Tendências – Sustentabilidade competitiva: quem é quem no ranking mundial

Tendências – Sustentabilidade competitiva: quem é quem no ranking mundial

Relatório da britânica Accountability compara a responsabilidade social em diversos pontos do mundo e relaciona seu grau de evolução à melhora da competitividade de países e empresas.
Mais do que compensar a sociedade pelos impactos causados à natureza, o que move as grandes corporações – e, um número cada vez maior de pequenas e médias empresas – em direção à agenda de sustentabilidade é a busca de mecanismos capazes de ampliar a competitividade no comércio mundial. Trata-se de uma estratégia para prosperar, cujos exemplos vêm crescendo nos últimos anos entre os gigantes do mercado. Um  dos  mais recentes é o da japonesa Toyota, que ultrapassou as vendas da concorrente americana General Motors pela primeira vez por conta de sua tecnologia inovadora de motor híbrido elétrico e á gasolina, com menor emissão de gases de efeito estufa.
Avaliar, porém,  a real dimensão do retorno que uma gestão responsável traz para as empresas ainda é uma tarefa difícil. Foi esse exatamente o desafio a que se propôs   Simon Zadek, presidente da consultoria britânica Accountability, e que resultou no relatório The State of Responsable Competitiveness 2007 (O Estado da Competitividade Responsável 2007), escrito em parceria com Alex MacGillivray, chefe de programas da empresa.
O documento reflete a tendência da participação da sustentabilidade nos mercados globais e conclui que “os mercados recompensam práticas corporativas geradoras de melhores resultados sociais, ambientais e econômicos e, também, que as nações que encorajam tais práticas por meio de políticas públicas, normas da sociedade e ação dos cidadãos, são as que obtêm maior sucesso econômico”.
Levando em conta que hoje em dia a criação de práticas inovadoras é –segundo Zadek — mais importante do que conscientizar as empresas, o  relatório analisou 108 países, definindo, ao final, quatro clusters de países, que retratam diferentes estágios de evolução da responsabilidade social. Formam os grupos os chamados de  “iniciantes” ( starters), os “cumpridores” (compliers), os “assertivos” (assertives) e os “inovadores” ( innovators). Cada qual foi analisado a partir de três critérios previamente estabelecidos: “ação do negócio”, “diretrizes políticas” e “permissões sociais” que permitiram desenhar um painel dos recuos e avanços da RSE no mundo.
Com base nesses indicadores, foram avaliados, por exemplo, temas como a ratificação de acordos socioambientais,  a relação com os funcionários e os processos de contratação, o pagamento de impostos, os  impactos ao meio ambiente, a eficácia das cúpulas corporativas, o comportamento ético, os padrões de auditoria e contabilidade, certificações, relação com clientes e ONGs, liberdades civis e de imprensa e transparência.
No topo desse  ranking estão os “inovadores”, um grupo de 20 nações que, além de aderirem às práticas socioambientalmente responsáveis, trabalham para implementá-las na base dos negócios.  “Para os inovadores, a competitividade responsável não é mais um adicional, mas o coração do modelo econômico”, afirma Zadek no documento. Nesse grupo, destacam-se os países europeus – 13, do total – especialmente os do Norte do continente, como Suécia, Noruega e Finlândia.
O  grupo que vem a seguir, os ‘cumpridores”, reúne 32 países –  entre os quais, o Brasil –, e tem expressiva participação no mercado internacional, para o qual contribui com US$ 1 trilhão. Nesse ranking, o Brasil aparece como o segundo na lista dos BRICS (grupo de países emergentes) e 28 o na classificação geral, atrás da África do Sul e à frente da Índia, Rússia e China, respectivamente. Segundo o relatório, os “cumpridores” estão preocupados em demonstrar progresso e atentos a padrões internacionais.
Por essa razão, “se esforçam para capturar sua fatia no mercado em cadeias de suprimento globais, de marcas e consumidores mais conscientes em relação à qualidade”. Entretanto, nos países participantes deste grupo a sociedade civil ainda não   recebe atenção que merece, o que leva  Zadek a afirmar que a oportunidade para o Brasil, por exemplo,  está em “construir marcas de responsabilidade nacional, tirando vantagem de uma reputação internacional única que o país detém”.
Se os “cumpridores” já passaram da etapa inicial de mobilização básica da responsabilidade social nas empresas, os “iniciantes”, apesar de já terem despertado para o conceito da RSE,  ainda estão –de acordo com o relatório — aprendendo a lidar com  questões básicas, como segurança e direitos no trabalho. Neste grupo, que reúne 31 países, incluem-se a China e a Rússia, os mais competitivos entre os países emergentes, porém, ainda engatinhando na resolução de problemas sociais.
Um estágio à frente do Brasil e seus companheiros de grupo, os “assertivos”  se diferenciam por já saberem aproveitar as oportunidades criadas a partir de uma gestão responsável, principalmente, para atrair investimentos externos. Nessa categoria, foram listados   24 países, entre eles, a Itália, a Espanha, os Emirados Árabes Unidos, a África do Sul e o Chile.
RSE caminha paralela à prosperidade
Os resultados da pesquisa, porém, não refletem apenas os avanços de cada país. Segundo Zadek, existe uma relação intrínseca entre o nível da responsabilidade social das empresas e o desenvolvimento econômico nacional. A principal evidência   é que a maioria dos países africanos se encontra no grupo dos iniciantes, enquanto os europeus e os Estados Unidos ocupam as posições mais altas do ranking. A questão, porém, é mais complexa. A China, nação com a economia que mais cresce atualmente, está classificada com o nível mais baixo de RSE. “Geralmente, negócios responsáveis são mais desenvolvidos em países mais ricos, mas economias emergentes, como o Chile, a Tailândia e a África do Sul, também têm bons resultados”, afirmou Zadek à revista Idéia Socioambiental.
Para explicar tal efeito, ele lembra  que cada empresa atua no âmbito do desenvolvimento econômico de seu país, e também influencia o quadro nacional a partir de seus resultados. “Obviamente existem conexões fortes, com negócios de sucesso apoiando a competitividade nacional diretamente em áreas como pagamento de impostos e provisão de empregos”, argumenta o especialista. Segundo ele, países com mercados competitivos também tendem a promover empresas mais eficientes e produtivas. Zadek cita o caso do Brasil como bom exemplo. “O País aumentou sua competitividade ao combinar políticas públicas fortes com ação corporativa para desenvolver uma posição de liderança internacional em biocombustíveis”, conta.
Para ele, entretanto, países com o mesmo nível de desenvolvimento não necessariamente estão no mesmo patamar no que se refere à sustentabilidade. Isso se explica pelo fato de que, enquanto alguns buscaram o desenvolvimento a qualquer custo, ignorando os riscos e o impacto provocados ao meio ambiente e à sociedade, outros preferiram alinhar suas estratégias de negócio, políticas públicas e ações da sociedade civil, sem se preocupar tanto como crescimento econômico.
Entre suas observações, Zadek alerta que a responsabilidade social não evolui naturalmente, “sendo fruto de espera e crescimento paralelo à economia”. Alguns mercados, típicos por suas políticas públicas fracas e sociedade civil desunida, não estão –segundo o relatório — equipados para recompensar negócios responsáveis. “Políticos e líderes corporativos precisam examinar como os casos de responsabilidade social de sucesso estão construindo situações ‘ganha-ganha’ e explorar como podem reproduzir essas condições em outros setores e países”, observa.
O que ainda falta na RSE mundial
O panorama sobre a responsabilidade social no mundo traçado pelo relatório da Accountability aponta também os desafios que as empresas ainda enfrentam, em maior ou menor grau, na implementação de uma gestão sustentável. Segundo Zadek, são três as  dificuldades mais freqüentes. A primeira é o atraso  das organizações que investem no crescimento sem qualquer preocupação com os impactos sociais e ambientais e sem prever as conseqüências. Tais empresas  desfrutam de uma certa sensação de imunidade e cultivam a crença de que jamais serão atingidas. Um erro, na visão de Zadek: “Os mercados globais estão mudando depois de escândalos como o da HP (por suspeita de espionagem ligada ao conselho, em 2006). Negócios irresponsáveis estão cada vez mais sendo penalizados”. O segundo obstáculo se refere aos governos, “que não se convencem sobre a importância da RSE e, portanto, não incentivam as empresas (ou vice-versa)”.
O foco somente em compliance é a terceira dificuldade relatada por Zadek, mais comum entre as organizações da sociedade civil, que ainda relutam em abrir seus horizontes para inovações na área de RSE.
Nos países mais  pobres há questões adicionais como corrupção e transparência, que Zadek classifica como “manchas negras” no caminho do desenvolvimento sustentável. Para ele, isso é, freqüentemente, sinal de uma profunda falha na governança, que interfere  em todos os outros elementos da responsabilidade social. O fato de esses países concentrarem um grande número de empresas de pequeno e médio porte é outro problema na visão de Zadek para quem “empresas maiores têm mais vantagens com a RSE”.
Mais facilidade na hora de fechar acordos
Maior  competitividade no mercado internacional significa  maior facilidade de fechar negócios. É uma conclusão lógica, que justifica parte do interesse das empresas no movimento de valorização do conceito de sustentabilidade. “Competitividade responsável requer uma sociedade civil forte e políticas públicas que promovam práticas de negócio responsáveis. É mais fácil fazer negócios quando essa sinergia existe”, observa Zadek. Segundo ele, as organizações podem melhorar a qualidade de seus ativos ao gerenciar sua impressão ambiental cuidadosamente e investir em recursos humanos. “Competitividade recai  cada vez mais sobre vantagem colaborativa, por isso  fazer negócios fica mais fácil quando a sociedade civil, governo e empresa têm a capacidade e o desejo de formar parcerias estratégicas.”, afirma.
Levando em conta essa facilidade comercial, o relatório ainda demonstra algumas práticas que têm representado grandes oportunidades de negócios, como, por exemplo, o mercado de créditos de carbono, a promoção da igualdade de gêneros, investimento na força de trabalho para o aumento de produtividade, governança e contabilidade – que, se efetivamente funcionassem, poderiam aumentar em até quatro vezes a renda nacional, como prevê o relatório.

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