Jim Garrison

Jim Garrison

Jim Garrison, presidente do State of the World Forum, propõe compromisso global para reduzir emissões de carbono em 80% no período de 10 anos
Em 1962, John Kennedy, então presidente dos Estados Unidos, anunciou o ambicioso projeto de levar o homem à lua em 10 anos. Quatro décadas depois, Jim Garrison, que preside o State of World Fórum, evoca a mesma imagem para combater o aquecimento global e recuperar a economia mundial da crise. Bem ao estilo das novas lideranças do século 21, Garrison, nascido em Taiwan e naturalizado norte-americano, acha que o mundo precisa de uma espécie de Projeto Apollo para a sustentabilidade, por meio do qual todas as nações se comprometeriam a reduzir suas emissões em 80% até 2020.  “Todo país poderia assumir o compromisso de fazer a transição de combustíveis fósseis para renováveis. Essa mudança deveria ser feita não por medo ou sob pressão, mas no mesmo espírito do chamado de John Kennedy para colocar o homem na lua em 10 anos”, defende.
Ao lado do ex-presidente da extinta União Soviética, Mikhail Gorbachev, Garrison fundou, em 1995, o SWF com o objetivo de sensibilizar as lideranças quanto à urgência da transição para uma economia sustentável. Em visita ao Brasil no mês março, o historiador se reuniu com empresários, líderes sociais e políticos com o intuito de integrar o País em um movimento internacional de lideranças dedicadas a promover o desenvolvimento sustentável. O primeiro passo nesse sentido se traduzirá com a realização do Congresso Mundial do SWF no Brasil, em 2009.
Em entrevista exclusiva à Ideia Socioambiental, Garrison defendeu a liderança  do Brasil no debate de transição para uma economia de baixo carbono. Confira essas e outras ideias do historiador a seguir.
QUEDA DO PENHASCO
A maior economia do mundo caiu do penhasco.  E ao observar o que está acontecendo nos Estados Unidos podemos ter uma ideia da magnitude dessa crise. Passados 45 dias da falência do Lehman Brothers, a economia norte-americana já tinha perdido dois milhões de empregos. A cada 24 horas, dois mil empregos desaparecem. A magnitude desse fato é semelhante à queda do muro de Berlim, que representou o colapso do socialismo russo.
O mercado capitalista livre e não regulado está entrando em colapso por não ser ecologicamente realista. Os negócios se fundaram na crença do crescimento e desenvolvimento ilimitados, o que não é mais sustentável.
Quando olhamos para frente, podemos esperar uma aceleração na produção de crises que surgem, aparentemente, em um lugar isolado, e reverberam ao redor do mundo com efeitos imprevisíveis, desestabilizadores e em cascata. A crise será forte e difícil de superar enquanto a civilização humana não criar um nível mais elevado de visão de futuro e antecipar uma nova era de negócios, baseada no alinhamento dos sistemas humanos com os sistemas naturais.
ALERTA VERMELHO
O aquecimento global sintetiza a urgência do desafio colocado à civilização humana, o maior de toda a sua história. Há 20 anos, quando os cientistas fizeram os primeiros alertas em relação às mudanças climáticas, eles falavam que deveríamos enfrentar a questão em 35-37 anos. Depois de 10 anos, esse período se reduziu para 10-20 anos. Agora, os estudos indicam que se nada for feito, em três ou quatro anos, perderemos a capacidade de reverter qualquer evento relacionado às mudanças climáticas.
O aumento do nível dos oceanos por causa do derretimento das geleiras é só o começo do problema. Cientistas constataram recentemente o derretimento do permafrost na Sibéria. Debaixo dessas camadas de gelo, formadas pela natureza ao longo de milhões de anos, está a vegetação tundra e milhões de toneladas de gás metano que serão liberados para a atmosfera à medida que as geleiras derreterem com o aumento da temperatura. A quantidade de metano acumulada no permafrost da Sibéria é superior a todo o carbono decorrente das atividades humanas, com uma particularidade: o metano contribui 20 vezes para o aquecimento global do que o CO2.
 
MUNDO PÓS-KYOTO
Os acordos de Kyoto estão obsoletos. Foram baseados na suposição de que a humanidade tem décadas para resolver a crise do aquecimento global. Nada é mais urgente do que uma mobilização massiva de pessoas e ideias que possam compelir nossos governos e instituições internacionais a enfrentar o aquecimento global e a reforma de políticas que esse desafio implica.
Essa mobilização internacional daria propósito e significado para os planos que estão no âmbito de governos nacionais, direcionaria toda a economia global e proveria esperança para a comunidade internacional. Também seria possível superar a disputa internacional em torno da captura e comércio de carbono e das reduções de emissões. Cada país conduziria suas próprias análises e traçaria seu próprio trajeto, com a meta de mudar para energias renováveis, essencialmente, dentro de 10 anos.
 
LULA E OBAMA
Tanto Barack Obama quanto Lula devem ter clareza de que o seu legado na história será determinado pela forma como lidarem com as mudanças climáticas. Os EUA, como o maior poluidor com emissões de CO2, deveriam assumir a liderança, conquistando o apoio internacional em Copenhague. Essa posição é essencial para alcançar o comprometimento global que tornará a mudança climática a mais importante prioridade em todo o mundo.
Acredito que o Brasil pode se tornar uma liderança importante para a questão das mudanças climáticas. Obama, assim como os demais líderes dos países desenvolvidos, estará demasiadamente preocupado a sobrevivência financeira do seu país. Isso aponta um grande vácuo na liderança global e, ao mesmo tempo, uma oportunidade para a emergência de novas lideranças. O Brasil é um país de dimensões continentais, rico em recursos naturais e  está em paz com seus vizinhos. Além disso, sua economia não foi tão abalada pela crise financeira.
 
COMPROMISSO GLOBAL
Uma política industrial baseada em energias renováveis e tecnologias verdes aliviará simultaneamente a mais grave ameaça para a espécie humana e gerará um boom econômico.  Obama comprometeu-se a eliminar, em sua gestão, a dependência dos EUA do petróleo estrangeiro num horizonte de 10 anos. Al Gore disse que será possível, no mesmo período, transformar toda a fonte de eletricidade norte-americana em energia renovável. Isso não é somente verdade para os EUA, mas também para o Brasil.
De fato, todo país poderia comprometer-se com a transição de combustíveis fósseis para renováveis em até 10 anos. Essa mudança deveria ser feita não por medo ou sob pressão, mas no mesmo espírito do chamado de John Kennedy para colocar o homem na lua. A transição para uma economia sustentável pode ser feita desde que haja uma liderança visionária e desejo político.
 
ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
Um futuro sustentável não incluirá carvão ou energia nuclear. O desafio mais importante é gerar o comprometimento para mudar as bases das nossas economias de combustíveis fósseis para energia renovável.
Precisamos nos comprometer para reduzir as emissões de carbono em 80% até 2020.  Todas as novas fontes deveriam ser consideradas, desde campos de energia solar maciça, o cultivo de algas nos oceanos, que consomem grandes quantidades CO2, até o estímulo à produção de carros elétricos para eficiência energética.
CARBONO, O NOVO SUBPRIME?
O sistema de captura e comércio de carbono representa para o aquecimento global o que o escândalo da hipoteca subprime foi para o colapso do estado real.  Esse sistema não irá solucionar o aquecimento global. Somente permitirá que as corporações continuem o seu jogo de interesses, adiando a ação decisiva. O que precisamos é de uma taxa de carbono. Qualquer indústria que produz CO2 deveria ser pesadamente taxada. Ao mesmo tempo deveríamos conceder incentivos fiscais para qualquer organização que esteja desenvolvendo energia alternativa. Esse é o caminho mais rápido para motivar o comportamento corporativo.
NEW AMERICAN WAY OF LIFE
A mudança mais empolgante que toma lugar nos EUA é a emergência de novos valores. Isso é o que está por trás da eleição de Barack Obama. Sociólogos têm estudado o fenômeno do “Cultural Creatives”. Esse grupo é essencialmente constituído de pessoas que tem participado de movimentos sociais de conscientização desde a Segunda Guerra Mundial. Entram nessa lista os movimentos ambiental, feminista, trabalhista, em defesa dos direitos civis, pela paz, justiça social, de comida orgânica e de cuidados alternativos com a saúde, de uma nova espiritualidade e de crescimento pessoal, entre outros.
Pela primeira vez em mais de 600 anos – desde a Renascença –um novo sistema de valor chega à civilização ocidental, em nível global e simultaneamente. Essa é uma ocorrência histórica rara e terá implicações tão profundas na cultura americana e mundial como teve a emergência da Renascença no século 16 sobre a Itália e toda a Europa. (Leia mais sobre o movimento “Cultural Creatives” na seção Livre Pensar, pág. 68).
 
CHAMADO À AÇÃO
O livro mais importante do momento é o Plan B 3.0, de Lester Brown, fundador do Earth Policy Institute. Nele, o autor recomenda uma série de soluções, incluindo a redução de nossas emissões de carbono em 80% até 2020, que – se implementadas – mudariam as bases de nossas economias de combustíveis fósseis para energia alternativa. Brown está convencido, como muitos estão, de que a mudança climática coloca em risco a civilização humana e que devemos agir decisiva e imediatamente para resolver a crise. SeuPlano B 3.0 deveria ser uma leitura obrigatória para formular estratégias coletivas de mudanças.

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