Tendências – Desafio é formar líderes conscientes de que empresas têm papel social e ambiental

Tendências – Desafio é formar líderes conscientes de que empresas têm papel social e ambiental

Na edição de setembro, Idéia Socioambiental entrevistou presidentes de empresa e diretores de responsabilidade social empresarial para traçar um perfil de quem são, o que pensam e como atuam os novos líderes em sustentabilidade do Brasil. Parte deste material, colhido na forma de depoimentos, foi publicada em reportagem especial sob o título “Quem são os Mandelas da Sustentabilidade” e em uma sequência de três painéis, ao longo de outubro, na página semanal que a revista edita para o Jornal Gazeta Mercantil. A outra parte foi preservada para compor uma publicação especial.
Dando prosseguimento á série de entrevistas sobre o tema liderança sustentável, Idéia Socioambiental ouviu mais cinco líderes – dois presidentes de empresa (Fiat do Brasil e Grupo Orsa), dois presidentes dos maiores Fundos de Pensão (Previ e Petros) do País e uma diretora de departamento (Vale do Rio Doce) O resultado você acompanha a seguir, na forma de perguntas e respostas:
1-) Considerando o líder sustentável como alguém que, à frente de uma empresa, implantou, com êxito, políticas de responsabilidade social e sustentabilidade, que atributos você acha que devem fazer parte do seu perfil? Que tipo de competências, atitudes e comportamentos ele deve ter?
“O líder sustentável deve estar conectado com as mudanças, ter sensibilidade contextual, saber interpretar os sinais do mercado, e antecipar-se a ele, identificando oportunidades e criando suas estratégias de atuação.  Para isso, precisa passar credibilidade, despertar a confiança, ter senso de justiça e ética, comunicar com transparência, formar parcerias e redes de valor e, principalmente, estabelecer coerência entre suas estratégias e ações. O líder sustentável cria valor no presente, sem destruir os recursos do futuro.” (Cledorvino Bellini, presidente da Fiat do Brasil)
“Um líder precisa impactar, já que a sustentabilidade ambiental vem crescendo e trazendo para a pauta  uma discussão mais complexa entre as organizações. Responsabilidade social e sustentabilidade são assuntos ainda  em evolução. Há lideres diversos, e de diversos tipos, mas acredito que dentro da organização é a soma deles que compõe o todo. O líder pensa no todo e no equilíbrio. O que o distingue é o simples fato de ele não fazer o que todos estão fazendo. Uma boa ferramenta para observar líderes em potencial é o trabalho voluntário.” (Sérgio Amoroso, diretor-presidente do Grupo Orsa)
“O principal atributo do líder é ouvir e dialogar. O segundo é a transparência em relação aos projetos da empresa, às pessoas e aos públicos com os quais tem que se relacionar.” (Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros)
“ Primeiro, deve ter forte senso de responsabilidade em sua própria organização, com os colaboradores e com todas as atividades empresariais. Isso é ponto de partida para uma cultura de sustentabilidade.” (Sérgio Rosa, presidente da Previ)
“Deve ser uma pessoa coerente  que coloque o respeito á vida em primeiro lugar. O líder inspirador é aquele que baseia suas entregas em atributos que não são exclusivamente consequência da ação que está fazendo. Ele insere as questões ambiental e social como parte do negócio onde atua e das entregas que tem que fazer.” (Olinta Cardoso, diretora de Comunicação Institucional da Companhia Vale do Rio Doce)
2-) Desenvolver líderes sustentáveis requer muito mais do que treinar habilidades.  Envolve desenvolver valores e atitudes, novos modelos mentais. Como se forma um líder socialmente responsável?
“Líder é aquele que atinge resultados utilizando, como diferenciais competitivos sustentáveis, o capital, a tecnologia e, em especial, o fator humano, por meio da seleção de talentos. A identificação de um líder socialmente responsável deve contemplar as características de genialidade (capacidade de realizar algo de maneira incomum), contribuição (resultado efetivo proporcionado), determinação (inspiração pela obstinação), consciência coletiva e paixão. Não é o que você faz que conta, mas como você faz. Antes que possa realmente liderar, é preciso que se busque um código capaz de orientá-lo pela vida. Vale lembra que as pessoas não estarão lá para atendê-lo, mas ele deve estar a postos para atendê-las. Afinal, liderar é também servir.” (Cledorvino Belini, Fiat)
“A contribuição das universidades é nenhuma. Não vejo a universidade formando a convicção necessária aos líderes em sustentabilidade. Alguns vêm por experiência de vida, outros acabam indo pela moda, já que o mercado é competitivo. Mas quando enxergam os benefícios  do movimento ficam. No longo prazo, a universidade seria importante para ensinar como trabalhar sob ótica de sustentabilidade, não para implantar uma convicção de responsabilidade social.” (Sérgio Amoroso, Grupo Orsa)
“A universidade dá as dicas sobre as questões de sustentabilidade e a importância do tema para a gestão empresarial.  Mas ela não ensina capacidade de dialogar  nem transparência em relação, pessoas e aos projetos e setores com os quais você tem que se relacionar. Isso é algo que se constrói e se acumula ao longo da vida. Tem a ver com a experiência pessoal, com o ambiente em que se vive, os valores sociais nos quais acredita (Wagner Pinheiro de Oliveira, Petros).
“As universidades, nas suas diversas áreas, devem introduzir elementos tanto técnicos quanto de pensamento sócioambiental dentro do pensamento da administração contemporânea. É importante que os jovens aprendam os conceitos e as novas tecnologias relacionados com a sustentabilidade, por que o tema inseriu-se no negócio” (Sérgio Rosa, Previ)
“Tem um papel fundamental. Podem contribuir para trazer uma nova consciência, ampliando a visão de mundo dos estudantes. Botando o estudante para olhar o mundo a partir de vários pontos de observação, não exclusivamente a partir de suas escolhas, mas considerando as escolhas e expectativas dos outros.” (Olinta Cardoso, Vale do Rio Doce)
3-) Que crenças caracterizam um líder em sustentabilidade?
“Em primeiro lugar, ele deve ter coragem para defender mudanças. Também é preciso crença na habilidade de promover o diálogo entre as partes interessadas. Além disso, deve motivar e envolver equipes, assim como investir nas habilidades de cada um. O bom líder é aquele capaz de identificar as características, profissionais e emocionais, de seus liderados. Deve energizar as equipes e fazer com que estas energizem a organização.
Iniciativas sustentáveis são, neste ponto, a somatória do trabalho, eficiente e responsável, de profissionais criativos, organizados, humanistas e felizes com seu próprio ofício.” (Cledorvino Belini, Fiat)
“É preciso convicção. Tenho a impressão de que a convicção vem de um processo de reflexão interna. Ninguém consegue pensar no outro se não estiver bem consigo mesmo. Um questionamento sobre o que é bom para todos faz a diferença para o líder. A melhor ética é a do coração, o que nós sentimos é o que vale. A transparência é a chave do negocio.” (Sérgio Amoroso, Grupo Orsa)
“Ele precisa sobretudo estar convencido dos projetos que dirige, colocar emoção pessoal neles, viver aquilo que está fazendo com energia e acreditar que aquelas ações sustentáveis, desenvolvidas pela empresa, vão gerar valor para seus funcionários, comunidades e para a sociedade como um todo.” (Wagner Pinheiro de Oliveira, Petros)
“Crença de que as coisas podem ser feitas de maneira melhor. Melhor quer dizer que, além de economicamente eficientes, os empreendimentos podem gerar mais benefícios e impactos positivos do que vinham gerando para as comunidades e a sociedade. Essa crença dá impulso para inovar, dialogar, prestar contas a todos e conquistar as esperanças das pessoas em um novo mundo.” (Sérgio Rosa, Previ)
“A primeira é crença na vida. A partir do valor à vida, o líder passa a se reorientar por meio do respeito, da consideração e do olhar dos outros.” (Olinta Cardoso, Vale do Rio Doce)
4) Segundo o Global Compact, da ONU, um dos desafios-chave do líder responsável é ampliar o propósito corporativo para além dos resultados econômico-financeiros, fazendo com que o negócio crie valor para a sociedade, gerando bem-estar social. O que você acha desse desafio?  Como você o tem encarado à frente de uma empresa importante para o País?
“ Consolidar um modelo próprio de responsabilidade social exige grandes investimentos empresariais. Mas nunca simplesmente financeiros. Exige atitude, desejo de mudança e consciência de cidadania. Exige compromisso com a modernidade, com seus parceiros de negócios em uma estratégia que incorpore o interesse articulado de todos em direção à sustentabilidade, ou seja, sobre sólido tripé: fortalecimento dos negócios, com eqüidade social e qualidade ambiental. Por quê? Porque sem a consideração harmônica destes fatores nos processos de tomada de decisão empresarial não há, no cenário internacional, mais marca ou negócio que se mantenha perene.
Hoje, produtos e serviços são cada vez mais semelhantes e, por isso, uma empresa já não pode mais dizer que o seu produto tem qualidade e pronto. Dentro dessa perspectiva, toda relação com o que é de caráter social é o que faz diferença. Quanto mais as empresas avançam na prática de atividades socialmente responsáveis e colocam no mercado produtos que respeitam o meio sócioambiental, maior será a conscientização do investidor e do consumidor, permitindo a criação de um círculo virtuoso para a sustentação corporativa.” (Cledorvino Belini, Fiat)
“O desafio é enxergar o que eu chamo de dinheiro invisível, presente na sociedade. Identificar as oportunidades é o grande desafio.” (Sérgio Amoroso, Grupo Orsa)
“Desafio difícil. Conseguir mostrar para a sociedade e para os acionistas um compromisso que vai além da governança, ampliando-a. E que esse compromisso vai dar sim retorno para os investimentos.” (Wagner Pinheiro de Oliveira, Petros)
“ Complicado dizer que a empresa tem responsabilidade em  gerar bem estar social, por que isso é muito amplo. E pode confundir um pouco. A sua função é fazer negócio. O que se prega é que esse negócio seja feito com eficiência econômica, em primeiro lugar. E que, dentro do conceito de eficiência e econômica, junte-se consciência social e ambiental. Ela tem que ser economicamente eficiente no longo prazo. E isso requer outras responsabilidades para com o públicos que impacta. A geração de bem- estar é consequência dessa visão de eficiência econômica com consciência social e ambiental.” (Sérgio Rosa, Previ)
“Este é o desafio que foi posto para todas as lideranças da Vale. E hoje há um esforço grande, um processo de desenvolvimento de competências que leve o líder a considerar não só o negócio, mas as questões sociais e ambientais como princípios de gestão.” (Olinta Cardoso, vale do Rio Doce)
6-) No processo de implementação de responsabilidade social empresarial, que dificuldades práticas e operacionais você tem enfrentado? E como as tem superado?
“Muitas vezes a dificuldade da responsabilidade social está na busca de “empoderar” cada um dos participantes das ações para que seja alcançada a auto-sustentabilidade do que se propõe. A forma mais eficaz de se enfrentar esse desafio é, por um lado, realizar projetos factíveis – operacional e economicamente falando – para que sejam passíveis de um acompanhamento próximo de seu gestores, com possibilidades reais de monitoramento permanente e correções de metas, quando necessário. Por outro lado, é preciso que se  fortaleça a auto-estima dos participantes da ação, mostrando que a força de cada uma das realizações pode impulsionar o que vem pela frente, fazendo com que os benefícios para a sociedade se multipliquem de forma proporcional ao zelo, à dedicação de cada ator em sua função.” (Cledorvino Belini, Fiat)
“A maior dificuldade são as pessoas na empresa que não acreditam no que você está fazendo. No nosso caso, teve gente que achou que deveríamos reverter o 1% do faturamento bruto que dedicamos á Fundação Orsa para os funcionários.”  (Sérgio Amoroso, Grupo Orsa)
“ Nem todos os nossos fornecedores tem a lógica do compromisso social. Mas a dificuldade está também em os investidores perceberem o quanto isso é importante para o futuro do negócio. É tudo muito novo ainda. (Wagner Pinheiro de Oliveira, Petros)
“Temos dificuldades com novas tecnologias para lidar com o tema. Mas a principal dificuldade é produzir uma  nova consciência de que é possível fazer as coisas de novas maneiras. A gestão sustentável requer novas posições.  E a organização como um todo, mas cada um dos seus integrantes, precisam estar conscientes do seu papel nesse desafio. Cada uma tem algo a contribuir.” (Sérgio Rosa, Previ)
“ A sustentabilidade tem que perpassar todas as atividades da empresa. O que a gente cria são princípios.  Políticas e diretrizes orientadoras. E uma gestão com governança forte que coloque critérios sustentáveis para as pessoas trabalharem. Hoje temos uma diretoria de sustentabilidade, que está trabalhando as referências do GRI. A partir disso, vamos ter indicadores para acompanhar este esforço no dia-a-dia.” (Olinta Cardoso, Vale do Rio Doce)

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