Nicholas Stern

Nicholas Stern

Em visita ao Brasil, o economista britânico Nicholas Stern também defende o fomento às energias renováveis como forma de superar a crise e combater o aquecimento.
Brown e Stern têm mais semelhanças do que pode parecer à primeira vista. Trata-se – vale reforçar – do ambientalista norte-americano Lester Brown e não do primeiro-ministro britânico Gordon Brown, com quem Lord Nicholas Stern teria afinidades naturais. Salvo distâncias geográficas, ideológicas e culturais, o ecologista e o economista pensam quase igual em relação ao combate ao aquecimento global.
Em visita ao Brasil para participar do debate “Elementos-chave para uma economia de baixo carbono”, promovido, em novembro, pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Stern ressaltou que não é preciso fazer uma escolha entre o crescimento e a responsabilidade climática. “Enquanto essa questão continuar sendo colocada como uma corrida de cavalos, a responsabilidade climática vai perder. A idéia de que a redução de emissões freará o crescimento não está correta, tanto do ponto de vista analítico quanto político”, afirma.
A julgar pela repercussão do relatório Stern (2006), que trata dos impactos econômicos das alterações do clima, há motivos para acreditar que suas novas proposições podem contribuir para a construção de uma economia de baixo carbono. “A lição deixada pela turbulência financeira também vale para a ameaça do aquecimento global. Quanto mais ignorarmos os riscos, maiores serão as conseqüências”, ressalta.
Diante do consenso cada vez maior de que a atividade humana é a principal causa do aquecimento global, muitas empresas vêm incorporando a questão das mudanças climáticas em sua estratégia. Inicialmente, adotaram medidas de ecoeficiência para diminuir impactos dos processos produtivos. Hoje, já se percebe um movimento para voltar os esforços de inovação ao desenvolvimento de tecnologias mais limpas.
Apesar de vir se mostrando bastante bem-sucedida – vide os casos notórios da Toyota com o carro Prius e da GE com a linha Ecoimagination — essa estratégia demanda muitos recursos. À medida que a crise se instala e a agenda da redução de custos ganha cada vez mais espaço, teme-se que os investimentos dedicados à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais limpas sejam comprometidos.
Nesse cenário, o conselheiro do governo britânico ressalta a importância de políticas governamentais para conduzir o mercado a padrões mais sustentáveis. “O momento é oportuno para aumentar a participação do setor público no financiamento das atividades de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais limpas. Muitos empresários saíram à frente ao investir, por exemplo, em processos de inovação na área de eficiência energética e energias renováveis. Em 2009, os governos devem alcançá-los, fomentando inovações nessa área”, ressalta Stern.
Segundo o economista, algumas iniciativas indicam que já há disposição para introduzir novos padrões para o crescimento. “Em campanha para candidatura à presidência norte-americana, Barack Obama propôs a criação de cinco milhões de empregos no setor verde. Gordon Brown, por sua vez, anunciou a geração de um milhão de postos de trabalho nessa área para conter a recessão”, afirma.
A proposta assemelha-se ao método do economista John Maynard Keynes que sugeriu a construção de obras públicas para gerar postos de trabalho, movimentar a economia e combater a crise financeira que se instalou na década de 30.
Países em desenvolvimento
De acordo com o relatório Green Jobs, do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, a tendência de expansão de empregos a partir do investimento em energias renováveis – antes mais perceptível em países desenvolvidos – começa a dar sinais também nos países emergentes.
Para Stern, o Brasil deu um passo significativo rumo a uma economia de baixo carbono ao apostar na produção de biocombustíveis. “O desenvolvimento da tecnologia de geração de energia a partir de biomassa foi um progresso importante para o mundo”, afirma. Segundo ele, a descoberta do pré-sal não deve  ser motivo para descontinuar os investimentos dedicados à consolidação do mercado para biocombustíveis, assim como o desenvolvimento de outras alternativas de energias renováveis.
Em sua opinião, tão importante quanto estimular o uso da energia renovável é desenvolver formas de explorar os combustíveis fósseis de maneira mais limpa. “Haverá um período – talvez 30 ou 40 anos – que o mundo ainda usará hidrocarbonetos. No entanto, será preciso dispor de formas de captura e armazenamento de carbono”, afirma.
O economista anima-se com a possibilidade de comércio de carbono a partir do desmatamento evitado. No entanto, acredita que para tornar isso possível será necessário criar mecanismos de monitoramento e marcos legais. Com o investimento de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões de dólares por ano –estima Stern — seria possível reduzir para a metade o desmatamento no mundo.
Segundo o economista, o Brasil demonstrou coragem ao assumir o compromisso de acabar com o desmatamento até 2015 (uma das propostas do Plano Climático anunciado pelo governo federal). “Percebo mudanças concretas como o plano de ação para impedir o avanço do desmatamento. O Brasil é uma das nações com maior percentual de energias renováveis em sua matriz energética. Politicamente, o País é importante para formular um acordo global de combate às mudanças climáticas”, ressalta o conselheiro britânico.
Stern propõe a criação de um fundo internacional para proteção da Amazônia.
Por meio dessa iniciativa, países desenvolvidos poderiam disponibilizar recursos para ações de combate ao desmatamento como o desenvolvimento de oportunidades de geração de renda para as populações que vivem na floresta alternativas à agricultura e pecuária extensiva.
O economista defende que os países em desenvolvimento sejam líderes na discussão de um acordo global de mudanças climáticas, pois se estima que oito dos nove bilhões de pessoas da população mundial viverão nesses países, em 2050.
Para manter a concentração de dióxido de carbono na atmosfera entre 450 e 500 ppm, Stern sugere que os países desenvolvidos assumam metas para reduzir suas emissões em 80% e as nações em desenvolvimento, em 50%.
Mercados mais verdes
Chama a atenção de Stern uma certa tendência ao ativismo demonstrada no setor terciário.  Um bom exemplo é  a iniciativa do Wal-Mart de exigir padrões de sustentabilidade de seus fornecedores.
Para ele, o mercado tem um papel importante no combate ao aquecimento global. O economista defende a adoção de medidas de precificação do carbono, induzindo as empresas a buscar tecnologias mais limpas. “Mecanismos como a rotulagem são importantes, pois oferecem informações aos consumidores sobre a pegada de carbono dos produtos. Dessa forma, as empresas que apresentam processos e produtos mais limpos acabam sendo recompensadas pelos consumidores, consolidando padrões mais sustentáveis no mercado”, ressalta.
Segundo estimativa da Roland Berger Strategy Consultants, o mercado para produtos e serviços verdes movimenta cerca de US$ 1,37 bilhão em todo o mundo. A projeção é que o setor alcance US$ 2,74 bilhões em 2020.

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