Tendências – Relatórios de sustentabilidade

Tendências – Relatórios de sustentabilidade

Capítulo 1
Menos publicidade e mais informação pedem os leitores
 
Nove em cada dez entrevistados pela Global Reporting Initiative (GRI), e as consultorias KPMGSustainAbility, durante a pesquisa “Count me in: The readers’ take on sustainability reporting”, acham que os relatórios de sustentabilidade impactam positivamente a percepção dos leitores em relação à companhia e adicionam valor à marca. No entanto, esses documentos devem servir menos como uma ferramenta de marketing e mais como fonte de informação, segundo os leitores ouvidos para o estudo, na última Conferência Global da GRI, realizada em maio último, na cidade de Amsterdã.
“Cada vez mais as empresas vão reportar não só aquilo que fazem de positivo, mas também os seus desafios. Do contrário, passarão a impressão de que estão tentando divulgar uma imagem perfeita, o que gera desconfiança nos leitores”, afirma Glaucia Terreo, representante da GRI no Brasil.
Segundo Glaucia, durante a conferência, houve quem propusesse, ironicamente, a formação de um ranking de relatórios com mais fotos de crianças sorrindo. A provocação teve a função de levar as empresas a pensar seus relatórios de forma mais estratégica, como uma ferramenta de gestão das práticas socioambientais e não um livro auto-elogioso de feitos e realizações para a humanidade.
Para que isso aconteça na prática –sugerem os especialistas – deve-se promover um equilíbrio de informações (positivas e negativas), a averiguação externa (não só dos balanços financeiros, mas também dos processos socioambientais) e a realização de painéis com stakeholders. Essas recomendações, propagadas pela GRI desde 2006, com a divulgação das diretrizes G3 para elaboração de relatórios de sustentabilidade, já podem ser observadas nas últimas edições de relatórios corporativos.
De acordo com a representante da GRI no Brasil, a postura de transparência, caracterizada, por exemplo, pela aproximação com os públicos de interesse, longe de representar um risco de superexposição contribui para a solução de alguns dos dilemas da empresa. “O relatório de sustentabilidade proporciona outros pontos de vista sobre os diferentes indicadores. Ao comunicar não só realizações, mas também os problemas, a empresa deixa a porta aberta para o diálogo. A partir desse engajamento, passa a gerenciar melhor os riscos e tem a oportunidade de buscar soluções junto aos públicos impactados direta ou indiretamente por seus negócios”, explica.
Averiguação externa
 
Prática usada com freqüência nos balanços financeiros, os processos de auditoria de organizações terceirizadas também começam a ser adotados para os indicadores socioambientais. Trata-se de uma oportunidade para a companhia aprimorar seus controles e conferir maior credibilidade às informações divulgadas.
Petrobras, cujo relatório de sustentabilidade de 2006 foi eleito como o melhor nas categorias “Stakeholders” e “Sociedade Civil” no GRI Readers’ Choice Awards, conta, desde 2003, com averiguação externa dos balanços financeiros e socioambientais. “O relatório não representa apenas uma prestação de contas à sociedade, mas uma ferramenta de gestão interna na empresa. A análise crítica dos aspectos positivos e negativos permite a identificação de pontos de melhoria e onde podemos avançar em relação ao negócio”, afirma Ana Paula Grether, coordenadora do Balanço Social e Ambiental da Petrobras.
A auditoria externa rendeu à Petrobras a avaliação A+ da GRI. O mesmo ocorreu com a Natura, cujo último relatório foi submetido à avaliação da consultoria norueguesa DNV (Det Norske Veritas). “Desde 2003, procurávamos uma empresa que pudesse fazer, ao mesmo tempo, a auditoria dos dados financeiros e socioambientais. Essa oportunidade surgiu quando a DNV, que já havia trabalhado na realização do inventário de emissões da Natura, qualificou-se para certificar o relatório de sustentabilidade”, explica Rodoldo Gutilla, diretor de Assuntos Corporativos e Relações Governamentais da Natura.
Participação dos stakeholders
 
A realização de painéis com stakeholders é uma das exigências para relatórios elaborados segundo o modelo G3. Neles, especialistas, clientes, fornecedores e representantes da comunidade, entre outros públicos, são convidados pelas empresas a examinar aspectos de suas políticas, ações e desempenho.
O engajamento com as partes interessadas consiste, segundo os analistas da GRI, em fator determinante não só para a reputação, mas também para a gestão de riscos. Em 2007, o Banco Real fez uma série  de  entrevistas  com stakeholders visando identificar os principais temas  que  deveriam ser abordados no relatório anual. “Esse rico diálogo gerou  várias  oportunidades  de  melhoria  não só nos conteúdos e na forma do relatório, mas também quanto à nossa estratégia e posicionamento”, afirma Fernando Byington Egydio Martins, diretor-executivo de Estratégia da Marca e Comunicação Corporativa do Banco Real.
O mesmo ocorreu com a Suzano Holding, que em 2006 passou a adotar as diretrizes da GRI. Para realização dos painéis com stakeholders, a empresa contou com o apoio da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável – FBDS.
Segundo Simone Soares, gerente de comunicação corporativa e gestão da marca Suzano Holding, o próximo desafio da empresa é aprofundar o diálogo com as partes interessadas por meio de novos canais de comunicação e assim tornar os relatórios cada vez mais objetivos. “Na última edição, mantivemos uma versão completa na internet com todos os indicadores e links que proporcionam o aprofundamento de alguns temas. Pretendemos ampliar a comunicação no meio virtual, abrindo cada vez mais espaço para participação dos diferentes públicos”, afirma Simone Soares.
Capítulo 2
Integrando práticas socioambientais à estratégia
 
Desde a criação dos princípios para elaboração de relatórios de sustentabilidade da Global Reporting Initiative em 1999, o número de empresas adeptas das diretrizes cresceu de 20 para 1500. A iniciativa conta com o apoio das maiores companhias do mundo. No ranking das 10 maiores marcas eleitas pela revistaBusiness Week, sete utilizam os parâmetros da GRI para elaboração de seus relatórios.
Para Ernst Ligteringen, presidente da organização, os números revelam avanços na discussão da sustentabilidade, principalmente, quanto à percepção em torno da prática desse conceito que saiu da periferia para o centro da estratégia do negócio.
“Observo uma evolução no debate sobre sustentabilidade. Há três anos, a pergunta central nas empresas era: ‘Devemos fazer relatórios de sustentabilidade?’. Hoje, as companhias se preocupam em como produzir relatórios melhores e mais úteis para o próprio negócio e para os leitores. Já se percebe que o relatório constitui uma fonte de informação importante para investidores, consumidores, organizações não- governamentais e uma rede cada vez mais abrangente destakeholders“, ressalta.
Confira essas e outras idéias do presidente da GRI em entrevista exclusiva a Idéia Socioambiental.
 
IS – O que é necessário para que o relatório de sustentabilidade funcione como uma ferramenta para gerenciar aspectos econômicos, sociais e ambientais na empresa?
 
 
EL– A produção dos relatórios de sustentabilidade deve estar integrada ao negócio. Algumas empresas já fazem isso. Outras, porém, delegam essa atividade a um profissional de comunicação. Quando todos os departamentos da empresa participam da produção do relatório, o resultado final é muito mais condizente com a sua realidade. Além disso, essa metodologia de trabalho ajuda a companhia a analisar os efeitos do relatório a partir do diálogo com as partes interessadas. Essa aproximação com os stakeholders é o que vai diferenciar o documento.
IS- Ser transparente também é uma forma de encontrar novas oportunidades de negócios?
 
 
 
EL– O relatório de sustentabilidade constitui uma via de mão dupla, um processo de aprendizado. Não se trata apenas de prestar contas a funcionários, clientes e demais públicos de interesse. Quando se estabelece o diálogo com stakeholders, também se obtém informações de como eles vêem os desafios sociais, econômicos e ambientais enfrentados pela empresa. Além de avaliar a performance da companhia, as partes interessadas podem oferecer indicadores valiosos em relação a novas oportunidades e áreas de investimentos.
IS- O que o senhor acha do uso mais recente de formatos colaborativos para a produção de relatórios, como, por exemplo, o wikiporting?
 
 
 
EL – Essa prática é muito nova. Mas tem um potencial a ser explorado, podendo servir ao estreitamento do diálogo com stakeholders. Mas o formato wiki não substituirá todos os aspectos do relatório de sustentabilidade. Penso que seja mais um elemento do processo. Devemos avaliar até onde podemos ir com uma experiência colaborativa. Mais importante do que o formato do relatório em si é em que nível se dá a integração com os stakeholders. O wiki apresenta vantagens por ser um canal de comunicação online. A sua implementação poderá apontar direções quanto à seleção do conteúdo e estrutura do relatório.
IS – Que características um relatório de sustentabilidade deve apresentar para ser uma fonte de informações confiável para consumidores e investidores?
 
EL- As diretrizes da Global Reporting Initiative têm exatamente esse objetivo. A organização surgiu há 10 anos com o intuito de aproximar empresas, organizações não- governamentais, universidades e sindicatos, entre outros públicos no processo de produção do relatório de sustentabilidade. Os seus princípios incluem 79 indicadores para auxiliar as companhias a definir os assuntos-chave a serem abordados no relatório. As diretrizes apontam o caminho para a produção de um relatório que faça sentido e ajude na tomada de decisão. Isso já acontece em relação a alguns leitores. No entanto, investidores ainda não usam os relatórios de sustentabilidade com tanta freqüência. Para que isso se torne possível, é importante fortalecer o diálogo com eles, avançar na prática dos demais princípios e transformar os relatórios em fontes de informação cada vez mais confiáveis.
IS – A produção de relatórios de sustentabilidade também é uma tendência para governos e organizações do terceiro setor?
 
 
EL- Sim. Assim como as empresas, os governos e organizações do terceiro setor também devem ser transparentes. E a produção de relatórios de sustentabilidade é uma forma de assegurar isso. No G3 (última versão dos princípios da GRI), assim como estabelecemos diretrizes específicas para os diferentes segmentos da indústria, também desenvolvemos indicadores para agências públicas. Nesse momento, estamos trabalhando junto às organizações não-governamentais para criar indicadores específicos para esse setor.
IS – Desde a criação dos princípios da GRI para elaboração de relatórios de sustentabildiade, que conquistas e desafios o senhor destacaria?
 
 
 
EL – Vejo uma evolução importante no debate sobre a sustentabilidade. Há três anos a pergunta central era: “Devemos fazer relatórios de sustentabilidade?”. Hoje, as companhias se preocupam em como produzir relatórios melhores e mais úteis para o próprio negócio e para os leitores. Hoje, há um grupo cada vez maior de pessoas que procuram repostas nos relatórios de sustentabilidade. Querem saber, por exemplo, as soluções que as empresas apresentam para a crise de energia ou o aquecimento global. Documentos como estes devem apresentar a estratégia da empresa, seus resultados econômicos, ambientais e sociais. Os indivíduos já não querem mais ouvir apenas sobre boas histórias. Desejam uma analise séria ou a explicação dos resultados da companhia. Querem apenas a verdade dos fatos.
Tendências para os relatórios de sustentabilidade
 
No Global Winners & Reporting Trends (Vencedores Globais e Tendências em Relatórios), o portal CorporateRegister.com avaliou os melhores relatórios publicados em 2007, destacando os mais bem elaborados e indicando as perspectivas para o futuro.
Foram avaliados 90 relatórios de empresas líderes (por capacidade de mercado) de cinco países: Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Austrália e Japão. Isso significa que as descobertas são comparáveis por países e setores.
O estudo não deixa nenhuma dúvida quanto à evolução do interesse pela divulgação de dados intangíveis nos negócios. Em 1992, foram publicados apenas 27 relatórios de sustentabilidade. Em 2007, as empresas produziram 2.500 documentos.
Segundo o levantamento, nos últimos 15 anos, também houve uma evolução importante nos conteúdos desses documentos, atribuída a vários fatores, entre os quais a ascensão do uso das versões G2 e G3 do Global Reporting Initiative (GRI). Dos 2.500 relatórios elaborados em 2007, 32% seguiram os padrões GRI.
 
Tendências apontadas identificadas pelo CorporateRegister
 
· Mais conteúdo, melhores formatos e maior integração de dados;
· Ascensão dos relatórios online, que oferecem um acesso mais eficaz e consistente a documentos com grande volume de dados;
· Integração entre balanço financeiro e responsabilidade social corporativa; Possibilidade de comparação de dados;
· Relevância e materialidade a partir da comunicação tanto de oportunidades como de riscos;
· Ascensão das auditorias externas.
Os melhores relatórios
 
Melhor relatório: Vodafone Group
Melhor primeiro relatório: Green Mountain Coffee Roasters
 
Melhor relatório de micro, pequeno e médio negócio: Green Mountain Coffee Roasters
 
Melhor relatório integrado: Novo Nordisk
 
Melhor declaração das emissões de carbono: BMW
 
Criatividade em comunicação: Coca-Cola
 
Relevância e Materialidade: BP
 
Franqueza e Honestidade: Bayer
 
Credibilidade gerada por auditoria: BP/ Ernst & Young

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