões de pessoas, todas querendo viver estilos de vida materialistas, não vai dar certo! Sabemos que há uma crise ambiental chegando num futuro não muito distante. Por isso, devemos construir capacidades para que as pessoas se desenvolvam em um planeta finito. Governos e empresas precisam se engajar em torno dessas ideias. Novos incentivos devem ser pensados para proporcionar que as pessoas participem de forma significativa da sociedade e se desenvolvam sem a necessidade de se transformar em consumidores materialistas. Os mecanismos atuais criam uma situação em que operamos contra nossa própria natureza e interesses no longo prazo. Olhe para todos os incentivos dos governos para criar uma cultura de consumismo como forma de acelerar o crescimento da economia. Em vez disso, precisamos incorporar a noção dos limites da natureza à economia e avançar em relação à ideia de prosperidade, hoje condicionada ao crescimento. A palavra prosperidade tem a ver com as nossas expectativas (pro=de acordo com + speres=esperança) em relação àquilo que nos faz bem. Significa ter um papel na sociedade, que é muito diferente da ideia difundida pelo consumismo de que necessitamos ter algo para viver.

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