Réplicas – Uma questão estratégica para os países emergentes

Réplicas – Uma questão estratégica para os países emergentes

A responsabilidade social empresarial é um tema que interessa cada vez mais as empresas e a sociedade de todo mundo. Isso explica, por tabela, o interesse também crescente do Banco Mundial não apenas por debater o conceito, mas também por disseminá-los, especialmente nos países cujas empresas estão iniciando movimento de implantação de práticas. Nesse sentido, uma de suas mais recentes ações é a oferta de cursos de especialização que têm como objetivo preparar lideranças para a sua aplicação no dia-a-dia das companhias. No Brasil, o Banco Mundial está capacitando, por exemplo, os funcionários da ÚNICA –União da Agroindústria Canavieira de São Paulo.
Na entrevista a seguir, dada á repórter Marina Terra, o diretor do setor de RSE do Banco Mundial, o macedônio Djordjija Petkoski, analisa o engajamento da instituição na área, as dificuldades das empresas em adotarem modelos de gestão socialmente responsáveis e o papel nesse cenário dos países emergentes, como o Brasil,
ERRADICAÇÃO DA POBREZA E TRANSPARÊNCIA
 
O Banco Mundial sempre esteve envolvido com responsabilidade social empresarial, por causa do seu interesse em discutir as questões de desenvolvimento, e o papel que os negócios podem exercer nesse processo. Como expressão própria, responsabilidade social empresarial existe há mais ou menos 10 anos. Mas ações relacionadas ao conceito vêm acontecendo há muito mais tempo para muitas empresas ao redor do mundo. E o Banco Mundial sempre acompanhou a evolução dos debates. É um campo de interesse bastante afinado com as nossas atividades. Hoje, as duas questões mais importantes para o Banco Mundial são a redução da pobreza – incluídas aí as oito metas do milênio– e o combate á corrupção, que significa trabalhar para ampliar a transparência no accountability,uma parte importante do que se discute hoje em responsabilidade social. Para nossa instituição, a RSE é fundamental porque compreende um conjunto de responsabilidades relacionadas aos negócios e como elas podem contribuir para estratégias centrais de desenvolvimento. É o caso da comparancy accountability, relacionada à atitude de reportar e tornar transparentes para a sociedade todas as práticas de negócio. Quanto mais empresas fizerem relatórios socioambientais de suas atividades, mostrando suas preocupações e práticas nessas áreas, menor é a possibilidade de se engajar em corrupção.
FORMAS SAUDÁVEIS DE CRESCIMENTO
 
Temos ações regulares que norteiam as práticas de investimento em nossos escritórios ao redor do mundo. Sempre que financiamos experiências de desenvolvimento, uma de nossas atividades principais, procuramos levar em consideração o papel das lideranças e os impactos sociais e ambientais dos empreendimentos segundo os termos de IFC (International Finance Corporation). Também procuramos estabelecer parcerias com empresas, mostrando a elas formas saudáveis de crescimento e cooperação com os stakeholders. Promovemos, por exemplo, um curso de especialização à distância para jovens empresários e administradores, que já formou até hoje cerca de 50 mil lideranças em todo o mundo.
CONSUMIDOR TEM PAPEL IMPORTANTE
 
Os grandes temas que mais preocupam hoje em todo o mundo – pobreza, meio ambiente, crescimento e desenvolvimento– não podem ser resolvidos separadamente por governos, por empresas ou pela sociedade civil. É preciso uma ação conjunta. Há questões que uma companhia pode mudar internamente para melhorar a sua competitividade. Mas há outras que ocorrem do lado de fora dos seus muros, influenciadas também por políticas de governo e mesmo pela sociedade civil. Veja a questão do consumo responsável. Todos consumimos produtos e o modo como o fazemos influencia o que e como se está produzindo estes produtos. Então, o incentivo para que a empresa passe a atuar de forma mais responsável também depende de como ela é percebida e tratada pelo consumidor.
EMERGENTES E RESPONSABILIDADE SOCIAL
 
Eles são países grandes em termos populacionais e de recursos. E provaram nos últimos anos que podem ter sucesso em crescer. Os mercados dos países ocidentais estão mais ou menos maduros. Não há mais possibilidade de crescimento. Então, as companhias não têm outra opção senão se voltarem para as economias emergentes, e esta é a razão pela qual estes países podem desempenhar um papel importante. Veja o crescimento fabuloso do comércio entre o Brasil e a China. Isso significa que estão se tornando keyplayers, ou seja, personagens-chave nesse processo. Como estão em evidência, esses países sabem que precisam adotar as mesmas práticas socialmente responsáveis valorizadas no mercado mundial e já praticadas pelos EUA e por alguns países da Europa.
RESPONSABILIDADE SOCIAL E COMPETITIVIDADE
 
Engajar-se num programa de responsabilidade social não é, absolutamente, uma garantia de aumento de competitividade. A questão central é como iniciar este processo e tirar vantagens do fato de que se está lidando com estes temas. Hoje, países competem, por exemplo, em quesitos como “trabalho mais barato”. Quanto mais barato o trabalho, mais eles são competitivos. Esta é uma maneira bastante errada de ver as coisas, porque as empresas não estão focadas apenas em pagar salários mais baixos. Uma parceria baseada nesse princípio aumenta o seu risco. Este é o nó da competitividade. Se eu apenas oferecer trabalho barato, nenhuma empresa estrangeira virá para o meu país. Claro, estou simplificando a questão para dar uma idéia. Se eu sei que a empresa com a qual estou fazendo negócios tem um custo dois ou três centavos mais alto, mas ao mesmo tempo sei que ela atua de uma maneira responsável, estou protegido de riscos futuros. Afinal meus consumidores podem se recusar a comprar este produto porque eu os adquiri em um país no qual as questões de responsabilidade social não foram devidamente observadas pelos meus parceiros locais.

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