Vida Solidária – Gestão e solidariedade: a doutora dos mais pobres entre os pobres

Vida Solidária – Gestão e solidariedade: a doutora dos mais pobres entre os pobres

Em seu último ano à frente da Pastoral da Criança, organização que comandou durante mais de duas décadas, a pediatra Zilda Arns entrega a sua sucessora ou sucessor um exército de 270 mil voluntárias, a rede de solidariedade mais capilarizada do B

A decisão já está tomada. E a despedida tem data certa. Em dezembro de 2007, a pediatra e sanitarista Zilda Arns, 72 anos, deixará a coordenação nacional da Pastoral da Criança, cargo que ocupa há 23 anos, desde que fundou a organização.

Ao formalizar a sua saída, a doutora Zilda, como é conhecida nas comunidades onde atua, terá escrito a mais impressionante história de construção de uma organização da sociedade civil no Brasil.

Os números falam por si: hoje a Pastoral atende cerca de dois milhões de crianças até seis anos de idade, em 41.542 comunidades de 4.040 municípios. Em torno dela, formou-se uma rede de 270 mil voluntários, moradores das próprias comunidades beneficiadas, que trabalham para o desenvolvimento da saúde, educação e cidadania das crianças, chegando a paragens recônditas aonde, muitas vezes, nem o governo federal consegue dar o ar da graça. Responsável pela articulação da maior teia de solidariedade do país, e uma das maiores do mundo, a Pastoral empresta hoje a sua expertise para 15 outros países pobres.

Evidentemente, não se constrói uma organização tão complexa como a Pastoral apenas com boa vontade, solidariedade e desprendimento, qualidades, aliás, que a doutora Zilda tem de sobra. É preciso, sobretudo, liderança firme. E gestão de qualidade. Não apenas dos processos administrativos. Mas principalmente de pessoas. O segredo para manter íntegra e participativa uma rede de milhares de voluntários é saber se conectar individualmente com cada um deles, despertando um sentimento de orgulho e uma identidade com o trabalho desenvolvido.

O segredo para atender bem tanta gente, gerando impacto social efetivo nas comunidades, está em nunca se desviar do foco de missão e saber o que se quer com clareza. Conceitos de management como esses são ensinados em escolas de administração e MBAs. A doutora Zilda os aprendeu na prática da gestão hospitalar. E a eles, acrescentou um jeito muito particular de combinar espírito solidário com resultados concretos.

“Multiplicamos conhecimento e solidariedade em nome dos mais pobres entre os pobres”

O ponto de partida para uma boa gestão é, segundo a doutora Zilda, ter objetivos claros e estratégias corretas. A Pastoral – avalia – sempre soube o que fazer e como fazer o seu trabalho. E isso ajuda bastante. “Queremos que todas as crianças tenham vida em abundância. Cuidamos das mais pobres não só para elas sobreviverem, mas para que tenham qualidade de vida”, define.

Pouco convencional, mas muito adequada para uma organização católica, a metodologia usada pela Pastoral da Criança tomou como inspiração uma passagem do Evangelho de São João, no novo testamento da Bíblia: a da multiplicação dos dois peixes e cinco pães que saciaram cinco mil pessoas. Para atingir as suas metas, a Pastoral procura “multiplicar conhecimento e solidariedade” em nome “dos mais pobres entre os pobres”. Na prática – enfatiza a doutora Zilda — o que a organização faz é transformar o saber científico, principalmente da área da saúde, em linguagem popular, capaz de ser compreendida e assimilada pelas pessoas mais simples do povo.

Até chegar ao povo, no entanto, as distâncias são longas. Superá-las requer muitas vezes um esforço de Hércules em um país de dimensões continentais. Para ter certeza de que vão alcançar os lugares certos, onde estão as crianças que mais precisam, a primeira medida dos técnicos da Pastoral é cruzar os dados nacionais de pobreza com a área de cobertura da rede mantida pela organização – uma malha fortemente capilarizada que se estrutura a partir de 262 dioceses e 61% das paróquias ligadas á igreja católica em todo o Brasil. A capilaridade da Pastoral é um dos motivos do orgulho da doutora Zilda, uma entusiasta do modelo de descentralização de atendimento praticado sob seu comando.

Escolhidas as comunidades mais miseráveis, o passo seguinte consiste em mapear as casas e identificar as famílias com crianças até seis anos de idade. Em seguida, são escolhidas as possíveis líderes (92% são mulheres), as formigas obreiras do exército de voluntários a quem cabe articular os serviços da organização nas comunidades selecionadas.

Para integrar o pelotão de frente, não é necessário que o candidato ou candidata pertençam à religião católica. Basta que assumam compromisso com o trabalho, dediquem uma carga horária de 24 horas mensais e integrem a comunidade a ser beneficiada. Quanto mais próximos da realidade local, melhores tendem a ser os resultados da ação voluntária.

Feito o processo de seleção das voluntárias, a Pastoral realiza uma reunião para avaliar os problemas específicos de saúde da comunidade. Na seqüência, capacita as líderes com um curso inicial de 40 horas e oferece- lhes então o Guia do Líder, publicação que orienta passo-a-passo a família sobre cada fase da gestação e de formação da criança até os seis anos.

O livro, que foi considerado pela OMS –Organização Mundial de Saúde o melhor almanaque do gênero no mundo, ensina também como fazer o registro de nascimento, administrar o calendário de vacinas, alimentar corretamente a criança e lhe dar todo o carinho necessário. A capacitação proposta pela Pastoral obedece a uma lógica inteligente, adequada á sua capacidade orçamentária e absolutamente compatível com o desafio de uma organização que atua em todo o Brasil.

Mil capacitadoras são formadas pela coordenação nacional. A este núcleo inicial atribui-se a tarefa de multiplicar o conhecimento para outras 12 mil, que, por sua vez, empenham-se em fazer a informação chegar, na ponta, ás líderes comunitárias. Tudo funciona como um conjunto azeitado de correias transmissoras.

Encerrada a capacitação básica, cada uma das voluntárias passa a receber formação continuada por meio de seminários e oficinas e também pelos veículos de comunicação. Hoje, a Pastoral da Criança conta com dois jornais e um programa de rádio transmitido por 2.046 emissoras diferentes. “Uma organização como a nossa precisa de atualização permanente. Não podemos ficar parados no tempo”, ensina.

“Se você consegue compartilhar com mais gente os objetivos, nunca falta apoio”

Poucos são os periódicos no País que têm a tiragem do Jornal Pastoral da Criança. Todos os meses, os seus 250 mil exemplares são distribuídos para a rede de líderes comunitárias, servindo não apenas para mantê-las atualizadas mas também para reforçar os seus elos de solidariedade e estimular o seu trabalho. O outro veículo, denominado Dicas, chega a 6.370 paróquias.

Como não bastasse um aparato de comunicação de causar inveja a muita empresa, a pastoral empreende esforço de educação individual que a particulariza no universo das organizações de terceiro setor brasileiras. “Visitamos as famílias a cada mês. E fazemos atividades em grupo cujo objetivo é fortalecer os laços comunitários, como, por exemplo, o Dia da Celebração da Vida, no qual as crianças são pesadas”, diz a pediatra.

Se a Pastoral fosse uma empresa, uma ação como essa equivaleria a uma estratégia central. Para a doutora Zilda, o diálogo permanente com quem está com a “mão na massa” mantém vivo o frescor da mobilização e é o melhor instrumento para obtenção de resultados. “Se você consegue compartilhar com mais gente os objetivos, nunca falta apoio. Mas se somos os únicos a querer alcançar esses objetivos, não caminhamos para frente”, ensina.

De sua experiência com gestão hospitalar, a doutora Zilda aprendeu duas lições importantes. A primeira é que nenhum investimento é mais produtivo do que o que se faz em gente. Isso explica, sem dúvida, a atenção quase maternal da Pastoral da Criança aos seus voluntários e a ênfase no seu desenvolvimento. “Se as líderes se sentem felizes, bem capacitadas e motivadas, a Pastoral da Criança vai para frente. O que faz a organização é exatamente o espírito dos voluntários aliado à boa formação e ao conhecimento”, acredita.

“Ninguém vai para frente sem o mínimo de dinheiro necessário”

A segunda lição aprendida, igualmente pragmática, tem a ver com a gestão de recursos financeiros. “Ninguém vai para a frente sem o mínimo de dinheiro necessário”, alerta a pediatra com a simplicidade de quem, seguindo a alegoria bíblica, precisa multiplicar a receita de R$ 40 milhões para cobrir as despesas de um ano inteiro de atividades.

Na avaliação da doutora Zilda – muito afinada, aliás, com o que pregam os especialistas em orçamento – uma das razões do sucesso da Pastoral da Criança é nunca ter contraído dívidas, trabalhando sempre com o que tem e prestando contas de forma transparente, não só aos seus apoiadores –que são muitos e contribuem com diferentes valores – mas também à sociedade.

Só o Ministério da Saúde contribui com metade da receita anual da organização. Os R$ 20 milhões financiam o acompanhamento das ações de saúde, nutrição e educação, as pesquisas, a informatização das dioceses (para a manutenção do sistema de avaliação da entidade), o projeto Brinquedos e Brincadeiras (que, em dezembro, recebeu a doação de dois milhões de livros do Banco Itaú), os programas de geração de renda e de educação de jovens e adultos, e as despesas de capital, acadêmicas, operacionais e de capacitação.

De qualquer modo, a Pastoral não seria a Pastoral –e nem faria tanto com menos dinheiro do que o necessário – não fosse o inestimável trabalho de 270 voluntários. Inestimável, no caso, é apenas força de expressão. A equipe da doutora Zilda resolveu estimar sim o quanto essa força de trabalho custaria em reais.

E chegou a um valor que corresponde a quase o dobro do orçamento total da instituição: somando o que seria pago em salários com outros recursos considerados não-monetários, a legião de voluntários custaria algo em torno de R$ 78 milhões anuais. “O trabalho é voluntário. Mas, para executar nossos objetivos, precisamos investir em capacitação e materiais educativos”, explica.

“As próprias líderes se enxergam no sistema de informação. Elas preenchem os dados no caderno e vêem se estão ou não alcançando os objetivos”

A esta altura da reportagem, o leitor deve estar se perguntando, com toda razão, como a doutora Zilda faz para acompanhar os resultados de uma rede ao mesmo tempo tão grande e tão espalhada. Com o senso prático que apenas os bons planejadores possuem, ela própria criou um sistema de informação e avaliação para a Pastoral da Criança, cuja gestão permite saber regularmente os impactos provocados pela ação nas crianças e nas comunidades.

O método não é recente. Mas continua eficaz. Foi adotado no início do percurso da organização, ainda no primeiro projeto-piloto, realizado, há mais de 20 anos, no município de Florestópolis (PR). Consiste no preenchimento do conhecido Caderno do Líder, um formulário com 24 indicadores redigidos na forma de perguntas que as líderes devem responder a cada mês, registrando, por exemplo, quantas crianças foram pesadas, quantas delas tinham menos de dois quilos e meio, estavam com as vacinas em dia, tomaram o soro caseiro, e assim por diante.

Depois de preencherem o caderno, cinco ou seis líderes se reúnem, comparam resultados, juntam as informações e as anotam num único papel. Tendo condições financeiras, mandam o resumo pelo correio para a coordenação nacional, em Curitiba. Não tendo, o encaminham para a paróquia mais próxima à qual cabe remeter para a sede.

É desse modo caseiro, mas funcional, que a Pastoral consegue acompanhar de perto e com exatidão os índices de saúde infantil das comunidades beneficiadas. Cerca de 32 digitadores trabalham em dois turnos para digitalizar todas as informações na sede da instituição. O computador cruza os dados, compara e avalia a situação de cada comunidade.

A cada três meses, a organização devolve uma carta às lideres, assinada pela Dra. Zilda, com a análise dos resultados e um quadro comparativo regional e nacional para que cada líder possa avaliar o despenho em relação ao de colegas do mesmo estado e do país. Quando os resultados são bons, recebem os parabéns. Quando ficam abaixo do esperado, eles são orientados a melhorar.

O principal objetivo das cartas, segundo a doutora Zilda, é fornecer ás comunidades parâmetros que possibilitem analisar avanços e eventualmente escolher novos rumos. “As próprias líderes, que executam o trabalho, se enxergam nos sistemas de informação. Elas preenchem os dados no caderno e vêem se estão alcançando ou não os objetivos”, afirma.

“Elas aceitam o que escrevo como se eu pegasse as 41 mil comunidades e avaliasse uma a uma”

O que a doutora Zilda escreve é lei para a rede de voluntários da Pastoral. E as informações apresentadas na avaliação são tratadas como um recado pessoal da coordenadora. Para exemplificar o peso que tem as suas cartinhas de feed back, ela conta uma história ilustrativa: certa vez, uma líder disse-lhe que tinha recebido sua carta congratulando pelo índice zero de desnutrição.

No texto, a pediatra mencionara, em tom de brincadeira, que talvez houvesse algum problema com a balança da comunidade. Em resposta, a senhora respondeu séria que, como sempre ela tinha razão. No mesmo dia em que lera a carta, pesaram uma criança desnutrida. É difícil mesmo não ter nenhuma, reforçou. “Elas aceitam o que escrevo na carta como se eu pegasse as 41 mil comunidades e avaliasse uma a uma”, explica, sorridente.

O modelo de gestão adotado pela Pastoral da Criança se baseia em um ciclo, com ações e retorno, como ela mesma gosta de destacar. “Digo sempre que o bom administrador deve ter os recursos humanos bem capacitados e animados, um sistema de informação para acompanhamento e avaliação, e o retorno dos dados para a comunidade, para animar novamente os recursos humanos”, sistematiza.

Não há razões para duvidar da eficácia da receita. Os bons resultados estão aí para confirmar. Prova da qualidade do modelo é que ele tem influenciado outras organizações de terceiro setor. E também governos de todo o mundo.

Segundo a doutora Zilda, o método da Pastoral da Criança serviu de inspiração para várias políticas públicas nacionais. Mais de um ministro da República já correu para Curitiba a fim de tomar algumas lições da pediatra, seja na formação de líderes comunitários seja na descentralização de serviços públicos, como o Serviço Único de Saúde (SUS), por exemplo.

“Os dados do sistema de informação mostraram que contribuímos muito para reduzir a mortalidade infantil e a desnutrição no país”

No entanto, pouca coisa afirma, com mais ênfase, a qualidade do trabalho da Pastoral da Criança do que a melhoria dos Índices de Desenvolvimento Humano dos lugares nos quais a organização tem deixado a sua marca.

“Quando a Pastoral entra em uma comunidade com mortalidade infantil alta, mais ou menos um ano depois ela já diminuiu drasticamente”, comemora a pediatra. E com motivo. Apenas para se ter uma idéia do impacto, o índice de mortalidade infantil dos locais beneficiados pela Pastoral caiu para uma média de 27 crianças em cada mil nascidas. A média nacional é de 35 em cada mil nascidas.

Segundo o Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1985, quando a Pastoral tinha apenas dois anos, a média era de 66 em mil nascidas. O número de óbitos no primeiro ano de vida é outro indicador inegável do efeito positivo da Pastoral. Comparando com dados de 2004, as comunidades atendidas pela Pastoral apresentam uma taxa de 15 por mil contra 26,6 por mil na média nacional.

Graças ao esforço da organização, a desnutrição é hoje baixa no Brasil (4,2%). “Os dados colhidos pelo sistema de informação conseguiram provar que contribuímos muito para reduzir a mortalidade infantil e a desnutrição no país”, festeja.

Com base em estudos que mostram que a mortalidade aumenta quanto menos anos de escolaridade tem as mães – 93‰ de mortes com menos de um ano de estudo e 9% a partir de 12 ou mais anos–, a Pastoral tem investido também na educação dessas mulheres, muitas delas analfabetas.

“Sabia que precisava mostrar resultados para que a Igreja acreditasse no projeto a ponto de transformá-lo em um programa”

Certa noite, em 1982, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns ligou para sua irmã com uma proposta inusitada. Tinha acabado de voltar de uma reunião da ONU (Organização das Nações Unidas) na Suíça, na qual James Grant, na época diretor executivo do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), sugerira a criação de um programa da Igreja de combate à mortalidade infantil no Brasil.

Empolgada, a doutora Zilda começou a projetar a nova organização tão logo desligou o telefone. “Eu estava com meus cinco filhos, e a mais nova, então com nove anos, disse: ‘Hoje a mãe vai fazer um projeto que vai salvar milhões de crianças se a igreja morder a isca’”, relembra, animada.

A chance de lançar a isca chegou muito rápido. Chamada a Brasília para apresentar uma proposta ao Unicef, a doutora Zilda, especialista no tema, argumentou em defesa de suas idéias e fez uma boa figura. De saída, anunciou convicta que os indicadores de avaliação seriam essenciais para o funcionamento do novo projeto. Assim, conseguiu seu primeiro parceiro.

O apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) não demorou a surgir. E, durante muito tempo, foi uma marca fortemente associada à organização. Apesar de ainda contar com a Igreja, à qual presta contas, a doutora Zilda faz questão de afirmar que a Pastoral possui estatuto próprio e autonomia financeira. Hoje a organização constitui motivo de orgulho para o clero.

Mas nem sempre foi assim. No início, havia dúvidas sobre a real viabilidade do projeto idealizado pela pediatra. Segundo ela própria, os primeiros oito anos foram marcados por muitos obstáculos, mas não o suficiente para resultarem em desânimo. “Já naquela época eu sabia que precisava mostrar resultados para que a Igreja acreditasse no projeto a ponto de transformá-lo em um programa”, lembra.

Mesmo diante do descrédito das duas classes clericais, ela não vacilou sequer um minuto. “Tinha certeza de que estava no rumo certo. Não dava mais para esperar que o governo colocasse água encanada para todo mundo. Levaria muito tempo para evitar a morte de crianças por causa de doenças preveníveis”, afirma.

No início de sua carreira, a doutora Zilda trabalhou como pediatra no Hospital de Crianças Cezar Pernetta, em Curitiba, onde afirma ter aprendido as primeiras noções básicas de administração. “Tive a chance de conhecer de perto a problemática da saúde e verificar quantas doenças levam as pessoas ao hospital por falta de prevenção e primeiros socorros”, conta.

Quando foi convidada para ser diretora dos postos de saúde Clube de Mães, no entanto, é que ela aprofundou seus conhecimentos em gestão. Lá ela tinha que lidar com os médicos, os funcionários, os insumos, o dinheiro e a administração em geral. Aprendeu tudo sobre o funcionamento de um hospital. E tomou gosto pela atividade de gestão, tendo implantado procedimentos que resultaram em economia de recursos e melhoria da qualidade do atendimento.

Deixou o cargo de diretora apenas 13 anos depois, em 1978, quando o marido morreu e ela precisou cuidar sozinha de seus cinco filhos. Antes de criar a Pastoral da Criança, ela foi ainda diretora de saúde materno-infantil do Estado do Paraná, pelo qual organizou a primeira campanha de vacinação pública. E ocupou o mesmo cargo no governo federal, no último ano da gestão do presidente Itamar Franco.

“Apesar de serem tantos, ainda são poucos”

De todo o trabalho que realiza à frente da Pastoral da Criança, o que mais a emociona ainda hoje é participar do processo de educação das mulheres envolvidas com a organização. “Quando educamos e animamos as mulheres para terem esperança, elas reúnem uma força muito grande, na família e na comunidade. E o processo da transformação social vai acontecendo”, confessa.

Observando o entusiasmo com que se refere á organização que ajudou a criar, e mais do que isso, a alegria que demonstra ao relembrar estórias de uma bonita história de 23 anos de solidariedade, fica difícil imaginá-la longe da Pastoral da Criança. Aposentadoria é palavra fora do seu dicionário. ” Conhece uma mãe normal que abandona seu filho? Claro que não. Vou acompanhar a Pastoral da Criança até morrer”, orgulha-se.

Apesar de deixar a coordenação nacional, a doutora Zilda quer aproveitar a sua boa saúde aos 72 anos para conhecer os trabalhos internacionais da organização, ver de perto os resultados nas comunidades brasileiras e também participar mais da Pastoral da Pessoa Idosa, um braço recente da entidade que utiliza a mesma metodologia original para cuidar da terceira idade.

“Sinto-me feliz e realizada, como cristã e profissional. Afinal, não é fácil uma pessoa acompanhar durante tantos anos uma obra que fundou e que continua indo tão bem”, comemora.

Tão difícil quanto imaginar a doutora Zilda fora do posto de coordenação da Pastoral é pensar em uma substituta para ela. O nome para herdar tamanha responsabilidade ainda não foi escolhido. Os postulantes sequer são conhecidos.

No entanto, a titular do cargo há 23 anos não parece muito preocupada com a sucessão. Diz confiar na CNBB à qual caberá organizar uma lista tríplice. O processo – explica – consistirá basicamente em uma análise de perfil, que privilegiará quem construiu a sua carreira na Pastoral, e atributos como inteligência, competência e transparência.

Além disso, quem quer que seja escolhido, deverá estar preparado para enfrentar hoje a anemia e mais adiante, a obesidade infantis. Seja homem ou mulher, a pessoa responsável pela coordenação nacional deverá ter a energia e a disposição necessárias para ampliar ainda mais a rede de solidariedade que hoje atinge 22% das crianças pobres do Brasil. “Apesar de serem tantos, ainda são poucos”, sentencia.

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